Para a área econômica, uma das mais críticas diante da atual situação brasileira, Temer aposta em uma dobradinha entre o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, como ministro da Fazenda, e o economista-chefe do Unibanco, Ilan Goldfajn, como presidente do próprio BC. Apesar de tucano, Meirelles dirigiu o BC nos oito anos de governo Lula, tendo assumido o cargo em situação de dificuldades financeiras. Já Goldfajn, apresentado a Meirelles recentemente, foi diretor de política monetária do BC na gestão de Arminio Fraga, presidente da instituição no governo Fernando Henrique Cardoso. Temer é próximo também do presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal.
O nome do senador tucano José Serra também chegou a ser falado para a Fazenda, mas há resistências dentro do próprio PSDB. Uma ala teme que ele se fortaleça para uma nova candidatura à Presidência da República, sendo que já há dois cotados na legenda, o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves. Serra, porém deve ter lugar certo no governo Temer. A expectativa é de que ele fique na Educação e Cultura.
Outro que deve voltar à Esplanada é o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD), e para a mesma pasta. Ele se demitiu do Ministério das Cidades em 15 de abril, depois de comandá-lo desde o final de 2014. Aliado de Dilma nesse período, o fundador do PSD rompeu com a petista em meio ao processo de impeachment e orientou o partido a votar a favor do afastamento da presidente. É o ministério com um dos maiores orçamentos e penetração nas prefeituras. Por isso, é um dos mais cobiçados pelos partidos.
Para a Casa Civil, Temer quer colocar o senador Eliseu Padilha (PMDB-RS), que foi ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique e da Aviação Civil na gestão de Dilma Rousseff. Padilha entregou a carta de demissão a Dilma em dezembro, também em meio à tramitação do pedido de impeachment da petista. Da mesma forma, voltará a ocupar um ministério Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que foi o titular da Integração Nacional a convite do ex-presidente Lula. Responsável pela resolução que acabou aprovada, determinando o rompimento do PMDB com o governo Dilma, ele deve ser ministro da Secretaria de Governo.
Para a Secretaria Especial de Investimentos, ligada à Presidência, o cotado é o ex-ministro Moreira Franco. Ele foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos de Dilma entre 2011 e 2013. Depois ocupou a pasta da Aviação Civil, na qual ficou até 2015. Outro ex-ministro que deve voltar à pasta que ocupou anteriormente é o mineiro Roberto Brant, um dos responsáveis pela elaboração do documento “Uma ponte para o futuro”, que contém as propostas de Temer. Ele deve reassumir o Ministério da Previdência, que comandou no governo Fernando Henrique. O peemedebista Henrique Eduardo Alves, que foi ministro do Turismo de Dilma, também pode ser ministro da mesma área de Temer.
Justiça é escolha ‘difícil’
Após naufragar a indicação do advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira para o Ministério da Justiça, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem dito a seus auxiliares mais próximos que considera a escolha para a pasta “mais difícil e delicada” que deverá fazer para a formação do seu eventual governo. Ele busca um nome capaz de evitar suspeitas de que poderá haver qualquer interferência na Operação Lava-Jato.
Nesse caso, o primeiro passo é buscar uma boa relação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Indicado e reconduzido a pedido da presidente Dilma Rousseff, Janot tem relação apenas “formal e institucional” com Temer. Para auxiliares do vice, “isso ajuda mais do que atrapalha”, já que políticos citados nas investigações não poderão cobrar dele qualquer gestão ou ação nem a favor nem contra Janot. Segundo o núcleo duro de Temer, o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União José Eduardo Cardozo errou ao deixar transparecer sua proximidade com o procurador-geral da República. Por causa disso, Cardozo sempre foi criticado pela oposição, pelo governo e pelo PT.
No Supremo Tribunal Federal (STF), Temer precisa reconstruir sua relação se o Senado confirmar a decisão da Câmara de dar continuidade ao processo de impeachment e afastar Dilma do cargo. Apesar de os ministros da Corte terem aprovado o rito do impeachment, parte do colegiado ainda tem dúvida sobre a capacidade de o vice formar um governo estável capaz de tirar o país da crise.
No começo deste ano, Mariz foi um dos signatários da chamada Carta de Repúdio a Abusos da Lava-Jato. Falando como se já tivesse sido nomeado, ele chegou a afirmar que a legislação sobre delação premiada deveria sofrer alterações. O advogado deixou de ser uma opção para o Ministério da Justiça tão logo as declarações vieram a público.
Quem é quem
Confira os nomes mais cotados e quais partidos estão de olho nos ministérios do governo Temer
n Casa Civil
» Eliseu Padilha, ministro dos Transportes no governo FHC e da Aviação Civil do governo Dilma
n Fazenda
» Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula
n Banco Central
» Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e diretor de política monetária do BC no governo FHC
n Planejamento
» Romero Jucá, senador, líder do governo Lula no Senado e ministro da Previdência do petista
n Educação e Cultura
» José Serra, ex-governador de São Paulo, ex-prefeito da capital paulista e ministro da Saúde no governo FHC
n Secretaria de Governo
» Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional no governo Lula
n Secretaria Especial para Investimentos (ligado à Presidência)
» Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, ligada ao PMDB, ex-governador do Rio de Janeiro e ex-ministro da Aviação Civil e de Assuntos Estratégicos no governo Dilma
n Saúde
» Em tese será do PP
n Transportes e Portos
» A pasta, com a fusão de dois ministérios, será destinada ao PR.
n Cidades
» Deve ficar com Gilberto Kassab (PSD), ex-ministro das Cidades no governo Dilma
n Minas e Energia
» José Carlos Aleluia, deputado federal do DEM, é um dos cotados
n Desenvolvimento, Indústria e Comércio
» Pode fundir com Planejamento. PTB quer mantê-lo
n Agricultura
» Hoje é do PMDB, com Kátia Abreu,mas PP está de olho
n Previdência
» Roberto Brant, ministro da Previdência no governo FHC
n Trabalho
» Deve ficar com o Solidariedade (SD). Um dos nomes é o do deputado federal Paulinho da Força
n Esporte e Turismo
» Henrique Eduardo Alves (PMDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-ministro do Turismo no governo Dilma.