"Não há golpe, de maneira alguma, ocorrendo aqui no Brasil", afirmou Temer, em entrevista publicada pelo Financial Times (FT). "Vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) disseram que o possível impeachment da presidente da República não representaria um golpe. É um processo constitucional", acrescentou. Para o Wall Street Journal, o peemedebista ressaltou ainda que "cada etapa do impeachment está em conformidade com a Constituição", disse. "Como isso seria um golpe?", questionou.
De acordo com o peemedebista, Dilma deveria se defender no Senado, em vez de criar problemas para o Brasil ao fazer falsas declarações fora do País.
Nesta quinta-feira, 21, Temer assumiu interinamente a Presidência da República com o embarque de Dilma para os Estados Unidos, onde vai assinar o Acordo de Paris sobre o clima, na sede da ONU. Além de "denunciar o golpe em curso" na ONU, Diulma deve conceder pelo menos duas entrevistas à mídia estrangeira em Nova York.
A petista aproveitou entrevista a jornalistas estrangeiros, no começo da semana, para criticar o processo de impeachment contra ela, cuja admissibilidade foi aprovada na Câmara no dia 17 e agora tramita no Senado. "Estou sendo vítima de um processo baseado em uma flagrante injustiça e fraude jurídica e política e, ao mesmo tempo, de um golpe. O Brasil tem um veio golpista adormecido", afirmou. Sem mencionar diretamente Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma afirmou que existem "dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada".
O processo de impeachment de Dilma tem ganhado espaço nas publicações internacionais, seja em editoriais ou reportagens. Nesta quinta-feira, a capa da nova edição da revista The Economist voltou a estampar a imagem do Cristo Redentor. Depois de simbolizar a decolagem e, mais recentemente, a derrocada do Brasil, a estátua agora aparece pedindo socorro. Em editorial, a revista diz que a presidente Dilma Rousseff tem responsabilidade sobre o fracasso econômico, mas que os que trabalham para tirá-la do cargo "são, em muitos aspectos, piores" e cita Eduardo Cunha como exemplo. "No curto prazo, o impeachment não vai resolver isso". Por isso, a revista defende novas eleições gerais.
Depois da ofensiva do PT para classificar o processo como golpe, Temer se reuniu com a cúpula do PMDB em São Paulo. Na quarta-feira, 20, o agora presidente exercício se encontrou com o ex-ministros Moreira Franco, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Eliseu Padilha (PMDB-RS), além do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o economista Delfim Netto.
Temer confirmou já estar em conversas com pessoas que podem vir a participar do governo no caso da confirmação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao Wall Street Journal, ele declarou que tem nomes "na cabeça", mas que os revelaria apenas no momento adequado.
O advogado José Yunes, conselheiro e amigo do peemedebista há mais 40 anos, contou nesta quarta que será assessor especial da Presidência caso o processo de impeachment passe pelo Senado e o vice presidente assuma o mandato.