Mesmo afastado da presidência da Câmara dos Deputados e até do cargo de deputado federal por seu envolvimento na Operação Lava-Jato e pelas seguidas manobras para tentar salvar o seu mandato, o principal articulador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) no Legislativo, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), garantiu poder de influência no governo do presidente Michel Temer. O peemedebista emplacou aliados em algumas das principais posições na Casa e até em um alto posto do Executivo. Eles vão ter participação decisiva em áreas sensíveis, como a orçamentária e a articulação para as votações no Congresso. De quebra tem assento na instância que pode livrá-lo do processo de cassação que se arrasta há meses na Casa.
Um dos principais cargos ficou com o deputado federal André Moura (PSC-CE), alçado ao posto de líder do governo com o apoio do Centrão, bloco que congrega 280 deputados. Caberá a ele as articulações para as votações da reforma da Previdência, a possível volta da CPMF e outros projetos que Michel Temer vier a mandar para a Câmara. Moura está entre os principais articuladores a favor de Cunha. Sem integrar o Conselho de Ética ele trabalhou intensamente para barrar o processo por quebra de decoro do presidente afastado da Casa. Foi dele uma questão de ordem que chegou a anular uma decisão do grupo.
Outro nome do estafe de Eduardo Cunha é o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que ficou com a presidência da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Foi ele que, com o apoio de Cunha, comandou a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), principal da Casa, no ano passado. Agora ele terá o poder de indicar o relator e comandar os trâmites da votação do orçamento e revisões de diretrizes nas contas. Um dos projetos, que ele prometeu dar celeridade, é o da revisão da meta fiscal de 2016. O texto autoriza o governo a encerrar o ano com um déficit de R$ 96,65 bilhões.
Já para a CCJ, comissão pela qual passam praticamente todos os projetos e instância recursal dos processos no Conselho de Ética, ficou para Osmar Serraglio (PMDB-PR). Sobre o fato de ser aliado de Cunha, o parlamentar disse, ao ser eleito para o cargo, que não iria tergiversar. O ex-presidente da Câmara vai hoje à Câmara se defender pessoalmente da denúncia de quebra de decoro parlamentar. Ele é acusado de mentir ao Parlamento sobre possuir contas no exterior não declaradas à Receita. O processo mais longo de cassação da história da Casa pode parar nas mãos de Serraglio se os descontentes com o resultado de uma posterior votação em plenário recorrerem.
Outro nome de Cunha, este no governo, é o subsecretário de assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha. O advogado defende Eduardo Cunha em pelo menos sete ações no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele ocupa o cargo que era de Jorge Messias, aquele que em conversa entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula vazada pela Polícia Federal seria o responsável por levar o termo de posse para o petista como ministro.
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