Consenso entre PSDB e PT só acontece no Conselho de Ética da Câmara

Bertha Maakaroun
Há um único espaço da disputa política na Câmara dos Deputados onde tucanos e petistas estão unidos: no Conselho de Ética, onde monopoliza a pauta, desde outubro, a denúncia apresentada pelo PSOL e pela Rede contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara afastado, denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter recebido US$ 5 milhões em propina do esquema investigado pela Operação Lava-Jato.
Cunha teve o nome ligado a contas secretas na Suíça e foi denunciado ao Conselho de Ética por mentir à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, quando negou a existência das contas no exterior. Em meio a manobras e artifícios de todos os tipos para evitar a cassação, o processo já constituiu o mais longo da história do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.


A insólita aliança entre petistas e tucanos para a cassação do presidente afastado, encontra, do outro lado do balcão, uma mistura de parlamentares que rezam o credo e a mesma cartilha, seja por fé em Deus ou fé no apoio eleitoral que receberam, junto a outros tantos 100 deputados, que formam a “bancada de Cunha” na Casa. Nas mãos dos 21 membros que poderão selar o “início do fim” de uma truculenta atuação à frente da Mesa Diretora, há 10votos contrários a Cunha, entre os quais os tucanos Nelson Marchezan Júnior (RS), Betinho Gomes PE) e os petistas Leo de Brito (AC0, Valmir Prascidelli (SP) e Zé Geraldo (PA). A eles se juntam também os democratas Marcos Rogério (RO), e Paulo Azzi (BA), o PSD de Sandro Alex (PR), o PSB do mineiro Júlio Delgado e o presidente da comissão, José Carlos Araújo (PR-BA), que enfrenta pressão e ameaças dos aliados de Cunha.

Numa tentativa de afastar José Carlos Araújo da presidência do colegiado, os aliados de Cunha na Casa já cuidam de cinco representações protocoladas por adversários regionais na corregedoria da Câmara que pedem a sua cassação. Seus adversários o acusam de compra de votos, uso de “laranja” para comprar um imóvel e denegrir a imagem de um empresário investigado, que ele chamou de grileiro. Araújo terá até o próximo dia 7, data da votação do relatório que pede a cassação de Cunha, para se defender.

Com 10 votos do PTB, do PMDB, PSC, SD , PR e PP já garantidos no colegiado a seu favor, tarefa que em alguns momentos custou a “remoção” de parlamentares que se posicionaram pela cassação substituídos por amigos da bancada, o destino de  Cunha nesta comissão está nas mãos da evangélica Tia Eron (PRB-BA). Ligada pela fé em Deus a Eduardo Cunha, foi colocada ali com o propósito de lhe assegurar o mandato, em substituição ao ex-relator do caso, o deputado Fausto Pinato (PP), que renunciou à vaga e ao cargo após migrar do PRB.

“Não sou homem de barganhas e muito menos de pressões”, avisou Pinato ao despedir-se da função, em atuação firme contra Cunha. Aliados do presidente afastado cercam Tia Eron, que, ainda sem se posicionar, vive um drama: gostaria de “fazer história” e “passar o Brasil a limpo”, como a novata anunciou em seu primeiro discurso no colegiado. Mas o que isso significa exatamente é sempre uma questão de perspectiva.

O processo contra Cunha ainda será longo. Qualquer que seja o resultado da votação no Conselho de Ética, tanto o relator quanto Eduardo Cunha têm cinco dias úteis para recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde novos aliados de Cunha já preparam o campo para abortar a cassação, aplicando uma punição mais branda.

 

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