Brasília – O Palácio do Planalto articula uma candidatura única da base, com mandato tampão até 1º de fevereiro de 2017, para a sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Presidência da Câmara. A disputa entre a bancada do PMDB, o chamado “centrão” e a antiga oposição (PSDB, DEM e PPS) pelo comando da Casa seria adiada para o próximo ano para não atrapalhar a aprovação do impeachment no Senado nem a votação das medidas do ajuste fiscal. O confuso Waldir Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara, se tornou um estorvo para o governo por não conseguir conduzir os trabalhos da Casa, até porque a maioria dos deputados se recusa a participar de sessões presididas por ele.
Ao contrário do Conselho de Ética, onde os prazos são contados por sessões, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), à qual o presidente afastado da Câmara recorreu do pedido de cassação por quebra de decoro, os prazos são contabilizados por dias corridos. Ou seja, com sessão em plenário ou sem, na quinta-feira o relatório terá de ser apresentado no colegiado.
Ocorre que o relator designado inicialmente, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), renunciou à função. Ele justificou a decisão explicando que não se sentiria confortável em ter que, eventualmente, proferir alguma decisão contrária ao parecer de Marcos Rogério (DEM-RO), seu colega de partido. O presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-RJ), deve anunciar hoje o novo relator, mas os prazos estão correndo. Serraglio mandou distribuir cópias do recurso de Cunha a todos os membros da comissão. Para o peemedebista, independentemente do conteúdo do parecer que será produzido, os argumentos do relator terão pouca influência na votação do colegiado já que a análise não é só técnica, mas política.
A decisão na CCJ será disputada, mas a maioria deve recusar o recurso de Cunha. Por essa razão, aceleram-se as articulações para a sucessão. Caso seja aprovada a cassação em plenário, a eleição do novo presidente ocorrerá cinco dias. Até mesmo aliados mais próximos de Cunha, como Nélson Meurer(PP-PR), que na semana passada virou réu em processo da Operação Lava-Jato, avaliam que o peemedebista será cassado se o pedido for a plenário. Ou seja, a última batalha para retardar a decisão é a próxima reunião da CCJ, cuja pauta ficará trancada até que o caso seja decidido.
MUDANÇAS Na Câmara, as principais lideranças dos grandes partidos mudaram recentemente. No PMDB, Leonardo Picianni (RJ) foi para o Ministério do Esporte e em seu lugar assumiu Baleia Rossi (SP), homem de confiança do presidente interino, Michel Temer. No PSDB, Antônio Imbassahy (BA) ocupou o lugar de Bruno Araújo (PE); e Mendonça Filho (PE) trocou a liderança do DEM pela Educação, ficando em seu posto Pauderney Avelino (AM). Nesse troca-troca, as lideranças do chamado centrão passaram a dar as cartas, emplacando, inclusive, o líder do governo, o deputado André Moura (PSC-SE). O resultado é a falta de consenso na base do governo sobre a sucessão.
“A saída é definir uma agenda comum, o perfil do presidente e buscar uma candidatura única”, arrisca o líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), ele próprio um dos cotados para o posto. Outros nomes possíveis são os de Jovair Arantes (GO), líder do PTB; Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do PP; o segundo vice-presidente da Câmara, Giacobo (PR-PR) e o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP). Todos são nomes com trânsito junto ao presidente afastado, Eduardo Cunha, que continua sendo um grande eleitor na Casa. Da antiga oposição, estão na disputa Imbassahy e Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Outra opção seria escolher um nome de consenso entre os parlamentares mais experientes como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), José Fogaça (PMDB-RS), Miro Teixeira (Rede-RJ) e Esperidião Amin (PP-SC), todos com bom relacionamento no Palácio do Planalto. Quem pode costurar o consenso em torno de um desses nomes é Michel Temer, que por três vezes comandou a Câmara, mas está engessado pela situação de Cunha.