Durante todo o seu discurso, ela fez críticas severas a Temer, chamando o seu governo de provisório. Mais uma vez, ela definiu o processo de impeachment de “golpe” e reforçou que não há nenhuma denúncia ou provas de ilegalidade contra ela. “Provisório porque não só as pessoas não foram submetidas às urnas, como também o projeto deles não foi submetido às urnas”, enfatizou, acrescentando que as medidas que estão sendo tomadas pela equipe de Temer são graves e ameaçam as conquistas das minorias.
A petista citou a extinção do Ministério da Cultura como uma das medidas mais graves já tomadas pelo governo interino e ainda criticou a fala, esta semana, do novo ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), sobre a possibilidade de haver uma revisão no Sistema Único de Saúde (SUS). O ministro voltou atrás no mesmo dia. “Este governo está batendo o recorde dos desmentidos: um dia falam uma coisa, na outra desmentem”, ironizou Dilma, citando outras indecisões da equipe de Temer.
CUNHA
Por último, ela disse que o governo Temer conta com um grande personagem, que é o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Para ela, ele está por trás das decisões de Temer e é o responsável pelas pautas mais conservadoras no Congresso. Sem citar o rombo de R$ 170, 5 bilhões deixado por sua administração, a petista frisou que o governo Temer vai superestimar valores para justificar suas políticas. “Vou lutar e olhar tudo com lupa: “Uma vez me chamaram de faxineira, mas agora serei zeladora. E vou zelar pela democracia”. O deputado federal petista Patrus Ananias esteve no encontro e disse que está começando “o caminho para levar Dilma de volta”.
A presença de Dilma em BH levou manifestantes para as ruas da capital. Eles se concentraram na Praça Afonso Arinos e seguiram em caminhada até o Othon Palace Hotel, onde a presidente afastada participou do congresso de blogueiros.
Petista pode usar avião da FAB
A juíza Ana Paula de Bortoli, da 10ª Vara Federal de Porto Alegre, indeferiu a “tutela de urgência” de uma ação popular que pedia a suspensão, durante o período de afastamento da presidência de Dilma Rousseff, das prerrogativas do cargo relativas ao uso de aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) e também a reparação integral “pelos danos financeiros emergentes deste ato”. Em sua decisão, a juíza argumenta que “demonstrada a probabilidade do direito e não havendo perigo de dano ou risco ao resultado útil ao processo”, a tutela de urgência deveria ser indeferida. Com isso, a ação continua tramitando à espera de julgamento do mérito. A ação popular, com pedido liminar, foi ajuizada por Karina Pichsenmeister Palma. Constam como réus na ação, além de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, o primeiro vice-presidente da Casa, Jorge Viana (PT-AC), responsáveis pela definição dos benefícios da petista após a abertura do impeachment. A ação alega que o país vive “gravíssima crise econômico-fiscal” e que não há agenda pública que justifique o uso de aeronave da FAB.
Opinião do EM
Realidade paralela
Nada mais sintomático do que a decisão da presidente afastada Dilma Rousseff de vir a BH para participar de um encontro de blogueiros e ativistas digitais. A convidada e os participantes, muitos financiados nos últimos anos por dinheiro público, fazem questão de viver em realidade paralela, no qual todos os problemas do país começaram depois que o Congresso decidiu afastar a presidente e ela não tem nenhuma responsabilidade por seus atos – entre eles, as famigeradas pedaladas fiscais, razão do afastamento e uma das causas do estratosférico rombo das contas públicas. Ontem, a equipe econômica do governo Temer divulgou déficit de R$ de 170,5 bilhões. O escapismo é conveniente mecanismo de autodefesa usado pelos que não se sentem responsáveis pelos problemas que ajudaram a criar. Só que a conta, tanto do deslocamento da presidente quanto do patrocínio do encontro, é paga (parcial ou integralmente) pelo cidadão brasileiro. E este foi impelido a conviver com uma única realidade: da corrupção, do desemprego, da inflação. A realidade, nada virtual, do desgoverno.