Temer disse que não traiu "ninguém" e discorda de novas eleições

Presidente em exercício, Michel Temer diz que o discurso do golpe perde força. "Não traí ninguém. O que houve foi um processo de impedimento", disse

Marinella Castro
Temer nega que será candidato a presidente em 2018 - Foto: LULA MARQUES/AGÊNCIA PT - 1/6/16

O presidente em exercício, Michel Temer, afirmou ontem que não houve golpe de Estado no país e muito menos traição: "Não traí ninguém. O que houve foi um processo de impedimento". Em falou dos desafios de sua interinidade e de um possível governo efetivo, caso o impeachment de Dilma Rousseff seja aprovado no Senado, sustentando que fez muito em pouco tempo, como o destravamento da pauta política, com a aprovação da meta fiscal, e o acordo com governadores para quitação das dívidas dos estados. Em entrevista à GloboNews, ele também criticou a proposta de eleições este ano e que não pretende ser candidato a presidente em 2018.

Temer traçou um cenário otimista para um eventual governo de dois anos e meio. “Imagine se, ao final do período, em vez de 12 milhões, tivermos apenas 500 mil desempregados”, disse, apontando um número de dar inveja aos países desenvolvidos, apesar da tendência de a quantidade de desocupados continuar crescendo até o fim do ano. Ele afirmou também que tem percebido interesse do capital estrangeiro pelo país, por isso acredita na volta dos investimentos externos a partir do retorno da confiança. Segundo ele, o discurso do golpe vem perdendo força na imprensa internacional e a Olimpíada do Rio será um teste para a saia-justa entre ele e a presidente afastada Dilma Rousseff, que estarão presentes.

Sobre eleições, Temer disse ser favorável às doações de empresas para as campanhas desde que sejam endereçadas a um único partido político. “As doações foram criminalizadas, algumas podem ter sido ilícitas, mas, a maior parte, acredito que não.” As novas regras, que proíbem a doação de empresas, serão testadas no pleito municipal deste ano, segundo ele, que voltou a afirmar ser contrário a um plebiscito agora para discutir eleições este ano e que não será candidato daqui a dois anos.

Quanto à Operação Lava-Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, o presidente em exercício disse que nunca pediu dinheiro para o então candidato Gabriel Chalita, como foi apontado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em delação premiada.
Ele negou qualquer pedido de propina e disse que não vai mover processo contra ele: “Não converso para baixo, não darei esse valor a ele.” Afirmou que tem prestígio junto ao empresariado e que não precisaria recorrer a Machado para pedir ajuda.

DILMA
O presidente em exercício afirmou também que suas relações com Dilma sempre foram protocolares e que no início do segundo mandato disse a ela que ele que havia sido apenas um vice decorativo até então e que o PMDB, seu partido que deu sustentação ao governo petista, havia reclamado maior participação nas decisões. Mas que a presidente ignorou o alerta, que culminou na carta escrita por ele à petista. “Meu trato com ela sempre foi bom, mas muito cerimonioso. Houve divergência na questão política. Ela aprecia mais as questões técnicas do que o relacionamento político. Algumas decisões dela foram equivocadas e outras não solucionadas, como a questão da Federação (pacto federativo)”, afirmou. Temer garantiu também que vai manter o programa Bolsa-Família, mas que o governo fará o acompanhamento para que as famílias garantam a frequência das crianças na escola.

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Dilma e Lula em agenda
A força-tarefa da Operação Lava-Jato apreendeu na casa de um funcionário da OAS uma agenda com o registro das reuniões, almoços e jantares com políticos, do presidente da empreiteira, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro. São encontros, a maior parte deles em hotéis de Brasília, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho e com o ex-assessor da presidente Dilma Charles Capela de Abreu, todos investigados pela Procuradoria da República. A agenda foi encontrada em 14 de abril, nas buscas que tinham como alvo o funcionário da OAS Marcos Paulo Ramalho, secretário de Léo Pinheiro. Nas anotações, há registros ainda de encontros com parlamentares como Rodrigo Maia e Jutahy Magalhães - alvos de pedidos de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Nomeação para estatais
O Senado desfez mudanças aprovadas pela Câmara ao aprovar ontem a nova Lei das Estatais, que proíbe a indicação imediata de dirigentes partidários e sindicais para cargos de diretorias de estatais. Pelo texto aprovado pelos deputados na semana passada, o indicado apenas precisaria renunciar ao posto no partido para assumir o novo cargo. Agora, volta a redação inicial, com a exigência de uma carência de três anos entre a atividade partidária do indicado e a nomeação. O texto, aprovado em votação simbólica que durou menos de 10 minutos no plenário, segue agora para sanção presidencial.
O relator Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que mudanças propostas pela Câmara comprometiam o caráter proposto pelo projeto. "Algumas dessas emendas, em lugar de aperfeiçoar o texto, garantiriam a continuidade de situações que o projeto teve o claro objetivo de coibir", disse. A possibilidade de indicações políticas foi o centro do debate sobre as causas do escândalo de corrupção na Petrobras, por exemplo.

Simples ampliado

O Senado aprovou ontem, o texto-base do projeto que amplia o Supersimples, sistema diferenciado de tributação para micro e pequenas empresas. Antes que todas as emendas fossem votadas, a sessão no plenário foi encerrada. Com isso, os senadores ainda precisarão concluir a votação do texto. Pela proposta, o limite de faturamento para que a empresa seja enquadrada na faixa de microempreendedora individual (MEI) será ampliado de R$ 60 mil para R$ 72 mil ao ano. Para as micro e pequenas empresas, esse teto crescerá de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões ao ano. .