Deputados têm dificuldades para encontrar possível sucessor de Cunha na Câmara

Com o processo de cassação de Cunha avançando na Câmara, deputados já discutem sua sucessão. Dificuldade está em encontrar nome para ficar na presidência até fevereiro de 2017

Naira Trindade Evelin Mendes
Cena rara neste semestre na Câmara na quarta passada: plenário cheio para votação de projetos. Giacobo tem substituído Waldir Maranhão, alvo de críticas e obstruções - Foto: Luís Macedo/Câmara dos Deputados
Brasília – Desde 5 de maio, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou por unanimidade o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a Câmara está sem comando. Apesar de o vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), ter assumido o cargo interinamente, a famosa canetada que tentou cancelar a votação do impeachment de Dilma Rousseff o deixou sem condições políticas. Considerando o calendário apertado deste ano e a instabilidade, na avaliação de alguns parlamentares, quanto mais tempo passa, menos atrativo fica o cargo, já que será um mandato tampão e o escolhido não poderá se reeleger em fevereiro do ano que vem. Por outro lado, quem for eleito, assumirá a Presidência da República enquanto Michel Temer – ou Dilma, caso escape do processo de afastamento no Senado – estiver em viagem ao exterior.


Nas poucas vezes em que Maranhão se sentou na principal cadeira da Mesa Diretora, sofreu críticas dos colegas e obstrução dos trabalhos. Na prática, ele tem participado de eventos e conduzido a reunião de líderes. No plenário, tem sido substituído por Giacobo (PR-PR). Apesar de toda a pressão pela renúncia e as polêmicas em que se envolveu, Maranhão tem repetido que está cumprindo o regimento. Para um deputado do chamado “centrão”, a presença dele é um “desestímulo total”.

“A Câmara está até esvaziada. A situação da presidência está muito complicada.”

Pela Constituição, a Presidência da Câmara só pode ficar vaga em três situações: se Eduardo Cunha morrer, renunciar ou for cassado. Está previsto para terça-feira um pronunciamento do peemedebista e especula-se que ele anunciará a renúncia ao cargo. Caso isso ocorra, após a formalização do ato, Waldir Maranhão tem até cinco sessões para convocar novas eleições. Na avaliação de grande parte dos parlamentares, até de aliados declarados de Cunha, é o melhor caminho para que ele tenha condições de se defender das acusações sobre o envolvimento no esquema de propinas da Petrobras.

INSTABILIDADE O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), considera que uma nova eleição pode trazer mais tranquilidade para a Câmara já que a atual situação gera uma instabilidade muito grande. Rosso defende uma solução de consenso sobre o possível nome que substituiria Cunha. “Vivemos um momento de crise econômica e política muito complicado e a Casa precisa caminhar. Precisamos de um nome de consenso para não haver mais disputas.” O nome de Rosso normalmente aparece na lista dos cotados para assumir a presidência, mas ele afirma que não será candidato agora.

Outro nome cotado para assumir o cargo, Pauderney Avelino (AM), líder do DEM, também nega que vá concorrer. O deputado defende que essa conversa precisa passar por várias siglas para trabalhar um perfil adequado para o momento do país, e que tire a crise que se instalou na Câmara. “Precisamos de um deputado com estatura, experiência, conhecimento e trânsito em todas as legendas. E o mais importante, que não tenha o nome envolvido em denúncias de corrupção.”

Para Avelino, “pela instituição”, o DEM, o PPS e o PSDB estão reavaliando o posicionamento de obstruir as votações conduzidas por Maranhão no plenário. Caso o recurso de Eduardo Cunha contra o parecer do Conselho de Ética seja rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a cassação é uma das pautas que Maranhão tem de levar ao plenário.

PMDB QUER VAGA Partido do presidente afastado, o PMDB se recusa a discutir de forma prévia a saída do aliado. Porém, nos bastidores, a legenda defende a manutenção de um peemedebista na presidência independentemente do que ocorra com Cunha.
“O partido entende que a complementação desse mandato deve caber ao partido porque o mandato é do PMDB, por ser a maior bancada na Casa e por ter aberto mão de vários espaços na composição da mesa para presidir a Câmara”, afirma um integrante da legenda.

Ferrenho opositor de Cunha, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) acredita que o melhor caminho para a Câmara é eleger um novo presidente que tenha a capacidade de transitar em todos os blocos partidários. “Só com a aprovação da cassação no Conselho de Ética, o clima na Casa já melhorou. Precisamos de um presidente que resgate esse espírito nos deputados, que deixe a autoestima mais elevada.” Questionado se ele seria esse candidato, Delgado desconversou.

O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), afirma que a sucessão de Cunha não está sendo tratada no Palácio do Planalto. “O governo não vai se meter nesse debate agora porque qualquer debate sobre um mandato tampão é pura especulação. A Câmara tem um presidente que se chama Eduardo Cunha. Isso é um fato. Se ele for cassado, se ele renunciar, aí é uma outra história”, comentou.

Memória

Sucessão de denúncias


Eleito por uma grande maioria, o deputado Eduardo Cunha assumiu a presidência da Câmaraem janeiro de 2015 sob suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. O doleiro Alberto Youssef havia acabado de informar, em delação premiada, que o peemedebista recebeu propinas decorrentes de um contrato das empresas Samsung e Mitsui, representadas pelo empresário Júlio Camargo, com a Petrobras. O delator afirmou que aliados de Cunha pressionaram as empresas depois de interrupção no repasse do dinheiro. Era só o início.
Em seguida, vieram denúncias de repasses milionários. O operador do PMDB Fernando Baiano reforçou as acusações de US$ 5 milhões a Cunha e surgiram as informações de que o então presidente da Câmara mantém conta na Suíça. Ele nega. No mês passado, Cunha foi afastado da Câmara por “destruir provas, pressionar testemunhas, intimidar vítimas ou obstruir as investigações (da Lava-Jato) de qualquer modo”. O pedido de afastamento levou cinco meses para ser votado pelo Supremo.

 

 

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