Senado deve afastar Dilma nesta quarta-feira

Mandato da presidente Dilma vai a julgamento hoje no plenário do Senado, que tende a afastá-la por até 180 dias. Diferentemente do que ocorreu na Câmara, votação será por meio eletrônico

Isabella Souto
Julgada pela prática das chamadas pedaladas fiscais, Dilma Rousseff passeou de bicicleta ontem pela manhã, como faz habitualmente - Foto: Ed Alves/CB/D.A Press

Exatamente 497 dias depois de Dilma Rousseff (PT) assumir o segundo mandato como presidente da República, os 81 senadores decidem, a partir das 9h desta quarta-feira, se afastam temporariamente a petista do Palácio do Planalto. Para o início efetivo do processo, que pode culminar na cassação do mandato, é preciso quórum de 41 senadores e a aprovação do relatório da comissão especial – que aprovou a admissibilidade – por maioria simples. E os governistas já dão como certa a derrota no plenário, com a presença maciça dos parlamentares na votação e pelo menos 50 votos contra a petista. Nessa terça-feira (10) pela manhã, Dilma, que pode perder o cargo em razão de pedaladas fiscais, manteve a prática do passeio de bicicleta nas proximidades do Palácio da Alvorada.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) acredita que a votação no plenário terminará às 22h. Mas há possibilidade de que ela comece apenas na madrugada de amanhã. É que ao longo do dia, cerca de 60 senadores se inscreveram para discursar e encaminhar o voto – o que deve durar em torno de 15 minutos para cada um deles. Mantida essa previsão, somente essa fase teria uma duração de 15 horas. Os líderes partidários também têm direito à palavra de forma diferenciada e representantes da acusação e da defesa vão se manifestar.

Há ainda a previsão de pelo menos dois intervalos: entre as 12h e as 13h e entre as 18h e as 19h, elevando ainda mais o tempo da sessão.

No fim da tarde dessa terça-feira (10), Renan se reuniu com os líderes partidários para tentar um acordo que reduza o tempo dos debates. Até o fechamento desta edição, o encontro ainda não havia se encerrado. A princípio, a votação poderia ser simbólica – assim como ocorreu no processo de impeachment do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL). Mas Renan comunicou na segunda-feira à noite que será feita nominalmente, por meio do painel eletrônico. Além da modalidade ser rápida, evitará os discursos em prol da família, Deus e pelo país, adotados pelos deputados na votação de 17 de abril, quando a Câmara aprovou a admissibilidade do impeachment.

Caso o processo passe pelo crivo dos senadores, o afastamento de Dilma ocorrerá imediatamente após ela receber a notificação de Renan e assinar o documento, o que deverá ocorrer até quinta-feira. Ao mesmo tempo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) recebe a notificação de que assume o Palácio do Planalto. Nesse mesmo dia, Temer deve fazer seu primeiro pronunciamento como presidente, cujo teor que está sendo finalizado com os marqueteiros do PMDB. No domingo ele anuncia a equipe ministerial. Em 1992,  Collor teve o processo de impeachment aprovado num dia e, na manhã do dia seguinte, recebeu a notificação.

O prazo para o afastamento é até 180 dias – período em que o Senado vai conduzir as duas fases para o impeachment da presidente: análise das provas e julgamento. Se esse período não for respeitado, Dilma é reconduzida ao cargo. Com a decisão do plenário, o trabalho da comissão especial começa efetivamente. Há uma dúvida jurídica sobre o prazo para Dilma apresentar sua defesa formal: embora haja a tendência de ser mantido o prazo de 20 dias adotado para Collor em 1992, a Lei 1.079/50 estabelece o período de 10 dias. Dilma pode até ser interrogada pelos senadores – mas não é obrigada a comparecer à reunião.
No impeachment de Collor, em 1992, ele não foi ouvido.

Libelo acusatório

A nova fase do processo é comandada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Cabe à comissão epecial a investigação, análise de provas, realização de diligências, convocação de testemunhas e recebimento dos argumentos da acusação e da defesa. O grupo faz então um segundo parecer em que dirá se houve ou não crime de responsabilidade e se Dilma deve ou não sofrer o impeachment – o chamado juízo de pronúncia. O parecer é votado pela comissão e basta voto da maioria simples. O documento segue para o plenário do Senado e precisa de maioria simples para a aprovação.

Caso o parecer seja aprovado, as partes serão notificadas e os autores da denúncia terão outras 48 horas para apresentar o chamado libelo acusatório, um resumo elaborado pelos juristas que apresentaram a denúncia, O julgamento final é comandado pelo presidente do STF, e por isso, o presidente do Senado pode votar. Para o impeachment, é preciso o voto de 54 dos 81 senadores. Em caso positivo, Dilma é condenada por crime de responsabilidade e perde definitivamente o cargo, além de ficar impedida de disputar eleições durante oito anos. (Com agências)

 

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