Livro de poesias retrata crise política nacional

"O pau do Brasil", do professor Wilson Alves Bezerra, reúne 18 textos traz um panorama do país com humor e citações irônicas

Isabella Souto

- Foto: Editora Urutau/Divulgação

A crise política nacional e as denúncias da Operação Lava-Jato viraram tema de 18 poesias escritas pelo professor do Departamento de Letras (DL) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Wilson Alves Bezerra.

Os textos estão reunidos no livro O pau do Brasil, da Editora Urutau. Com muito humor e citações irônicas, o livro traz um panorama do Brasil sob a crise política.

A gota d'água para o livro foi a votação do processo de impeachment na presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados, em 17 de abril.

“Independente da posição política do cidadão, ver tantos discursos de ódio, tanto carnaval e tão pouca política no Congresso foi chocante. Não por acaso aquelas cenas rodaram o mundo, na imprensa internacional. Entendo que é papel da arte, em geral, e em especial, da literatura, de fazer pensar sobre os momentos de exceção, seja do sujeito, seja da sociedade”, alega Wilson Bezerra.

De acordo com o professor, o objetivo do livro é expor o fracasso do processo civilizatório brasileiro, e o grau de indigência a que chegou a política, contribuindo para um reflexão do leitor. Para isso, retrata os discursos de intolerância que circulam no Brasil, as manifestações de rua, os discursos dos políticos, e trechos de documentos públicos, delações e cartas. “Tudo isso reconstruído como num pesadelo”, diz.


Veja trechos de alguns poemas

"As ruas estão desertas, estão cheias de pessoas, as ruas estão cheias de policiais, as ruas estão cheias de selfies e de ais, de bombas e de hinos nacionais. A rua quer fazer uma linguagem, que ligue uma rua às outras; mas a rua sempre parece pouca, para a estrada aonde vai. As ruas, à queima-roupa, incendeiam a crina dos cavalos dos policiais; as ruas tiram fotos das ruas num espetáculo de se masturbar. As ruas escancaradas sorriem para os jornais.”

“Senhor, venha agendar sua morte em terra tropical de avícola belezura. Venha entre morenas índias com cachos de tetas murchas, venha entre os bagos vermelhos conhecer os pentelhos inexistentes indígenas. Venha morrer como fazemos há meio milênio, pois não faltarão modalidades na copa dos corpos importados. Morrer de noite de susto de dengue de pressa de sangue de tiro. Aqui se morre feliz. Se morre depressa.”

“Façamos as contas, milongas, conchavos e depois, escondidinhos, de carnes secas, façamos nossas sepulturas. Façamos de conta, façamos um rombo, nas sombras, façamos apelidos para os próceres, não doerá, sabemos que não, é assim, foi assim e sempre será. Mudaremos as moscas da carniça, mudaremos os ternos e as cores das gravatas, apenas, e as novas larvas se comprazerão em dizer: façamos as contas, de conta, façamos conchavos e, ao largo, façamos como sempre foi.”

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