Numa semana dramática para a presidente Dilma Rousseff, cujo poder se esvai com a tinta da caneta com que assina seu “pacote de bondades”, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu sinais de que pretende intensificar as investigações da Operação Lava-Jato, doa a quem doer. Com isso, contingenciou ainda mais a montagem do futuro governo do vice Michel Temer. Janot solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para abrir quatro novos inquéritos para investigar políticos citados na delação premiada do ex-líder do governo Dilma no Senado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS).
O procurador quer investigar o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG); o presidente da Câmara (PMDB-RJ), Eduardo Cunha; o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva (PT-SP), que atuou como tesoureiro da campanha presidencial do PT em 2014; o ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS); o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo; e o presidente interino do PMDB, senador Romero Jucá (RR), cotado para ocupar o Ministério do Planejamento. Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo, autorizar ou não a investigação.
Os próximos pedidos de Janot poderão incluir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente Dilma Rousseff. Os quatro maiores partidos do país estão na alça de mira da Lava-Jato em razão da delação premiada de Delcídio, o que é uma complicação a mais para a montagem do governo de Temer. Será muito ruim anunciar um ministro num dia e ter de demiti-lo no outro, por causa de uma denúncia do Ministério Público Federal.
Temer trabalha sem muita discrição em relação à montagem do novo governo. Embora não dê declarações, os nomes vazam imediatamente, numa espécie de estratégia para testar a receptividade dos mesmos. É mais ou menos como acender uma vela para Deus, no caso a opinião pública, e outra para o diabo, os aliados no Congresso.
Certo mesmo, até agora, estão os nomes de Henrique Meirelles, na Fazenda; Eliseu Padilha, na Casa Civil; e Geddel Vieira Lima, na Secretaria de Governo. Romero Jucá, escalado para o Planejamento, pode subir no telhado por causa da Lava-Jato. Moreira Franco está cotado para cuidar das concessões, mas o ex-governador fluminense é um coringa na manga de Temer. A presença de José Serra no Ministério das Relações Exteriores deve ser confirmada no encontro do vice com os governadores do PSDB e Aécio Neves. O deputado Mendonça Filho, ex-governador de Pernambuco, é o nome cotado para a Educação. Roberto Freire, para o Ministério da Cultura. O ex-prefeito Gilberto Kassab pleiteia o Ministério das Cidades.
Raspa do tacho
Meirelles na Fazenda blinda a nova política econômica; pura ironia, era o nome de preferência do Lula e Dilma Rousseff não aceitou. Mas a montagem da equipe econômica não é tranquila, os políticos estão de olho nos bancos oficiais, principalmente o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A equação política na Câmara está praticamente resolvida, com Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima em posições estratégicas no Palácio do Planalto. No Senado, apesar de Jucá, Temer precisará do apoio do líder da bancada do PMDB, Eunício Oliveira (CE), e do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Dois ministérios importantes estão indefinidos: Justiça, para o qual está cotado o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso; e Defesa, onde cogita-se o nome do deputado Raul Jungmann (PPS-PE), indicado pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim.
Apesar do jus esperneandis de Dilma, tudo caminha para o seu afastamento no começo da próxima semana. Temer não tem muito tempo para montar uma equipe de governo.