Dez colaboradores asseguram: Renan, Jucá, Sarney e Cunha receberam propinas

Os políticos repudiam as acusações

Eduardo Militão Paulo de Tarso Lyra
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Propinas relatadas por sete colaboradores da Operação Lava-Jato com destino ao quarteto do PMDB que o Ministério Público quer ver na cadeia superam os R$ 200 milhões, de acordo com levantamento do Correio. Os valores, parte deles convertida na cotação do dólar de quarta-feira, não incluem correção monetária. Se tudo o que disseram é verdade, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), é o campeão dos pixulecos, à frente do ex-presidente José Sarney (AP), do deputado Eduardo Cunha (RJ) e do ex-ministro e senador Romero Jucá (RR).

Mas parte dos relatos não menciona cifras dos alegados subornos para os políticos. Foram analisados depoimentos de dez pessoas dentre os mais de 60 acordos de colaboração premiada de leniência: os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), o empreiteiro da UTC Engenharia Ricardo Pessoa, os executivos da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo e Flávio Machado, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, os lobistas Fernando “Baiano” Soares e Júlio Camargo, e o entregador de dinheiro Carlos “Ceará” Souza.

Segundo o relato de sete deles, Renan recebeu R$ 96,7 milhões em propinas. Desse valor, R$ 33 milhões foram diretamente para ele. Uma parcela de mais R$ 63,7 milhões foi compartilhada com outros políticos, mas os colaboradores não explicam qual a parte de cada um.

Eduardo Cunha teria recebido R$ 61,8 milhões, pela narrativa de quatro acusadores. Sarney, R$ 30 milhões, segundo o relato de Sérgio Machado. Sozinho, Romero Jucá seria destinatário de R$ 21,5 milhões e ainda teria compartilhado parte de um repasse de R$ 30 milhões, a ser dividido com outros colegas do partido e do PT.

Os corruptores indicados são a empreiteira UTC Engenheira, a Andrade Gutierrez, o lobista do estaleiro Samsung Júlio Camargo e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual — este nega a acusação de pagar R$ 45 milhões a Eduardo Cunha por uma emenda à Medida Provisória 608.
A empreiteira Serveng é apontada como fonte propinas para Renan, mas Paulo Roberto Costa não informa eventuais valores.

Executivo da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo disse, sem citar nomes, que o PMDB recebeu 0,5% dos contratos do consórcio que lidera na usina de Belo Monte, no Pará. Delcídio do Amaral disse que R$ 30 milhões em subornos foram destinados a Renan, Jucá, Jader Barbalho (PA), Valdir Raupp (RO) e os ex-ministros das Minas Energia Edison Lobão e Silas Rondeau, além da campanha do PT.

Em Angra 3, a negociação começou em 3% para os peemedebistas, de acordo com Flávio Machado, executivo da Andrade, a fim de beneficiar Jucá e Lobão. Outro executivo, Flávio David Barra, contou que o ex-ministro do Planejamento recebeu propina em forma de doações eleitorais. Informação semelhante foi prestada por Ricardo Pessoa. Segundo ele, dos contratos da UCT em Angra, retirou R$ 1 milhão para a campanha do filho de Renan, o governador de Alagoas, Renan Filho, e R$ 1,5 milhão para a campanha de Jucá.

Jucá esquivou-se de comentar o pedido de prisão e as acusações de propina. “Não posso me manifestar sobre algo que não sei”, disse o senador. A assessoria de Renan negou que ele tenha recebido subornos e criticou as acusações, consideradas sem provas por ele. “O senador reafirma que jamais recebeu vantagens de qualquer pessoa e reitera que delações não confirmadas deveriam servir para agravar a pena dos autores e não livrá-los da cadeia”. Por meio de assessoria, Sarney se disse “perplexo, indignado e revoltado” com o pedido de sua prisão. “Jamais agi para obstruir a Justiça. Sempre a prestigiei e fortaleci”. O deputado Eduardo Cunha não prestou esclarecimentos. Na quarta-feira, ele disse que o pedido de prisão contra ele lhe causava “estranheza”..