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Estado de Minas

Velhos atores voltam à cena política e vivem papéis invertidos no impeachment

Cassado em 1992, Fernando Collor de Mello hoje é um dos "julgadores" de Dilma Rousseff, assim como o ex-cara-pintada Lindberg Farias e Renan Calheiros, agora com postura serena


postado em 24/04/2016 06:00 / atualizado em 24/04/2016 07:41

(foto: Montagem/AFP Photo/Andressa Anholete/Evaristo Sá/Jefferson Rudy/ Agencia Senado )
(foto: Montagem/AFP Photo/Andressa Anholete/Evaristo Sá/Jefferson Rudy/ Agencia Senado )

As mexidas nas peças do xadrez da política são mesmo imprevisíveis e, agora, no agonizante governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que enfrenta um processo de impeachment, nomes de peso também no impedimento do então presidente Fernando Collor de Melo (PTC-AL), hoje senador, voltam à cena. Além de Collor, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) – figura central para a cassação do conterrâneo de Alagoas e hoje presidente do Senado – e Lindbergh Farias (PT-RJ) – um dos líderes do movimento de rua “caras-pintadas”, que exigiu a saída de Collor, têm papéis de destaque na análise do pedido de afastamento da petista. Além disso, os três se encontraram nas investigações da Operação Lava-Jato e estão denunciados por recebimento de propina do caixa da Petrobras.


Fato é que alguns deles vivem, neste segundo processo de cassação de um presidente na história do país, papéis invertidos. Fernando Collor é quem foi de um extremo ao outro. Antes alvo do processo de impeachment por movimentação de caixa 2 na campanha a presidente sob a batuta do polêmico tesoureiro Paulo César Farias, hoje passa a julgador de Dilma, que responde por crime de responsabilidade fiscal em razão das pedalas fiscais – prática do Tesouro Nacional de atrasar de forma proposital o repasse de dinheiro para bancos, para cumprir compromissos do governo.

Aliado de Dilma, Collor admitiu, depois da aprovação do impedimento da petista pela Câmara dos Deputados no último domingo, estar desconfortável em ter que participar do processo. Sem revelar se votará a favor ou contra o governo que apoiou até agora, Collor defendeu a necessidade de “serenidade” e aproveitou os 50 minutos em que ocupou a tribuna do plenário do Senado na segunda-feira para apresentar sugestões à administração do país.

“Considero imprudente de minha parte antecipar, neste momento, uma posição frente ao processo de impeachment em curso. Qualquer que seja minha palavra, celeumas podem ser criadas, e essa não é minha intenção. Desejo tão somente, no plano institucional e no exercício do mandato de senador, colaborar para que o Brasil encontre soluções para sair de todas as crises por que passa”, afirmou. Cassado pelo Senado em 1992, mesmo depois de ter entregue a sua carta de renúncia, e condenado a ficar fora da vida política por oito anos, Fernando Collor, em 2014, conseguiu sua redenção ao ser absolvido do crime de peculato (desvio de dinheiro público), falsidade ideológica e corrupção passiva por falta de provas.

A absolvição veio tarde, apesar de ser referente às mesmas acusações que resultaram na retirada de sua faixa de presidente. Depois de 10 anos afastado da política, retornou em 2006, se elegeu senador, apesar da mais curta campanha para a Casa, 28 dias. “Tenho plena convicção de que, em meu governo, o Brasil não retrocedeu em nenhum setor, em nenhuma avaliação relevante. Apesar da abrupta interrupção do meu mandato, creio: o legado foi positivo”, avaliou.

No palanque Assim como Collor, Lindbergh Farias também foi de um extremo ao outro nas últimas duas décadas: de ferrenho defensor do impeachment do alagoano a não menos empenhado defensor do mandato da presidente Dilma Rousseff. Aos 22 anos, Lindbergh – que era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) – promoveu uma verdadeira caravana pelo país para convocar, especialmente os jovens, a lutarem pela saída da Collor. Em 1989, o alagoano venceu a eleição disputando com Luiz Inácio Lula da Silva, candidato dos olhos do então estudante, que admite ter resistido a aderir ao movimento dos “caras-pintadas”. Ele ficou de fora de pelo menos três passeatas até se jogar de corpo e alma na defesa do impeachment de Collor.

Hoje, Lindbergh, assim como Fernando Collor, tem sido um defensor da manutenção do mandato de Dilma e está entre aqueles que classificam a cassação da petista como “golpe das elites”. Vale tudo para fazer a defesa de Dilma, que ocupa praticamente toda a temática do senador nas redes sociais. Não admite sequer discutir a possibilidade de impeachment, apesar de a chegada do processo ao Senado tomar formas cada vez mais definidas de cassação. “Quero chamar a atenção do povo brasileiro, em especial dos mais pobres, dos trabalhadores, para entenderem qual a causa de todo esse movimento. Não tenho dúvidas em afirmar que esse movimento tem como objetivo claro a retirada de direitos conquistados no último período”, afirmou em plenário no dia 14. E se Collor terminou derrotado, à época, o líder estudantil viu a sua carreira política ascender sem qualquer empecilho: da Une, foi eleito deputado por dois mandatos, prefeito de Nova Iguaçu, na Região Metropolitana do Rio, até chegar à prestigiada cadeira do Senado.

Protagonista Desde o impeachment de Collor, quem nunca perdeu seu papel de protagonista foi o senador Renan Calheiros, que agora conduz na Casa o processo de cassação da presidente Dilma Rousseff. Apesar disso, o Renan de hoje é mais sereno e se mantém em cima do muro. Apesar de não demonstrar a fúria de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, em retirar o mais rápido possível a petista da cadeira de presidente, Renan tem preferido o silêncio. Nem sim nem não. Uma postura completamente oposta da assumida por ele quando era deputado federal e bradava que PC Farias comandava um esquema de governo paralelo na Era Collor e que existia “um alto comando” da corrupção no Planalto.

Renan também já protagonizou alguns embates com Dilma Rousseff, mas mantém o mistério. Em relação a Fernando Collor, não houve recuo. De aliados, quando assumiu o cargo de assessor do conterrâneo na campanha política para a Presidência em 1989, eles se transforam em inimigos depois das denúncias contra o então presidente. À época, Renan se ressentiu da falta de apoio de Collor, quando foi acusado de fraude eleitoral. E não perdoou. Deu o troco, assim que ele se viu envolto no turbilhão das acusações que lhe retiraram o mandato de presidente. O senador, hoje no PMDB, até mesmo prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou as acusações contra Collor.

Hoje, quando se fala do impedimento do alagoano, Renan não esconde o desconforto: “Estava em Brasília, não me lembro de nada. É um dia que quero apagar da minha memória”. Já com Dilma, não tem se furtado em desempenhar sua função. Na sexta-feira, voltou a surpreender: depois de pedir serenidade para avaliar o impeachment no Senado, decidiu acatar sugestão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) –  oposição ferrenha ao governo depois de ser derrotado pela petista na eleição – de antecipar para amanhã a escolha dos membros da comissão especial que analisará o impedimento. Inicialmente, seria na terça-feira.

 

 

 


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