Londres, 26 - Se o Senado abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o eventual governo Michel Temer deverá desfrutar de um período de lua de mel com a maioria do Congresso e o apoio do setor privado. O otimismo seria ainda mais intenso se Henrique Meirelles for confirmado para o Ministério da Fazenda, apostam os analistas da consultoria IHS. Mas se o novo governo não avançar com a prometida e impopular agenda de reformas, a tranquilidade pode acabar rapidamente, dizem os analistas.
"Se Dilma Rousseff realmente for deposta, Michel Temer vai desfrutar de um período de lua de mel em suas primeiras semanas no cargo, já que ele tende a desfrutar de maioria no Congresso e apoio do setor empresarial, especialmente se a escolha para o Ministério de Fazenda for o do muito respeitado pelos mercados Henrique Meirelles", cita análise sobre a situação brasileira enviada pelos analistas em Londres aos clientes nesta terça-feira, 26.
Apesar da previsão otimista para o curto prazo de eventual novo governo, a consultoria nota que o novo governo pode ter dificuldades no Legislativo. "É provável que esse período acabe se a agenda pró-negócios de Temer não avançar no Congresso e não conseguir melhorar de forma rápida e significativa o ambiente de negócios", citam os analistas em relatório. "O apoio do PSDB seria vital, mas o partido está dividido sobre a possibilidade de se juntar a um potencial governo Temer." A consultoria justifica a dúvida dos tucanos "particularmente porque um governo do PMDB bem sucedido poderia prejudicar as chances do PSDB na eleição de 2018".
Mesmo se eventual novo governo conseguir apoio do Congresso, a consultoria IHS diz que o caminho não será fácil. "É provável que as medidas de austeridade sejam dolorosas, especialmente se elas envolverem a perda de empregos e cortes em programas sociais", cita o relatório. "Isso pode aumentar a oposição liderada pelo PT no Congresso, o que aumentaria a possibilidade de uma paralisia política."
Diante de um quadro de paralisia, a consultoria não descarta que a agenda de reformas só avance efetivamente após as eleições de 2018. "É possível que a formulação de políticas eficazes possa ser totalmente restaurada apenas após serem legitimadas por eleições e um novo governo, provavelmente em janeiro de 2019."