Perícias criminais, análises no material apreendido na 20ª fase - batizada de Operação Corrosão -, e o recebimento da delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), ex-líder do governo, são elementos que servirão para apontamento de que a organização criminosa, já condenada em contratos de obras de refinarias no Brasil, também seja imputada por crimes praticados no exterior, como a aquisição de Pasadena, nos Texas, em 2006.
Ex-executivo da Petrobras e membro do PT na época dos fatos, Delcídio admitiu em sua delação premiada que a compra da refinaria envolveu corrupção.
Delcídio diz que solicitou o dinheiro para os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró (Internacional) e Renato Duque (Serviços). E que a operação contou ainda com a participação do operador de propinas Fernando "Baiano" Soares e de um amigo.
Corrosão
A primeira investigação da Lava-Jato, em Curitiba, no caso Pasadena aconteceu em novembro de 2015, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Corrosão, em referência à ferrugem encontrada na refinaria na época da compra e em alusão à deterioração das relações de negócios da Petrobras.
Além da prisão do ex-gerente-executivo da área internacional da Petrobras Roberto Gonçalves, integram o rol de investigados Rafael Mauro Comino (ex-gerente de Inteligência de Mercado da área Internacional), Luis Carlos Moreira da Silva (ex-gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Internacional) e Agosthilde Mônaco de Carvalho, que foi homem de confiança de Cerveró na diretoria.
O engenheiro também fez delação premiada e disse à força-tarefa do Ministério Público Federal que o ex-diretor lhe disse que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, poderia "honrar compromissos políticos" do então presidente da estatal José Sérgio Gabrielli.
"De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp (Renovação do Parque de Refino) e ao interesse da área internacional em adquirir a Refinaria", declarou Mônaco. Segundo o delator, Cerveró afirmou que, antes mesmo do fechamento do contrato de compra de Pasadena, "o presidente Gabrielli já havia indicado a Construtora Norberto Odebrecht para realizar o Revamp para 200.000 barris/dia".
"O diretor Nestor, em tom de desabafo, disse ao depoente que o presidente Gabrielli estava muito interessado em resolver o assunto e dar a obra do Revamp para a Odebrecht", relatou.
Na ocasião, a Odebrecht informou, via assessoria de imprensa, que foi procurada em 2006 pela Petrobras "sobre interesse em ser uma das empresas responsáveis pela modernização da planta localizada nos EUA". A empresa diz ter manifestado "interesse em prestar o serviço preferencialmente em consórcio com outra empresa do setor, como é de praxe e autorizado pela Petrobras". O Revamp não foi efetivado nem a contratação de empresas para o serviço.
Procurado pela reportagem, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli não respondeu aos e-mails.