Brasília – O vice-presidente Michel Temer enfrenta sérias dificuldades para atender todos os interesses envolvidos na composição do futuro governo, caso a presidente Dilma seja afastada do cargo. Irritado, ele proibiu o vazamento do nome de seus ministros, para evitar especulações e intrigas. “Ele está com medo de que, ao assumir, não tenha mais nenhuma surpresa para anunciar”, ironizou um peemedebista do Senado. Hoje, o vice-presidente se encontra com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que apresentará o conjunto de propostas que a legenda pretende ver atendidas na gestão do peemedebista. O partido condiciona o apoio à discussão sobre implantação do parlamentarismo.
Em relação aos tucanos, o equilíbrio também é tênue. Serra pretende ser candidato ao Planalto em 2018 e deve ser confirmado ministro das Relações Exteriores. Outro presidenciável é Geraldo Alckmin que, em tese, estaria contemplado com Alexandre de Moraes, secretário de Segurança de São Paulo, na Advocacia-Geral da União (AGU). Restaria atender a um nome indicado por Aécio, que poderia ser o do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) para um Ministério dos Direitos Humanos.
Já o cargo de ministro do Esporte no dia da abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016, em 5 de agosto, no Maracanã, virou disputa política entre o PMDB fluminense e o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves. O evento internacional, no entanto, é apenas um exemplo da disputa acirrada pelas cadeiras ainda disponíveis na Esplanada em um eventual governo. Além da Olimpíada, as pastas de Transportes, Saúde e Educação fazem parte da lista das mais cobiçadas por aliados do peemedebista. Embora deva ser indicado para retornar ao Ministério do Turismo, Henrique Alves, um dos nomes fortes de Temer, sempre defendeu a fusão da pasta com o Esporte — de olho no comando da Olimpíada. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-governador do estado Sérgio Cabral defendem a indicação de Marco Antônio Cabral, secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro.
O PMDB do Rio também se sente no direito de indicar o ministro, pois, é deles o comando da sede dos jogos olímpicos. Deste que a Autoridade Pública Olímpica foi criada, houve embates entre Paes e Cabral — que na época era governador do estado — com o governo federal, por causa de divergências quanto à legislação ou ao protagonismo na organização. Curiosamente, o primeiro presidente da APO indicado por Dilma Rousseff foi Henrique Meirelles, nome encaminhado como ministro da Fazenda de Temer. Desgastado com os eternos embates com Paes e Cabral, Meirelles renunciou à presidência da Autoridade Olímpica e retomou suas atividades na iniciativa privada. O problema na disputa travada pelo PMDB fluminense, é que Henrique Alves, assim como Moreira, também é ligado diretamente ao futuro presidente.
Nessa segunda-feira (2), emissários de Temer ofereceram o comando do Ministério da Ciência e Tecnologia ao PRB, em troca da Agricultura, pasta que o partido cobiçava inicialmente. A oferta teria agradado a cúpula do PRB. A legenda também sinalizou ao vice-presidente que aceitaria o comando do Ministério da Integração Nacional em um eventual governo do peemedebista.Essa foi a terceira oferta de ministério feito por Temer ao PRB em troca da Agricultura. Na semana passada, emissários do vice haviam oferecido a Previdência Social e a Secretaria de Portos ao partido.
Já em relação à Secretaria dos Portos, a cúpula da sigla afirmou que só aceitaria se ganhasse outro ministério. Interlocutores de Temer, contudo, disseram não ser possível dar duas pastas ao PRB e ofereceram Ciência e Tecnologia. Após receber sinalização positiva da direção do PRB sobre o ministério, emissários do vice-presidente ficaram de dar uma resposta definitiva ao partido até hoje. Já o Ministério Agricultura deve ficar com o PP. A sigla deverá referendar um nome técnico para comandar a Saúde. O médio paulista Raul Cutait é um dos mais cotados.
PSDB impõe condições
Previsto para ser entregue a Temer nesta terça-feira, o documento elaborado pela cúpula do PSDB estabelece como um dos temas centrais o início das discussões para a implantação do sistema parlamentarista a partir de 2018. O ano coincide com a eleição para a Presidência da República. Chamado internamente de “carta de princípios”, o documento foi fechado em reunião da cúpula do PSDB realizada em Brasília nessa segunda-feira (2) e tem 15 itens. O item que aborda o novo regime consta do trecho que trata sobre a necessidade de realizar uma reforma política.
O tucano deve entregar a carta pessoalmente a Temer, após reunião com integrantes da Executiva do partido. No documento, a cúpula do PSDB também defende a “expressa” redução do número de ministérios e cargos comissionados. O tema foi inserido como um dos itens prioritários num momento em que ainda não há, dentro da legenda, consenso sobre como participar do novo governo Temer.
A possibilidade de o senador José Serra (PSDB-SP) vir a ocupar um ministério na nova gestão deverá ser considerada indicação “pessoal” de Temer e não do partido. Além de Serra, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), também é cotado para assumir um posto no novo governo. Na parte que trata do cenário econômico, o documento do PSDB defende que um dos caminhos para sair da atual crise é a ampliação das concessões e privatizações.
MEIRELLES Temer deu carta branca para o seu futuro ministro da Fazenda no eventual governo montar a equipe econômica. Os dois se reuniram nessa segunda-feira (2) pela terceira vez nos últimos 10 dias, no Palácio do Jaburu, em Brasília. Nessas reuniões frequentes que tem tido com Meirelles, Temer costuma fazer avaliações sobre o atual cenário econômico do país e definir estratégias para que o Brasil retome o crescimento. Segundo assessores do vice, ele deu autonomia a Meirelles para indicar o presidente do Banco Central e os comandos dos bancos oficiais (Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal). Meirelles apresentou quatro nomes para o BC: Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional, Ilan Goldfajn, Afonso Bevilaqua e Mário Mesquita. Os três últimos são ex-diretores do BC. Conforme esses mesmos interlocutores, o vice definiu também que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) ficará à frente do Ministério do Planejamento..