Em pronunciamento, Dilma se diz 'injustiçada' com aprovação do processo de impeachment

Em primeira fala após a admissibilidade do impedimento, a presidente diz que está sendo aplicado a ela o pior dos crimes, que é o de condenar inocentes

Marcelo Ernesto
- Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR

A presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que se sente “injustiçada” e indignada” com a aceitação da admissibilidade do impeachment dela, aprovado nesse domingo pela Câmara dos Deputados por 367 votos favoráveis. Segundo Dilma, os atos chamados de “pedaladas fiscais” foram feitos com base em “cadeia de medidas de adotados por outros presidentes''. A petista afirma que, diferentemente do que foi feito com os outros, contra ela o tratamento foi diferenciado. “Eu assisti ao longo da noite de ontem todas as intervenções e não vi uma discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente da República no Brasil, como a Constituição assim o prevê”, afirmou.

Na votação, realizada nesse domingo, 367 parlamentares votaram a favor do pedido de afastamento da petista do governo, 137 foram contra, sete se absteram e houve ainda duas ausências. No total, 513 deputados votaram.

A presidente voltou a dizer que a Constituição estipula que é necessário haver crime de responsabilidade para que um presidente seja afastado. Ela frisou que os atos assinados por ela não foram praticados para enriquecimento próprio. "Saio com a consciência tranquila de que os atos que pratiquei, não fiz baseado na ilegalidade", reforçou.


Ainda segundo a presidente, outro fato que a deixa indignada é que ela não teve a tranquilidade para governar. De acordo com Dilma, a oposição agiu com a máxima de que as falhas do governo seriam boas para o governo. “Contra mim praticaram a sistemática, ou tática, como preferirem, do quanto pior melhor. Pior para o governo, melhor para a oposição”, destacou. Dilma lembrou que vários projetos foram apresentados para aumentar os gastos do governo e os que pretendiam algum tipo de contingenciamento sofriam resistência para dificultar.

Dilma destacou que o processo aprovado contra ela na Câmara trata-se de golpe contra a democracia e que, assim como fez na juventude, quando lutou contra a ditadura e chegou a ser presa e torturada, não vai desistir. “Enfrentei a ditadura por convicção e hoje faço o mesmo. Um golpe de estado que não é igual ao da minha juventude, mas da minha maturidade(...) Vivemos tempos muito difíceis. O mundo e a história nos observam. Tenho ânimo, força e coragem suficiente para enfrentar essa injustiça”, declarou.

Emocionada, mas sem chorar, Dilma disse que a retirada de seu mandato sem ter sido condenada faz com que ela tenha sentimento de tristeza.“De certa forma, eu estou tendo meus sonhos torturados, meu direito torturado, mas sei que a democracia é o lado certo”, revelou.

Sobre a nova fase, que se inicia com o tramite no Senado, a presidente disse que vai se defender e que a luta está apenas no começo. “Não começou o fim, como alguns dizem, nós estamos no inicio da luta.
Essa luta será muito longa e demorada. Não é por mim e pelos 54 milhões de voto que recebi. É uma luta de todos os brasileiros e uma luta pela democracia”, afirmou.


Temer


Sobre o vice-presidente, Michel Temer, Dilma não escondeu o descontentamento. Segundo a presidente, o peemedebista “conspirou abertamente” contra ela. “Em nenhuma democracia uma pessoa como essa seria respeitada”, afirmou e emendou: "Nenhum governo será legítimo - que o povo pode reconhecer como produto da sua democracia - sem ser pelo voto secreto, direto numa eleição previamente convocada." Ainda segundo ela, a presença do vice à frente do Planalto não trará a segurança que muitos acreditam que ele possa assegurar. "Sem democracia não há, nem haverá, crescimento econômico, nem a capacidade de criar empregos", disse. .