Dilma e Cunha continuam se atacando mesmo afastados

Mesmo suspensos dos seus cargos, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha seguem trocando farpas sobre corrupção, desde que viraram inimigos ferrenhos com as discussões sobre impeachment

Juliana Cipriani
- Foto: Arte/Quinho

Inimigos desde que chefiavam dois poderes da República, o Executivo e o Legislativo, Dilma Rousseff (PT) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), agora afastados dos cargos de presidente da República e da Câmara, retomaram publicamente o duelo verbal da conturbada relação. A troca de acusações, desta vez, começou com uma entrevista da petista publicada nesse domingo (29). Logo depois da leitura matinal, o deputado federal do PMDB, que articulou o impeachment de Dilma na Câmara e, em seguida, foi afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal, devolveu as críticas em seu perfil no Twitter. Enquanto Dilma acusou Cunha de mandar no governo Michel Temer (PMDB), o peemedebista a chamou de mentirosa e despreparada.

Na primeira entrevista concedida depois de ser afastada do cargo em razão da admissibilidade do pedido de impeachment pelo Senado, Dilma disse que o governo Temer terá de se ajoelhar diante de Eduardo Cunha para governar. Segundo ela, 55% do Congresso estão sob o controle do peemedebista, uma situação “gravíssima”. “Temer terá de se ajoelhar. O Eduardo Cunha é a pessoa central do governo”, afirmou. Segundo ela, Cunha não só manda, ele é o governo.

“E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha”, disse.

O presidente suspenso da Câmara aproveitou a deixa para alfinetar a petista, dizendo que até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se arrependeu de tê-la indicado para sua sucessão. “Se até o Lula se arrependeu de ter escolhido ela, imaginem aqueles que ela fez de idiota, mentindo na eleição. Para ela, apenas uma frase: Tchau querida”, afirmou. Cunha se referiu à gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em que o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) relata que Lula teria se arrependido da eleição de sua sucessora. De acordo com Cunha, a presidente afastada “mente tanto” que já é possível identificar quando ela faz isso: “basta mover os lábios”, afirmou.

Cunha voltou a criticar a gestão da petista. “Além da arrogância e das mentiras habituais, ela demonstra sua incapacidade e despreparo para governar”, afirmou o parlamentar, para quem as palavras de Dilma mostram “o mal que ela fez” ao país. “O custo da reeleição de Dilma para o povo brasileiro já está em R$ 303 bilhões de déficit público, além de R$ 700 bilhões de juros da dívida. Com o descontrole das contas públicas, aumentam a inflação e  a despesa de juros da dívida pública. A sua gestão foi um desastre”, disse.

Cunha e Dilma já bateram boca publicamente outras vezes. Em 2 de dezembro de 2015, quando o peemedebista autorizou a abertura do processo de impeachment contra ela, Dilma fez questão de comparar seu currículo ao dele, dizendo-se uma pessoa honesta. “Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público, não possuo conta no exterior. (…) Nunca coagi ou tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meus interesses”, afirmou.

EACÂNDALO Dois meses antes, quando veio à tona a investigação do Ministério Público da Suíça sobre contas mantidas pelo presidente suspenso da Câmara, Dilma, que estava em Estocolmo, na Suécia, disse lamentar que o fato fosse relativo a um brasileiro. No dia seguinte, Cunha também afirmou lamentar que seja um governo brasileiro envolvido no maior escândalo de corrupção do mundo.
Mais recentemente, no dia 5 deste mês, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu afastar Eduardo Cunha do mandato, Dilma disparou: “Antes tarde do que nunca”. Poucos dias depois, no dia 12, ele devolveu a mesma frase para comentar o afastamento da adversária política do cargo, aprovado pelo Senado.

Dilma retornou nesse domingo (29) a Brasília, depois de passar o feriado prolongado com a família em Porto Alegre. Ela chegou à capital gaúcha na quinta-feira, mas não teve nenhum compromisso oficial na cidade. O objetivo da viagem foi descansar e ficar ao lado da filha, Paula Araújo, e dos netos Gabriel, de 5 anos, e Guilherme, nascido em janeiro. Dilma também aproveitou para visitar o ex-marido Carlos Araújo, de quem é bastante próxima. Na sexta-feira, ela fez aparição pública ao andar de bicicleta, no início da manhã, pela orla do Rio Guaíba, perto de seu apartamento, na Zona Sul. Acompanhada de seguranças, pedalou por cerca de uma hora.

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