Nas poucas vezes em que Maranhão se sentou na principal cadeira da Mesa Diretora, sofreu críticas dos colegas e obstrução dos trabalhos. Na prática, ele tem participado de eventos e conduzido a reunião de líderes. No plenário, tem sido substituído por Giacobo (PR-PR). Apesar de toda a pressão pela renúncia e as polêmicas em que se envolveu, Maranhão tem repetido que está cumprindo o regimento. Para um deputado do chamado “centrão”, a presença dele é um “desestímulo total”.
Pela Constituição, a Presidência da Câmara só pode ficar vaga em três situações: se Eduardo Cunha morrer, renunciar ou for cassado. Está previsto para terça-feira um pronunciamento do peemedebista e especula-se que ele anunciará a renúncia ao cargo. Caso isso ocorra, após a formalização do ato, Waldir Maranhão tem até cinco sessões para convocar novas eleições. Na avaliação de grande parte dos parlamentares, até de aliados declarados de Cunha, é o melhor caminho para que ele tenha condições de se defender das acusações sobre o envolvimento no esquema de propinas da Petrobras.
INSTABILIDADE O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), considera que uma nova eleição pode trazer mais tranquilidade para a Câmara já que a atual situação gera uma instabilidade muito grande. Rosso defende uma solução de consenso sobre o possível nome que substituiria Cunha. “Vivemos um momento de crise econômica e política muito complicado e a Casa precisa caminhar. Precisamos de um nome de consenso para não haver mais disputas.” O nome de Rosso normalmente aparece na lista dos cotados para assumir a presidência, mas ele afirma que não será candidato agora.
Outro nome cotado para assumir o cargo, Pauderney Avelino (AM), líder do DEM, também nega que vá concorrer. O deputado defende que essa conversa precisa passar por várias siglas para trabalhar um perfil adequado para o momento do país, e que tire a crise que se instalou na Câmara. “Precisamos de um deputado com estatura, experiência, conhecimento e trânsito em todas as legendas. E o mais importante, que não tenha o nome envolvido em denúncias de corrupção.”
Para Avelino, “pela instituição”, o DEM, o PPS e o PSDB estão reavaliando o posicionamento de obstruir as votações conduzidas por Maranhão no plenário. Caso o recurso de Eduardo Cunha contra o parecer do Conselho de Ética seja rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a cassação é uma das pautas que Maranhão tem de levar ao plenário.
PMDB QUER VAGA Partido do presidente afastado, o PMDB se recusa a discutir de forma prévia a saída do aliado. Porém, nos bastidores, a legenda defende a manutenção de um peemedebista na presidência independentemente do que ocorra com Cunha.
Ferrenho opositor de Cunha, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) acredita que o melhor caminho para a Câmara é eleger um novo presidente que tenha a capacidade de transitar em todos os blocos partidários. “Só com a aprovação da cassação no Conselho de Ética, o clima na Casa já melhorou. Precisamos de um presidente que resgate esse espírito nos deputados, que deixe a autoestima mais elevada.” Questionado se ele seria esse candidato, Delgado desconversou.
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), afirma que a sucessão de Cunha não está sendo tratada no Palácio do Planalto. “O governo não vai se meter nesse debate agora porque qualquer debate sobre um mandato tampão é pura especulação. A Câmara tem um presidente que se chama Eduardo Cunha. Isso é um fato. Se ele for cassado, se ele renunciar, aí é uma outra história”, comentou.
Memória
Sucessão de denúncias
Eleito por uma grande maioria, o deputado Eduardo Cunha assumiu a presidência da Câmaraem janeiro de 2015 sob suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. O doleiro Alberto Youssef havia acabado de informar, em delação premiada, que o peemedebista recebeu propinas decorrentes de um contrato das empresas Samsung e Mitsui, representadas pelo empresário Júlio Camargo, com a Petrobras. O delator afirmou que aliados de Cunha pressionaram as empresas depois de interrupção no repasse do dinheiro. Era só o início.
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