Com o desafio de tirar o Brasil de uma crise econômica e política que se arrasta desde o ano passado, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) deve encontrar um Congresso Nacional bem mais amigável do que teve a presidente Dilma Rousseff (PT) em um ano e quatro meses de segundo mandato. Caso se confirme o afastamento da petista e ele vire titular do Palácio do Planalto, Temer contará com pelo menos 367 votos na Câmara dos Deputados, uma maioria folgada para aprovar os eventuais projetos que enviar. A princípio, como oposição, Temer terá o PT, PCdoB, Psol, Rede e PDT, que somam, já excluídos os seis infiéis pedetistas, 90 cadeiras.
A expectativa de aliados é que Michel Temer tenha um céu de brigadeiro. Já os opositores dizem que isso vai depender dos planos que ele pretende submeter aos parlamentares. E mais: se as medidas terão apoio da população. O peemedebista tem um programa de ações consideradas amargas por alguns setores da sociedade. Ele deve começar com o controle dos gastos públicos e a revisão dos programas sociais, mas também deve mexer na área previdenciária, controle de inflação e juros.
Para o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), Temer terá uma base extraordinária. “Pode aumentar ou diminuir um pouco, mas precisamos acima de 350 votos para aprovar emendas.
BURACO FISCAL Segundo o peemedebista, Temer já deve mandar projetos nas primeiras 72 horas em que assumir. “Serão principalmente na área fiscal, porque o Brasil está em estado de pré-insolvência, mas também na trabalhista e previdenciária. Deve acabar com as desonerações fiscais e rever os benefícios vinculados ao salário mínimo, senão o governo não vai ter dinheiro para pagar a folha. O buraco fiscal é de R$ 300 bilhões nos próximos dois anos”, disse. Questionado sobre a impopularidade das medidas, Perondi rebateu: “Se não fizer as ações o dinheiro nem vai chegar no bolso furado dos brasileiros, vai evaporar”, afirmou.
O deputado Roberto Freire (PPS-PE) afirma que a tendência é que a sociedade apoie o enfrentamento da crise, pois o momento de dificuldade contribuiu para o apoio ao impeachment da presidente Dilma. “Posso dizer que esse movimento vai ocorrer, até porque já ocorreu no impeachment do ex-presidente Collor. A sociedade quer, em um primeiro momento, dar todas as condições ao governo para enfrentar a crise”, afirmou. O mesmo ocorre para dois terços dos deputados que votaram pelo impedimento. “Até porque, se não derem apoio, por que votaram no impeachment?”, disse. Freire, porém, aconselha o futuro presidente a ter sensibilidade e tentar encontrar alternativas que não passem pelo aumento de impostos.
REAÇÃO POPULAR Entre os que permaneceram na base da presidente Dilma, os futuros opositores de Temer, o discurso está afinado.
Além de esperar uma reação da população, Jô Moraes afirma que a base de Temer não está tão certa como se pensa. “Ele terá que atender pedidos de cargos e aos que foram buscar mais espaços de poder. Não são só os que se opuseram ao impeachment que serão oposição”, afirma. Para o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), é difícil aceitar um governo que não passou pelo crivo das urnas. “O que enviarem, em tese, não reconhecemos, porque é um governo que não tem legitimidade, já que houve um golpe parlamentar”, afirmou.
CASSAÇÃO Autor do mandado de segurança que pediu para apensar o processo de impeachment do vice Michel Temer ao da presidente Dilma, Reginaldo Lopes afirma que a briga para tirar o peemedebista do poder, caso ele assuma, vai ser grande. “Para aqueles que acham que pedalada fiscal é crime, o Temer também deve ser cassado, pois também assinou créditos. Estamos na luta contra o golpe até quarta-feira e depois disso vamos ao Supremo Tribunal Federal questionar”, afirma.
Lopes, porém, reconhece que Michel Temer pode ter uma boa base para implementar seu governo. “Além dos 367 que votaram pelo golpe ele está fazendo uma ‘xepa’, distribuindo ministérios para pagar a conta da conspiração que fez”, afirma.