No dia 15 de junho de 2009, Bittar encaminhou para Bumlai e-mail recebido de terceiro. "Material sobre missão comercial que ele tem com um terreno no Guarujá/SP de 1.4700.000 metros quadrados embargado pelo Ministério Público", registra o Relatório de Informação 64/2016, da PF de Curitiba, anexado em inquérito que tem Bumlai como alvo. Ele trata do conteúdo das mensagens de uma conta de e-mail do pecuarista.
Bumlai é peça central dessa investigação de tráfico de influência nos governos Lula. Preso em novembro de 2015 - alvo da fase Passe Livre, referência ao acesso que tinha ao Planalto - ele é réu em uma ação penal, em Curitiba, e alvo de outros inquéritos. Bittar e seus filhos Khalil e Fernando são também suspeitos por suas relações comerciais e de amizade com o ex-presidente.
A família Bittar assumiu ter comprado em 2010 o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), por R$ 1,5 milhão, para ser usado por Lula. Em 2011, a propriedade foi toda reformada e transformada por empreiteiras acusadas de cartel na Petrobras (Odebrecht e OAS) sob a supervisão de Bumlai, que cedeu o arquiteto e contratados de suas usinas para gerenciar a obra.
Oficialmente, o imóvel foi registrado em nome de Fernando Bittar e do empresário Jonas Suassuna - ambos sócios dos filhos do ex-presidente.
No e-mail que enviou para Bumlai, um ano antes da compra do sítio, Bittar repassou informações sobre um negócio no Guarujá que envolvia a liberação do terreno, em parte embargado pela Promotoria e também dependendo da prefeitura local.
Jacó Bittar, que foi da safra de primeiros prefeitos do PT, governou Campinas, no interior paulista de 1989 a 1992 e mora atualmente em São Vicente. Na mensagem, o interlocutor propõe uma "missão comercial".
"Caso estejas disposto, tenho uma missão comercial de planejar o que melhor fazer em uma área de 1.479.000 m2 no município do Guarujá, zona urbana. Trata-se da última grande área que é cortada pela Av. Dom Pedro I”, informa. "Parte da área nos fundos está invadida, tem favelas, posseiros e está embargada pelo MP. (por sorte)."
Não é a negociação do terreno que interessa aos investigadores da Lava Jato, mas sim as relações entre Bittar e Bumlai. Ambos são peças importantes nas investigações sobre o sítio de Atibaia. Na semana passada, a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, retomou o andamento dos inquéritos e processos de quebra de sigilo e análise do material apreendido em buscas que têm como alvo Lula.
"Para que eu possa fazer um bom acordo c/ o município, tenho que apresentar uma proposta viável, boa para as duas partes. Daí me vir a ideia de pedir-lhe aconselhamentos", explica o interlocutor, para Bittar. "No estado em que se encontra, o valor da área é 10 vezes menor do que seria com todo um planejamento aprovado. Tenho que provar aos investigadores com retorno e principalmente segurança jurídica."
Defesas
Por meio de nota, a defesa do pecuarista José Carlos Bumlai ressaltou que nenhum dos fatos configura crime e que desde que seu cliente foi preso ele vem colaborando com a Justiça.
"Os episódios mencionados na matéria foram pinçados de maneira descontextualizada do relatório de inteligência elaborado pela Polícia Federal. Ocorre que nenhum deles configura crime. Tanto isso é verdade que não há, desde a juntada aos autos desse material há mais de um mês, nenhum apontamento nesse sentido pela autoridade policial responsável pelas investigações", diz a nota do escritório Malheiros Filho, Meggiolaro e Prado Advogados
O Instituto Lula também enviou nota á reportagem.
"O vazamento desse relatório é mais uma invasão de privacidade que não encontra nenhuma ilegalidade, mas que serve de matéria-prima para ilações de parte da imprensa brasileira para fins políticos. (...) O relatório analisa mais de 10 anos de e-mails do sr. José Carlos Bumlai sem encontrar qualquer ilegalidade praticada por qualquer membro da família Lula da Silva", finaliza o texto..