A organização criminosa que desviou dinheiro do contribuinte em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, pagou conta da campanha da prefeita Elisa Costa, em 2012, quando a petista foi reconduzida ao cargo. É o que sustenta o delator Jefferson Lima, ex-diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), autarquia municipal onde os investigadores da Operação Mar de Lama descobriu vários contratos superfaturados.
Jefferson afirma que uma dívida referente à alimentação de pessoas que trabalharam na campanha foi quitada em contrato superfaturado do próprio Saae. Segundo ele, uma rede de padaria forneceu lanches para colaboradores do partido e que parte do débito ficou pendente. O restante – o delator não informou o valor – foi pago com dinheiro público.
É o que diz o texto da delação: “Nos áudios 14005673 e 14451713, (Jefferson) informa que realmente estavam tratando de propina, mas que, na verdade, seria um pagamento para custear dívida de campanha; que, melhor explicando, diz que José Estanislau forneceu alimentação para os trabalhadores da campanha de Elisa; que restaram algumas dívidas de campanha e Omir disse que o pagamento seria em superfaturamento a ser realizado em contratos com o Saae; que o colaborador (o próprio delator) sabia disso e auxiliava também neste esquema”.
José Estanislau, que está preso, é o dono de uma rede de padarias. Já Omir (Quintino) é ex-diretor-geral do Saae, que tammbém está preso. Ele é apontado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) como um dos cabeças da organização denunciada à Justiça pelos promotores do Gaeco.
Os promotores não comentam a delação premiada, mas o documento mostra que eles ouviram de Jefferson que a ligação de Omir com a prefeita é estreita e antiga: “Omir já foi assessor parlamentar de Elisa quando esta foi deputada estadual e foi coordenador de campanha dela em todas as eleições disputadas”. Eles se conheceram na juventude. Em nenhum momento, porém, Jefferson afirma que Elisa sabia que dívida de sua campanha teria sido paga com dinheiro de propina.
José Estanislau, o sócio da rede de padarias, também venceu licitação, que seria fraudulenta, para fornecer lanches aos servidores da autarquia municipal. Em sua delação, Jefferson disse que “Estanislau acrescenta serviços não prestados e produtos não entregues na nota que deveria ser paga pelo Saae”. O delator, um dos homens de confiança de Omir, era quem recebia as notas. Ele confessou aos investigadores que “sabia que os produtos não haviam sido entregues no quantitativo apresentado”. A reportagem não conseguiu contato com a prefeita e o empresário.
HABEAS CORPUS Nessa quinta-feira (23), outro empresário virou comentário entre os investigadores da Mar de Lama. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) indeferiu o habeas corpus impetrado pelos advogados de Roberto Carvalho, dono da Valadarense, a empresa que detém o monopólio do transporte de passageiros em Valadares.
A empresa é acusada de financiar um mensalinho aos vereadores da cidade. Doze estão afastados por decisão judicial. Cinco estão presos desde maio. Carvalho gravou um vídeo no qual ele próprio repassa propina ao presidente do Sindicato dos Rodoviários do município, Jorge Ferreira Lopes.
O sindicalista é suspeito de receber ao menos R$ 400 mil para incentivar greves com intuito de força a prefeitura a reajustar a tarifa de ônibus, beneficiando a Valadarense, e forjar acordos trabalhistas em desfavor da categoria que ele próprio representa. O salário líquido de Jorge é de aproximadamente R$ 3,7 mil, mas seu patrimônio inclui uma fazenda na região, com cavalos premiados e gado leiteiro.