TCU aponta 23 novas irregularidades nas contas de Dilma

De acordo com técnicos do tribunal, há indícios de que Dilma cometeu outra série de irregularidades em 2015

Isabella Souto
Relator das contas de 2015, José Múcio (E) criticou a condução da economia pela presidente afastada - Foto: José Cruz/Agência Brasil

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) tem 30 dias para explicar ao Tribunal de Contas da União (TCU) 23 indícios de irregularidades nas suas contas de 2015 – entre elas, as chamadas “pedaladas fiscais”, que motivaram a abertura do processo de impeachment a que ela responde no Senado. Relator das contas da petista, o ministro José Múcio disse que a unidade técnica da corte encontrou um conjunto de “achados” e distorções nos registros da contabilização que somam pelo menos R$ 260 bilhões.

O TCU também questionou edição de decretos de créditos suplementares e medidas provisórias autorizando gastos extras sem aval do Congresso Nacional; o pagamento de “pedaladas” realizado nos últimos dias do ano; e novas operações de crédito consideradas irregulares. A exemplo do que aconteceu com a prestação de contas de 2014, quando foram verificados 13 indícios de irregularidades, a tendência é de que o TCU rejeite novamente os dados do governo. O julgamento do parecer sobre as contas de 2015 deverá ser concluído até setembro.

Ex-ministro de Relações Institucionais do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Múcio criticou no voto a condução da economia e a repetição de mecanismos pelo Palácio do Planalto já considerados irregulares pelo TCU. “O governo federal não logrou obter maior autoridade no gasto público, o que denota executar uma política anticíclica mais conservadora. A piora dos resultados fiscais põe em risco a economia. Essa degeneração das contas públicas deveria ter sido o foco da política econômica do governo. Muitos dos indícios de irregularidades repetem os dos anos anteriores”, afirmou o ministro.

A repetição das “pedaladas fiscais” em 2015 – com atrasos de pagamentos do Plano Safra no Banco do Brasil e do auxílio em juros de financiamentos do BNDES – e a edição de seis decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso Nacional são algumas das irregularidades que deverão ser explicadas pela presidente afastada.
O ministro relator entendeu que os atrasos em repasses aos dois bancos configuraram operação de crédito, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Dívida


Outra irregularidade apontada foi o próprio pagamento das “pedaladas”, efetivado pelo governo da presidente Dilma nos últimos dias de 2015, na ordem de R$ 74 bilhões. Para os técnicos do TCU, gerou-se uma dívida para quitar outra. Depois do parecer pela rejeição das contas de 2014, aprovado em outubro de 2015 pelo TCU, e do início do processo de impeachment na Câmara, em dezembro, o governo quitou as “pedaladas” junto a bancos públicos e ao FGTS.

Para os técnicos que analisaram as contas de Dilma Rousseff, os pagamentos foram irregulares. “Ao invés de registrar as operações como quitação de dívida de operação de crédito, registraram-se os pagamentos dos passivos do Banco do Brasil, BNDES e FGTS como se fossem despesas com subvenções econômicas, o que acabou distorcendo as informações orçamentárias de 2015”.

Caberá ao ex-advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, a elaboração da defesa de Dilma Rousseff. Os documentos são analisados pela área técnica do TCU, cujo parecer vai embasar um relatório pela aprovação ou rejeição das contas no plenário. A palavra final, no entanto, é do Congresso Nacional. (Com agências).