Primeiro escalão de eventual governo Temer aposta na experiência

Entre os cotados para assumir o primeiro escalão em um eventual governo de Michel Temer estão nomes que já passaram pela Esplanada ou postos-chave de administrações anteriores

Juliana Cipriani
- Foto: EVARISTO SA
Com a possibilidade cada vez mais concreta de assumir a cadeira da presidente Dilma Rousseff (PT), caso o Senado Federal confirme o afastamento temporário da petista por até 180 dias no dia 11 de maio, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) dá mostras de que, em meio a uma das maiores crises econômicas e políticas vividas pelo Brasil, vai se escorar na experiência de nomes que já passaram pela Esplanada dos Ministérios. Entre os que estão sendo procurados ou cotados para assumir papéis importantes em uma eventual gestão peemedebista estão ex-ministros e dirigentes de postos-chave nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e até da sua companheira de chapa Dilma Rousseff.


Para a área econômica, uma das mais críticas diante da atual situação brasileira, Temer aposta em uma dobradinha entre o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, como ministro da Fazenda, e o economista-chefe do Unibanco, Ilan Goldfajn, como presidente do próprio BC. Apesar de tucano, Meirelles dirigiu o BC nos oito anos de governo Lula, tendo assumido o cargo em situação de dificuldades financeiras. Já Goldfajn, apresentado a Meirelles recentemente, foi diretor de política monetária do BC na gestão de Arminio Fraga, presidente da instituição no governo Fernando Henrique Cardoso. Temer é próximo também do presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal.

O nome do senador tucano José Serra também chegou a ser falado para a Fazenda, mas há resistências dentro do próprio PSDB. Uma ala teme que ele se fortaleça para uma nova candidatura à Presidência da República, sendo que já há dois cotados na legenda, o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves. Serra, porém deve ter lugar certo no governo Temer. A expectativa é de que ele fique na Educação e Cultura.

O tucano também foi ministro de FHC, ocupando a pasta da Saúde.

Outro que deve voltar à Esplanada é o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD), e para a mesma pasta. Ele se demitiu do Ministério das Cidades em 15 de abril, depois de comandá-lo desde o final de 2014. Aliado de Dilma nesse período, o fundador do PSD rompeu com a petista em meio ao processo de impeachment e orientou o partido a votar a favor do afastamento da presidente. É o ministério com um dos maiores orçamentos e penetração nas prefeituras. Por isso, é um dos mais cobiçados pelos partidos.

Para a Casa Civil, Temer quer colocar o senador Eliseu Padilha (PMDB-RS), que foi ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique e da Aviação Civil na gestão de Dilma Rousseff. Padilha entregou a carta de demissão a Dilma em dezembro, também em meio à tramitação do pedido de impeachment da petista. Da mesma forma, voltará a ocupar um ministério Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que foi o titular da Integração Nacional a convite do ex-presidente Lula. Responsável pela resolução que acabou aprovada, determinando o rompimento do PMDB com o governo Dilma, ele deve ser ministro da Secretaria de Governo.

Para a Secretaria Especial de Investimentos, ligada à Presidência, o cotado é o ex-ministro Moreira Franco. Ele foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos de Dilma entre 2011 e 2013. Depois ocupou a pasta da Aviação Civil, na qual ficou até 2015. Outro ex-ministro que deve voltar à pasta que ocupou anteriormente é o mineiro Roberto Brant, um dos responsáveis pela elaboração do documento “Uma ponte para o futuro”, que contém as propostas de Temer. Ele deve reassumir o Ministério da Previdência, que comandou no governo Fernando Henrique. O peemedebista Henrique Eduardo Alves, que foi ministro do Turismo de Dilma, também pode ser ministro da mesma área de Temer.
Outro do PMDB que pode assumir uma vaga é Romero Jucá, que foi ministro da Previdência de Lula e deixou o cargo em 2005 por suspeita de corrupção. Agora, é cotado para o Planejamento.

Justiça é escolha ‘difícil’

Após naufragar a indicação do advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira para o Ministério da Justiça, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem dito a seus auxiliares mais próximos que considera a escolha para a pasta “mais difícil e delicada” que deverá fazer para a formação do seu eventual governo. Ele busca um nome capaz de evitar suspeitas de que poderá haver qualquer interferência na Operação Lava-Jato.

Nesse caso, o primeiro passo é buscar uma boa relação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Indicado e reconduzido a pedido da presidente Dilma Rousseff, Janot tem relação apenas “formal e institucional” com Temer. Para auxiliares do vice, “isso ajuda mais do que atrapalha”, já que políticos citados nas investigações não poderão cobrar dele qualquer gestão ou ação nem a favor nem contra Janot. Segundo o núcleo duro de Temer, o ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União José Eduardo Cardozo errou ao deixar transparecer sua proximidade com o procurador-geral da República. Por causa disso, Cardozo sempre foi criticado pela oposição, pelo governo e pelo PT.

No Supremo Tribunal Federal (STF), Temer precisa reconstruir sua relação se o Senado confirmar a decisão da Câmara de dar continuidade ao processo de impeachment e afastar Dilma do cargo. Apesar de os ministros da Corte terem aprovado o rito do impeachment, parte do colegiado ainda tem dúvida sobre a capacidade de o vice formar um governo estável capaz de tirar o país da crise.

No começo deste ano, Mariz foi um dos signatários da chamada Carta de Repúdio a Abusos da Lava-Jato. Falando como se já tivesse sido nomeado, ele chegou a afirmar que a legislação sobre delação premiada deveria sofrer alterações. O advogado deixou de ser uma opção para o Ministério da Justiça tão logo as declarações vieram a público.

Quem é quem

Confira os nomes mais cotados e quais partidos estão de olho nos ministérios do governo Temer

n Casa Civil
» Eliseu Padilha, ministro dos Transportes no governo FHC e da Aviação Civil do governo Dilma

n Fazenda
» Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula

n Banco Central
» Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e diretor de política monetária do BC no governo FHC

n Planejamento
» Romero Jucá, senador, líder do governo Lula no Senado e ministro da Previdência do petista

n Educação e Cultura
» José Serra, ex-governador de São Paulo, ex-prefeito da capital paulista e ministro da Saúde          no governo FHC

n Secretaria de Governo
» Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional no governo Lula

n Secretaria Especial para Investimentos (ligado à Presidência)
» Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, ligada ao PMDB, ex-governador do Rio de Janeiro e ex-ministro da Aviação Civil e de Assuntos Estratégicos no governo Dilma

n Saúde
» Em tese será do PP

n Transportes e Portos
» A pasta, com a fusão de dois ministérios, será destinada ao PR.
Pode ficar com Maurício Quintella Lessa, deputado federal

n Cidades
» Deve ficar com Gilberto Kassab (PSD), ex-ministro das Cidades no governo Dilma

n Minas e Energia
» José Carlos Aleluia, deputado federal do DEM, é um dos cotados

n Desenvolvimento, Indústria e Comércio
» Pode fundir com Planejamento. PTB quer mantê-lo

n Agricultura
» Hoje é do PMDB, com Kátia Abreu,mas PP está de olho

n Previdência
» Roberto Brant, ministro da Previdência no governo FHC

n Trabalho
» Deve ficar com o Solidariedade (SD). Um dos nomes é o do deputado federal Paulinho da Força

n Esporte e Turismo
» Henrique Eduardo Alves (PMDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-ministro do Turismo no governo Dilma

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