Justiça esvazia Câmara de Governador Valadares

Dos 21 vereadores da cidade, só oito estão no exercício do cargo. Os outros 13 foram afastados, suspeitos de corrupção

Luiz Ribeiro
Investigações apontam que vereadores recebiam propina para aprovar projetos que beneficiavam o esquema - Foto: Tracy Bonilla/Conexão 33

Cinco vereadores de Governador Valadares, entre eles o presidente da Câmara, Adauto Carteiro (PROS), foram afastados dos seus cargos pela Justiça Federal nessa quarta-feira (27), em atendimento à solicitação da Polícia Federal. Eles são suspeitos de receber propina para aprovar projetos de interesse de integrantes de um esquema fraudulento criado na prefeitura e no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) da cidade e de ter desviado verbas federais liberadas para reparar danos provocados pela enchente na cidade no final de 2013. Oito vereadores já tinham sido afastados em 11 de abril, quando o esquema foi desmontado na Operação Mar de Lama, da Polícia Federal. Agora, são 13 vereadores afastados, mais da metade dos 21 componentes do Legislativo local.

Em dezembro de 2013, Governador Valadares foi castigada por fortes chuvas e a enchente no Rio Doce arrasou bairros inteiros. Com isso, foi decretado estado de emergência no município, visando captar recursos no Ministério da Integração Nacional para realizar obras e atenuar os efeitos da tragédia. Conforme as investigações da Polícia Federal, a “organização criminosa se aproveitou da situação para fraudar procedimentos de concorrência pública”. A PF informou que as licitações fraudulentas envolveram contratos que chegam a R$ 1,5 bilhão. Esse montante foi desmentido pela Prefeitura de Governador Valadares, que negou as irregularidades e informou que, entre as licitações realizadas, a maior é do aterro sanitário do município, no total de R$ 1,483 bilhão, mas ainda “não foi liberado nenhum centavo” desse valor.

No dia 11 de abril, na primeira fase da “Operação Mar de Lama”, foram presas temporiariamente  oito pessoas, entre empresários e servidores públicos acusados de envolvimento.

Na ocasião, houve o afastamento de oito vereadores por suspeita de recebimento de pagamentos do esquema.

Nessa quarta-feira (27), a Polícia Federal informou que materiais apreendidos na primeira fase da operação revelam “indícios” de que, além dos oito anteriormente afastados, mais cinco vereadores “recebiam propinas da organização investigada para praticar atos de ofício contrários ao interesse público”. Ainda de acordo com a investigação, foi encontrada uma espécie de “contabilidade de propinas recebidas e pagas pela organização criminosa”. A reportagem tentou falar com o advogado de defesa dos vereadores, mas não conseguiu contato.

Cadeiras vazias Até nessa quarta-feira (27), das oito vagas abertas na Câmara Municipal de Governador Valadares com o afastamento dos vereadores em 11 de abril, apenas uma foi preenchida: após conseguir liminar favorável, a suplente Rosemary Mafra (PCdoB) tomou posse na última terça-feira, na vaga de Cesinha Alvarenga (PRB). Adauto Carteiro (afastado nessa quarta-feira) não explicou os motivos de não ter feito a convocação dos suplentes para as vagas de todos os oito vereadores afastados na primeira fase da Mar de Lama.

Com o afastamento de Adauto Carteiro, assumiu a presidência da Câmara Pedro Eustáquio Viana, o Pedro da Utilizar (PSD). Nessa quarta-feira (27), a reportagem entrou em contato com a assessoria da Câmara para saber como ficará a convocação dos suplentes e se a Casa poderá se reunir tendo a maioria dos vereadores eleitos afastada. A informação é de que a questão ainda estava sendo analisada.

Segunda fase da Operação Mar de Lama

Vereadores de Governador Valadares afastados  nessa quarta-feira (27)


Adauto Pereira da Silva, o Adauto Carteiro (PROS) – Presidente da Câmara
Marcos Alves da Silva, o Chiquinho (PSDB)
Isá Batista de Souza, o Cabo Isá (PMN)
Leonardo Silva Gloria, o Doutor Leonardo Gloria (PSD)
Jose Iderlan Ferreira Sudario (PPS)

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