Michel Temer está pronto para assumir o Poder

Michel Temer assume a Presidência em meio a mais grave crise política do país, tendo que lidar com os ataques de adversários. Papel de articulador é fundamental para projeto de governo

Alessandra Mello
Temer recebeu aliados e conselheiros durante votação do impeachment no Senado - Foto: Evaristo Sá

Enquanto os senadores analisavam a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer passou o dia dessa quarta-feira (11) no Palácio do Jaburu, onde mora, em Brasília, reunido com aliados e conselheiros políticos. Ele recebeu o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, escolhido por Temer para assumir o Ministério da Fazenda.

Na tarde dessa quarta-feira (11), a mulher de Temer, Marcela Temer, desembarcou em Brasília, acompanhada do filho Michel, e seguiu diretamente para o Palácio do Jaburu. Marcela e o filho moram em São Paulo e não costumam viajar com frequência a Brasília, somente em casos específicos, como a posse de Temer como vice-presidente em 2011 e 2015. É o peemedebista quem se desloca para a capital paulista, onde costuma passar os fins de semana com a família.

Aos 75 anos, o advogado constitucionalista Michel Miguel Elias Temer Lulia assume a Presidência da República no lugar de Dilma Rousseff, de quem foi vice por dois mandatos seguidos, sob aplausos e ataques. Tachado de grande articulador político pelos aliados e de conspirador pelos adversários, Temer (PMDB-SP) só entrou na política aos 43 anos como secretário do governo Franco Montoro, em 1984 e, desde então, sempre se manteve no poder. Até então, dava aulas de direito constitucional na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Sua primeira eleição foi em 1986, quando se elegeu deputado federal pela primeira vez. Desde então, foi deputado por seis mandatos e também presidente da Câmara dos Deputados por três vezes durante o governo Fernando Henrique (PSDB). A partir daí nunca mais deixou o poder.
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, seu partido se aproximou do governo federal e ganhou força. Temer logo assumiu o comando nacional do PMDB, cargo que ocupa há 12 anos, e se aproximou do governo petista. Em 2010, foi alçado à condição de vice na chapa de Dilma e reconduzido ao posto na disputa de 2014.

Até então se manteve fiel, mas aos poucos, com o desgaste e a perda de popularidade de Dilma, foi trocando de lado até passar para a oposição e comandar o afastamento da presidente. Nessa articulação, chegou a adotar algumas jogadas consideradas desastrosas por alguns, mas que ajudaram a selar o fim do governo Dilma, como o áudio com seu discurso de posse e a carta de desabafo enviada a Dilma com reclamações. As duas ações foram classificadas pela assessoria de Temer como obras do acaso ou de vazamentos. Na gravação, Temer assumiu a “pacificação da nação” como seu principal desafio e disse que estava recolhido “há mais de um mês para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente”. Mas foi ele quem tirou boa parte dos votos da base governista na votação da Câmara dos Deputados em 17 de abril, que aprovou o prosseguimento do processo de afastamento de Dilma.

Desde então vem montando seu ministério, que deve abrigar muitas figuras de São Paulo, sua base eleitoral, e também representantes dos partidos que fazem oposição ao governo Dilma, como PSDB e DEM. Nos últimos dias, Temer se recolheu com assessores e aliados no Palácio do Jaburu, onde costurou os nomes que vão compor sua equipe.

SEM CARISMA Embora esteja a um passo de assumir o mais alto cargo da República, Temer não é uma figura com carisma entre eleitores. Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 9 aponta que 58% dos entrevistados apoia o impeachment de Temer. Um total de 28% é contra o afastamento do vice, 9% não souberam e 5% disseram ser indiferentes. A pesquisa também perguntou sobre a renúncia do peemedebista: 60% afirmaram que ele deveria renunciar.

Para além da política, Michel Temer é um homem bem de vida. Na declaração de renda entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2014, ele informou ser dono de um patrimônio de R$ 7,5 milhões. Na vida pessoal, chama atenção a beleza da mulher, a ex-miss Paulínia Marcela Temer, de 32 anos, com quem tem um filho de 6 anos.
O vice-presidente tem mais três filhos do primeiro casamento, com Maria Célia de Toledo. Aliás, sua vida pessoal foi classificada pelo jornal britânico Financial Times, como picante e sua expressão impassível e “ligeiramente gótica”. “Casado três vezes, ele começou a namorar a terceira esposa, Marcela, uma ex-modelo 40 anos mais jovem, quando ela tinha 19 anos. Sua aparência ligeiramente gótica também levou um rival a rotulá-lo como ‘mordomo da casa do terror’”, cita o texto do jornal britânico, cuja reportagem é ilustrada por uma foto de Temer sentado ao lado de uma cadeira vazia. O texto diz ainda que entre as tarefas do novo presidente está a “tarefa de resgatar a maior economia da América Latina de uma profunda recessão e restaurar a fé pública na classe política, que foi devastada pelo escândalo de corrupção na Petrobras”..