“Temos que analisar se é necessário um imposto temporário, com prazo determinado, ou que não haja. Mas a ideia é que essa decisão não seja tomada precipitadamente”, disse. Apesar da fala, ele avalia que o nível tributário do Brasil já é alto e considerou esse um fator negativo para o crescimento econômico. “Não há dúvida de que devemos ter como meta uma diminuição do nível tributário por percentual de produto”, mas acrescentou que a prioridade é a estabilização da dívida pública.
O novo ministro disse que o governo não vai retirar a proposta de recriação da CPMF encaminhada pela equipe econômica anterior.
E, apesar de a conta referente a programas sociais ser menor, Meirelles também sinalizou que haverá mudanças nessas despesas. Ele disse ainda não temer que o ajuste proposto pelo governo culmine em protestos e manifestações que possam minar a capacidade de aprovação dessas ações pelo Congresso Nacional. Segundo ele, o rombo nas contas públicas em 2016 será maior do que o déficit de R$ 96,6 bilhões previsto pela equipe econômica de Dilma Rousseff. Mas ponderou que o quadro atual exige transparência. A primeira medida econômica será implantar um sistema de controle dos gastos que impeça o crescimento real (acima da inflação) das despesas públicas.
O ministro da Fazenda disse estar certo de que a austeridade fiscal a ser proposta pela equipe econômica vai contribuir com o trabalho do Banco Central de levar a inflação para o centro da meta. “Vamos ter uma estabilização da inflação no Brasil”, completou. Questionado se Tombini permanecerá no comando do banco ou se haverá outro nome, Meirelles não descartou a manutenção dele. “Não vou dizer quem é e nem quem não é e se não é o presidente Tombini”, disse.
Meirelles afirmou também que usará a sua experiência no mercado financeiro para escolher os novos executivos que comandarão os bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal. Segundo ele, as nomeações serão técnicas. “Os bancos não são instrumento de política, mas de crédito e poupança. Os bancos públicos estão aqui para financiar o consumo e a produção”, completou.
Henrique Meirelles disse que trabalhará para chegar a um acordo com os governos estaduais sobre as dívidas dos entes com a União.
Palavra de especialista
Tributos em banho-maria
Sílvio Campos Neto,
economista da Tendências Consultoria
“Não houve grandes surpresas nesta primeira fala do novo ministro. Por ora, ele tratou muito mais das diretrizes gerais da política econômica, mas elas vão no caminho certo do que o Brasil precisa fazer para a recuperação de sua economia. O importante é que se trata de mudança significativa na forma de pensar a economia e as necessidades de recuperação das contas públicas, no que vai ajudar também o reforço da agenda das concessões (o presidente em exercício lançou o Programa de Parcerias de Investimento - PPI, para ampliar oportunidades de investimento e emprego). A questão do imposto (Henrique Meirelles cogita a criação de tributo, segundo ele, temporário), acredito que não vá ser colocada como primeira tentativa, tendo em vista a alta carga já paga pelos brasileiros. Acho que vamos ver, inicialmente, medidas de redução de gastos com as desonerações concedidas a alguns setores da economia e o reforço da agenda de concessões na área de infraestrutura, além dos cortes marginais de gastos e, então, contar com alguma reação da economia. Certamente, se não for o suficiente, aí, sim, virá nova tributação para elevar as receitas.”
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