"Se eu renunciar, se esconde para debaixo do tapete esse impeachment sem base legal e, portanto, esse golpe. É confortável para os golpistas que a vítima desapareça", disse a presidente, em discurso durante a cerimônia do Plano Safra da Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto.
A plateia, formada por movimentos sociais do campo, aplaudia a todo instante a fala da presidente e gritava palavras de ordem em defesa do governo e da petista.
"É confortável que a injustiça não seja visível. Pois eu quero dizer para vocês: a injustiça vai continuar visível", disse Dilma ao enfatizar que não vai renunciar. "Nós estamos fazendo história, porque a democracia é, sem sombra de dúvida, o lado certo da história."
Representantes dos movimentos sociais também discursaram contra o impeachment. Eles fizeram críticas diretas ao vice-presidente Michel Temer, que vai assumir a Presidência caso o Senado aprove a admissibilidade do processo de impeachment na próxima semana. As críticas foram dirigidas também ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deu início à tramitação do afastamento de Dilma na Câmara.
Além de Amaro, também discursaram representantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (Fetraf).
'Assalto'
Como nos discursos mais recentes, Dilma voltou a usar expressões fortes contra o processo de impeachment. "Vivemos tempos muito estranhos, difíceis, politicamente conturbados. A democracia brasileira sofre um assalto. Querem encurtar o caminho para a democracia", acusou a presidente.
Ela classificou as acusações do processo de impeachment como mentiras e falou sobre os decretos de crédito suplementar, publicações que são parte das acusações que pesam contra ela. "É uma mentira contra a experiência histórica do País. Se comparar com os últimos presidentes, a situação é estranha. Eu fiz seis decretos. Fernando Henrique Cardozo fez 101", afirmou.
Dilma observou que os decretos que aparecem na acusação mostrariam que ela estava cumprindo a meta fiscal. "Esses decretos não foram feitos por demanda minha. Um deles é do TSE, que falava que eles fizeram concurso e apareceu mais gente do que o esperado."
Corte
Segundo a presidente, o governo já tinha feito o maior corte orçamentário que o País viveu e ainda assim "eles queriam que colocasse mais dinheiro ainda na meta". "Por isso, quando votam (os deputados), votam por todas as razões, menos pelos decretos. Eles não queriam votar contra o dinheiro dos hospitais", argumentou.
Dilma ainda se defendeu dizendo que não participou de nenhum dos atos pelos quais foi acusada e agora pode perder o mandato.
O Estado de S. Paulo..