Em sua fala, Reale Jr. disse que as operações de crédito feitas por Dilma foram "indevidas". "Ela maquiou artificiosamente esses débitos, fazendo de conta que não existiam, para se gerar junto à população e aos agentes econômicos a ideia de que havia superávit primário". O jurista prosseguiu: "Não venha dizer que se agiu por necessidade de atender programas sociais, por necessidade. Necessidade só existe quando não há outro caminho, e para reduzir os gastos públicos existem vários."
Convidado da comissão especial do impeachment ao lado da professora e também jurista Janaina Paschoal, Reale disse que as manobras fiscais geram "desassossego, receio e medo" na população, que já sofre com desemprego e com o fechamento das empresas. "Quanto custará ao povo o sacrifício da quebra do equilíbrio fiscal?", perguntou aos senadores.
Reale ainda comparou o momento atual com o da ocasião do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, hoje senador (PTC-AL). "Aqui o direito de defesa tem sido muito ampliado", disse. "Esses fatos são trazidos ao conhecimento de vocês no sentido de eliminar esse descaso profundo com a coisa pública".
O jurista argumentou ainda que a presidente Dilma cometeu crime de responsabilidade porque centralizava em si todas as decisões da República. "Sua personalidade centralizadora fazia com que ela tomasse sempre para si as responsabilidades. A presidente era considerada efetivamente a ministra da Fazenda. Qual o nome do ministro da Fazenda? Dilma. Qual o nome do ministro dos Transportes? Dilma. Estava tudo com ela", afirmou Reale Jr.
Ele defendeu, desta forma, que não é possível argumentar que exista falta de dolo ou qualquer dificuldade de direcionamento da responsabilidade do crime fiscal. "Atos dessa responsabilidade são sempre atribuição do chefe de executivo. Essa é a jurisprudência em casos já analisados, que são de prefeitos. Se atribui ao chefe do executivo essa responsabilidade", argumentou.
Reale também disse ainda que, em palestra, o próprio advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, já defendeu que a responsabilidade de crimes fiscais é do chefe do executivo.
Ao finalizar seu discurso, o jurista afirmou que apresentou os argumentos necessários para mostrar que o pedido de impeachment não era um pedido vazio, mas com base em um valor fundamental da República brasileira, que é a responsabilidade fiscal na administração pública.
Reale Jr. foi aplaudido, mas governistas criticaram seu discurso por ser "muito político e não se ater à questão do crime"..