O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedidos para investigar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Marco Maia (PT-RS) e o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União. A medida foi tomada com base na delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), preso em novembro de 2015 por tramar contra a Operação Lava-Jato. Em fevereiro deste ano, o ex-líder do governo no Senado fez delação e foi solto. Também são alvo do pedido os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ministro da Comunicação, Edinho Silva.
O delator admitiu ter "segurado a barra" para que não viesse à tona a movimentação financeira das empresas de Marcos Valério no Banco Rural que "atingiriam em cheio" o atual presidente do PSDB e seus aliados, como o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP). Segundo Delcídio o tema foi tratado na sede do governo mineiro, por volta de 2005 e 2006, quando Aécio governava o Estado e ainda lhe teria oferecido o avião do governo de Minas para ir ao Rio, o que foi aceito pelo senador.
Delcídio Amaral afirmou, também em relação a Aécio, que "sem dúvida" o presidente nacional do PSDB recebeu propina em um esquema de corrupção na estatal de energia Furnas que, segundo o delator, era semelhante ao da Petrobrás, envolvendo inclusive as mesmas empreiteiras.
O ex-líder do governo tem experiência no setor elétrico, conhece o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, apontado como o responsável pelo esquema de corrupção, e disse ter ouvido do próprio ex-presidente Lula, em uma viagem em 2005, que Aécio o teria procurado pedindo que Toledo continuasse na estatal.
Em sua delação, Amaral chamou Cunha de "menino de recados" do banqueiro André Esteves em assuntos de interesse do Banco BTG, "especialmente no que tange a emendas às Medidas Provisórias que tramitam no Congresso". Entre as tratativas de Esteves com Eduardo Cunha, noticiadas à época, estaria a possibilidade de inclusão de mecanismos para que bancos falidos utilizassem os Fundos de Compensação de Variações Salariais (FCVS) para quitar dívidas com a União.
Já Edinho Silva foi acusado por Delcídio Amaral de ter "esquentado" doações provenientes da indústria farmacêutica com notas frias e orientado o senador a fazer o mesmo para saldar R$ 1 milhão de dívida de sua campanha. Na oportunidade, Amaral disse acreditar que "a mesma situação ocorreu com outros candidatos que podem ter se utilizado de laboratórios farmacêuticos para os mesmos fins ilegais similares".
Já Renan Calheiros foi acusado de receber propina de contratos da hidrelétrica de Belo Monte.
Em sua delação, Delcídio afirmou que Vital do Rêgo e Marco Maia, respectivamente presidente e relator da CPI Mista da Petrobras realizada em 2014, teriam tentado extorquir empreiteiras envolvidas na Lava Jato para não implicá-las na CPI.
"Fui relator de uma CPMI em 2014, onde pedi o indiciamento daqueles que me acusam, o que foi aprovado pela comissão. Foram 53 indiciamentos e mais o pedido de investigação de 20 empresas ao Cade, pela prática de crime de Cartel", relembra Maia em nota. "Utilizarei de todas as medidas legais para que a verdade seja estabelecida e para que os possíveis desgastes a minha imagem de parlamentar sejam reparados na sua integralidade", complementa.
Confira a íntegra da nota de Aécio Neves
O senador Aécio Neves considera absolutamente natural e necessário que as investigações sejam feitas, pois elas irão demonstrar, como já ocorreu outras vezes, a correção da sua conduta. Quando uma delação é homologada pelo Supremo Tribunal Federal, como ocorreu com a delação do senador Delcídio Amaral, é natural que seja feita a devida investigação sobre as declarações dadas.
Por isso, na época, o senador defendeu publicamente que fossem abertas investigações sobre as citações feitas ao seu nome. Como o próprio senador Delcídio declarou recentemente, as citações que fez ao nome do senador Aécio foram todas por ouvir dizer, não existindo nenhuma prova ou indício de qualquer irregularidade que tivesse sido cometida por ele.
Trata-se de temas antigos, que já foram objetos de investigações anteriores, quando foram arquivados, ou de temas que não guardam nenhuma relação com o senador. O senador Aécio Neves reitera o seu apoio à operação Lava Jato, página decisiva da história do país, e tem convicção de que as investigações deixarão clara a falsidade das citações feitas.