Um grupo de parlamentares próximos a Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – que foi afastado da presidência da Câmara e de seu mandato – elabora estratégias para tirar Waldir Maranhão (PP-MA), 1º vice do cargo e, desse modo, eleger um deputado alinhado ao peemedebista para a presidência da Câmara. Segundo aliados, o peemedebista disse que “fará o possível” para encurtar a passagem de Maranhão na presidência.
Apesar de não querer ver o vice-presidente em seu lugar, Cunha está consciente de sua fragilidade política. Ele sabe que não voltará mais ao cargo e que, se for aprovado um pedido de cassação de seu mandato no Conselho de Ética, o plenário tende a referendá-lo. Pela interpretação do regimento interno feita pela Secretaria-Geral da Mesa Diretora, só seria possível eleger um presidente da Casa em caso de morte, renúncia ou perda de mandato, o que não é o caso de Cunha. Assim, Maranhão tem direito de permanecer presidindo interinamente a Câmara enquanto Cunha estiver afastado porque não foi declarada a vacância do cargo.
Algumas teses de afastamento de Maranhão estão em discussão, entre elas uma consulta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para que declare o cargo de presidente da Câmara vago. Os defensores dessa estratégia dizem que se Cunha está afastado do mandato e não tem previsão de retorno, portando seria necessária uma nova eleição.
Disposição Apesar disso, em encontro com alguns deputados na manhã de ontem, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, voltou a demonstrar disposição em seguir no cargo. Diante do número significativo de parlamentares, principalmente da oposição, que dizem que o deputado não tem condições de presidir a Casa por sua inabilidade política, Maranhão mandou um recado: “Vocês vão se surpreender comigo”.
Desacostumado em conduzir o plenário da Casa, o deputado pediu que fosse organizada uma “pauta leve” em sua semana de estreia no comando da Casa. Os colegas riram e informaram ao parlamentar que não há matérias “leves” em vista. Maranhão recebeu os deputados fora da Câmara. Anteontem, logo que chegou em seu gabinete, Maranhão recebeu o apoio de alguns parlamentares governistas, falou em pacificar a Câmara após o afastamento de Eduardo Cunha e propôs uma “agenda positiva” de votações para a próxima semana.
De acordo com a vice-líder do governo, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Maranhão autorizou que se prepare uma agenda de projetos para colocar em pauta em homenagem à semana que sucederá ao Dia das Mães.
Uvas Apesar da mudança no status de Eduardo Cunha, a rotina na residência oficial, em Brasília, continua a habitual. No fim da manhã de ontem, chegaram à casa de Cunha quatro caixas de frutas e verduras, entre as quais melancia, uva, abóbora, abobrinha, tomate e alface. A entrega, que custou cerca de R$ 500, foi feita por funcionários de uma das lojas da Ceasa, distribuidora de frutas e verduras da capital, e paga através de boleto bancário.
O pedido dos alimentos de hoje foi feito por volta das 8h30. A encomenda foi um reforço ao pedido feito na tarde de anteontem e, hoje, os entregadores devem trazer, entre outras coisas, cocos e mais cachos de uva para o casal Cunha. O deputado afastado segue em Brasília e ainda não há previsão de viajar para o Rio.
As entregas à residência oficial da presidência da Câmara, no Lago Sul, área nobre de Brasília, costumam ser diárias. Na segunda-feira é a compra “pesada”, ao custo de cerca de R$ 2 mil. Nos outros dias, a média de preços varia entre R$ 200 e R$ 600. O custo semanal com esses pedidos, considerando o menor valor de cada dia, fica em cerca de R$ 3,2 mil.