A confirmação da permanência no cargo do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB), provocou um racha entre os delegados da corporação. Em uma enquete informal feita pelas redes sociais que congregam os profissionais, o atual diretor tem apoio de apenas oito pessoas, contra 239 favoráveis à mudança de comando. Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, alvo de processo de impeachment, a Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) está organizando lista tríplice para apresentar ao ministro e indicar o chefe da PF entre os três mais votados pelos integrantes da corporação nos mesmos moldes da apresentada para a escolha do procurador-geral da República.
A escolha está apenas na fase inicial, quando os interessados apresentam seus nomes para a votação da categoria. Mas a lista já tem gente de peso, como a delegada Érika Marena, que integra a força-tarefa da Operação Lava-Jato, no Paraná. Especialista em combate a crimes financeiros e corrupção, é a única mulher na lista, que traz ainda o delegado Rodrigo Teixeira, subsecretário de Defesa Social de Minas; Marcelos Freitas, chefe da delegacia da PF em Montes Claros (Norte de Minas); Gesival Gomes, que chefiou a delegacia em Santos; Bergson Toledo, que tem apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, também alvo da Lava-Jato; William Nascimento, chefe da delegacia de Divinópolis (MG); e Luiz Carlos Cruz, diretor-regional da ADPF no Rio.
A Secretaria de Defesa Social de Minas tem hoje em sua estrutura três dos atuais candidatos ao comando da Polícia Federal, uma das poucas instituições que têm escapado ilesa da série de crises do Executivo federal. Além disso, tem à frente da pasta o ex-superintendente da PF em Minas, Sérgio Barboza Menezes nome forte para o posto de comando da corporação e que já figurou em listas anteriores de consultas à categoria. Além de Menezes, que ainda nem assumiu o comando da Defesa Social, e seu adjunto, Rodrigo Teixeira, outro peso-pesado é o delegado Rodrigo Morais Fernandes, que tem sob seu comando a assessoria de Integração das Inteligências do Sistema de Defesa Social.
A Polícia Federal é a responsável pela Operação Acrônimo, que tem como alvo o governador de Minas, Fernando Pimentel, e sua mulher, a jornalista Carolina Oliveira. O governador foi indiciado por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por suspeita de recebimento de vantagens indevidas de empresas beneficiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
RACHA O racha na corporação fica por conta também da escolha do momento ideal para a apresentação da lista tríplice que será consolidada pela votação da categoria. Parte dos delegados defende que isso não deveria ser feito de imediato, em razão da confirmação do nome de Daiello. No entanto, a lista pode ser colocada na mesa assim que o processo de escolha seja concluído. A análise é de que a permanência do atual diretor é uma estratégia usada pelo governo interino de Temer em razão da proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que serão realizadas em agosto.
Além disso, dar continuidade à administração de Daiello poderia significar uma sinalização do governo interino de manutenção da Operação Lava-Jato. Em sua fase atual, a investigação tem como alvo principal caciques do PMDB de Temer, como Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados; Renan Calheiros, presidente do Senado; Romero Jucá, ministro do Planejamento; e os senadores Jader Barbalho e Valdir Raupp. Uma das alegações do PT era que, com o governo peemedebista, a força-tarefa seria desmontada, já que até o presidente em exercício já foi citado em delações da Lava-Jato.
A elaboração de uma lista tríplice, entretanto, já encontra resistência dentro da própria corporação. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) disse, por meio de nota, que a pretensão da ADPF tem o propósito de “tumultuar e criar um clima de instabilidade dentro do órgão”. Além disso, a entidade alega que esse tipo de seleção é “um instrumento que existe para escolha dos representantes dos poderes da República, diferentemente da Polícia Federal, que é um departamento que integra a estrutura do Ministério da Justiça”.
“Ademais, ainda que esse procedimento de escolha por meio de lista tríplice pudesse ser feito no Departamento de Polícia Federal, não poderia a seleção ser realizada pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, pois é um ente privado, que não tem representatividade sobre todos os cargos do órgão, atributo este inerente unicamente à Federação Nacional dos Policiais Federais, que é a entidade nacional com legitimidade constitucional para representar todos os cargos da carreira policial federal”, afirma a nota da Fenapef.