Dono de uma biografia controversa, Waldir Maranhão (PP-MA) – primeiro-vice-presidente da Câmara dos Deputados e hoje presidente interino da Casa – cumpriu com o que prometeu na última semana ao anular as sessões nas quais se admitiu o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). “Vocês vão se surpreender comigo”, disse, ao defender sua permanência no comando da Câmara.
Aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – principal articulador do processo contra Dilma –, ele se aproximou do governo três dias antes da votação do impedimento. A moeda de troca foi a garantia de apoio para a disputa de uma vaga para o Senado em 2018, acordo costurado com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB-MA), da base de apoio do governo.
Mudou de lado, agradou petistas, mas enfrenta agora a ira dos partidos de oposição. Nessa segunda-feira (10), pelo menos seis deles – PPS, Solidariedade (SD), PMDB, PSDB, DEM e PSC – subscreveram uma representação junto ao Conselho de Ética da Casa para pedir a cassação do mandato de Maranhão.
Ele assumiu a cadeira de Eduardo Cunha, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo afastamento do peemedebista da presidência da Casa e também a suspensão de seu mandato, em razão de inquérito da Operação Lava-Jato, no qual é acusado do recebimento de propina, fruto de contratos com a Petrobras.
Para tirar Maranhão da cadeira, a alegação é que o presidente interino quebrou o decoro parlamentar ao cometer abuso de autoridade, quando anulou as sessões da Câmara. “A decisão dele foi ilegal e ilegítima, pois confronta a posição de 367 deputados (que votaram a favor do impeachment)”, afirmou Arthur Maia (PPS-BA).
Para o deputado baiano, o ato de Maranhão é “algo muito grave”. “Ele não pode, buscando motivos pessoal e político, tomar uma decisão dessas.” Articulador de uma investigação contra o colega, Maia disse que espera recolher mais assinaturas contra o presidente.
BIGODE A decisão de Waldir Maranhão, que caiu como uma bomba em Brasília, provocou ira, mas também fez com que ele invadisse as redes sociais, retratado especialmente pelo seu marcante bigode, que não esconde o tonalizante para disfarçar os fios brancos. Ele foi ovacionado com o novo emoticon do Facebook, uma florzinha roxa que significa gratidão. Várias fotos dele foram cobertas por elas.
Nessa segunda-feira (10), Maranhão teve flores de um lado, mas também foi surpreendido com a decisão de um grupo de deputados do PP que acionou a Executiva da legenda para pedir sua imediata expulsão. Com isso, o partido deve também pedir o afastamento de Maranhão da presidência da Câmara, já que a vaga de vice é de indicação do PP.
O argumento é que ele já havia contrariado a decisão do partido de fechar a questão a favor do impeachment e, agora, voltou a confrontar o partido: “Ele é um incapaz e vamos ainda hoje pedir a expulsão dele do partido. Tem que saber como foi essa articulação, que é criminosa. Ele não tem nenhuma capacidade mental de um golpe dessa envergadura. Precisa apurar quem mais está envolvido nesse golpe”, afirmou o deputado Júlio Lopes (PP-RJ).
CONFUSO De surpresa em surpresa, Maranhão tem imprimido sua marca. Antes aliado de Cunha, ele surpreendeu ao dizer “não ao impeachment”. “Fechamos questão: vamos defender a nossa presidente, vamos defender o Brasil e salvar realmente o Maranhão. O Maranhão não merece o retrocesso, o nosso governador Flávio Dino tem sido o baluarte contra o impeachment, fundamentado nos princípios constitucionais e políticos”, disse o deputado ao votar.
No entanto, no dia do afastamento de Cunha pela STF, como substituto natural do peemedebista, não gostou do comportamento dos deputados que comemoravam a decisão da Corte e se revezavam ao microfone em discursos inflamados. E encerrou os trabalhos sem qualquer justificativa. A atitude causou revolta e fez com que a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), quarta suplente de secretaria da mesa diretora, assumisse a cadeira vaga. Erundina manteve a fala dos colegas, mas, em retaliação, Maranhão determinou que a TV Câmara interrompesse a transmissão.
VITRINE Mas, com a incômoda lembrança de que, assim como Eduardo Cunha, ele é investigado na Lava-Jato, Waldir Maranhão começou a levar pedradas de todo lado. Seu algoz, assim como o de Cunha, foi o doleiro Alberto Youssef – um dos operadores do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.
O presidente interino da Câmara tem 61 anos, é médico veterinário e está em seu terceiro mandato consecutivo. Se filiou ao PP em 2007, mas, antes, passou pelo PDT, PSB e PTB. No seu primeiro mandato, assumiu o cargo de secretário de Ciência e Tecnologia do seu estado, durante o governo de Roseana Sarney (PMDB), entre maio de 2009 e abril de 2010, o que o obrigou a se licenciar da Câmara. (Com agências).