Dilma pede "mobilização permanente contra o golpe"

A presidente Dilma foi intimada nesta quinta-feira a deixar o Palácio do Planalto. Antes de deixar o local, ela fez um pronunciamento afirmando que "jamais desistirá de lutar"

Iracema Amaral

Presidente Dilma Rousseff durante pronunciamento no Palácio do Planalto, após se notificado pelo Senado sobre seu afastamento do cargo - Foto: Evaristo Sá


A presidente Dilma Rousseff (PT) pediu na manhã desta quinta-feira, após ser notificada sobre o afastamento do exercício da Presidência da República, para que os "cidadãos e cidadãs mantenham-se mobilizados, unidos e em paz". "A luta pela democracia não tem data para terminar. Ela exige de nós luta constante. A luta contra o golpe é longa. É uma luta que pode ser vencida e nós vamos vencer. Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia em nosso país. A história é feita de luta, a democracia é o lado certo. Jamais desistirei de lutar".

A presidente também disse durante o pronunciamento, que fez no Palácio do Planalto, que está sendo vítima de uma das "maiores brutalidades" que se pode cometer contra alguém, que é a punição sem que se tenha cometido crime algum.
"Injustiça cometida é algo irreparável", lamentou a presidente.

Dilma também mandou um recado para o vice-presidente Michel Temer (PMDB), sem citar o nome do peemedebista, que assumirá a Presidência da República ainda nesta quinta-feira. "O governo que nasce de um golpe será a continuidade da crise que vive o país". Dilma também disse que o destino sempre a reservou "muitos desafios". "Já sofri muitas dores e sinto a maior das dores, a de ser vítima de uma injustiça. Mas não esmoreço, olho para trás e vejo tudo que fizemos e olho para frente e vejo tudo que faremos".

Blazer branco

 

Antes de começar o pronunciamento, Dilma que chegou trajando um blazer branco, aguardou alguns minutos antes de falar. A espera  foi  o tempo para que a  plateia de militantes e aliados do governo se manifestassem com aplausos e gritos de "guerreira da pátria brasileira".


"Fui eleita presidente por 54 milhões de cidadãs e cidadãos. É nesta condição que me dirijo a vocês neste momento da democracia brasileira. O que está em jogo não é só o meu mandato, é o respeito à decisão soberana das urnas, às conquistas dos últimos 13 anos (se referindo aos dois mandatos petistas, dela própria e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva)", disse a presidente.

A presidente disse também que, mais uma vez, ia esclarecer "os fatos e os riscos para o país de um impeachment fraudulento, um verdadeiro golpe". "Não cometi crime de responsabilidade, não tenho contas no exterior, nunca recebi propina, jamais compactuei com a corrupção", reiterou.

De acordo com a presidente, conspiraram contra o governo dela. "Mergulharam o país numa instabilidade permanente. O objetivo foi de impedir que eu governasse para forjar o golpe", reclamou Dilma.

Erros

"Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo julgada injustamente por fazer tudo que a lei me permitiu. Atos idênticos foram praticados por presidentes que me antecederam.
Não eram crime e não são crimes agora", afirmou Dilma.

Despedida


O Palácio do Planalto preparou uma cerimônia no gabinete presidencial, no terceiro andar do prédio, onde Dilma recebeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros, autoridades e personalidades aliadas para assinar a notificação, entregue pelo primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado.

Após o pronunciamento, Dilma saiu do Palácio do Planalto pela porta principal do prédio, no térreo, sem usar a rampa. Ela estava acompanhada de ex-ministros, parlamentares da base aliada e um grupo de mulheres. Movimentos sociais que apoiam os governos petistas a aguardavam.

Fora do Palácio do Planalto, a presidenta afastada fez um discurso, na Praça dos Três Podres, em que afirmou  ser vítima de uma injustiça, a exemplo do tem reiterado nas últimas semanas.  Manifestantes gritaram "fora Temer", interrompendo o discurso da presidente, que reiterou estar sendo vítima de uma injustiça.

Palácio da Alvorada


Após os dois atos,  pronunciamento, Dilma seguiu de carro até o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, a poucos quilômetros do Planalto, onde vai permanecer durante o tempo em que deve ficar afastada. O prazo máximo é de 180 dias,  tempo para que o Senado analise e julgue em definitvo o afastamento ou não da presidente do cargo.

Direitos

Até a decisão definitiva do seu julgamento no Senado, que deverá correr no prazo máximo de 180 dias, Dilma terá direito a permanecer na residência oficial, com segurança pessoal, assistência à saúde, transporte aéreo e terrestre, remuneração e assessores..