Brasília - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem despachado na residência oficial mais com advogados do que com aliados ora fiéis sob o medo de ver alguém da família ser preso nestes quase dois meses em que está fora do comando da Casa. Quem visita o peemedebista afirma que, diferentemente da realidade de dois meses atrás, o ritmo de advogados na casa é superior ao de parlamentares. "São muitas ações judiciais e ele coordena os trabalhos", disse um aliado. Líderes partidários que sempre estiveram na linha de frente da defesa do deputado ainda telefonam ou fazem visitas esporádicas, mas longe da antiga rotina de conversas diárias com o deputado. Há quem descreva o deputado como abatido, desanimado, com a perspectiva de perder o mandato e acabar na cadeia. O argumento chegou a ser usado para sensibilizar deputados a não abandonarem sua defesa no Parlamento.
Acostumado a ter o controle da situação, o deputado afastado tem se mostrado mais irritadiço. Quando se frustra, Cunha bate na mesa e xinga. Em outros momentos, se acalma fumando um charuto cubano Cohiba. E quando sente a fragilidade tomar conta, volta o foco ao trabalho - que ultimamente se resume no preparo de sua defesa na Câmara e no Supremo Tribunal Federal, além da de sua família. Nos últimos dias, vem sendo pressionado pelos aliados a renunciar à presidência da Câmara para que se abra o caminho de destituição de Waldir Maranhão (PP-MA) da presidência. "Ele acha que é possível, desde que haja entendimento sobre o processo dele", revelou um aliado. De acordo com o parlamentar, Cunha só não admitiu publicamente a renúncia porque ainda não está claro se é viável o acordo para aprovar seu recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra o pedido de cassação aprovado no Conselho de Ética.
Na piscina. Cunha também mudou seus hábitos em casa. Quando estava "na ativa", costumava circular na residência oficial de terno, agora o deixa sobre uma cadeira da sala e sem o broche que identifica os deputados. As conversas reservadas acontecem na área da piscina e os celulares dos interlocutores são deixados numa mesa entre a porta da sala e a área externa da casa, longe da conversa. O peemedebista tem procurado seguir a orientação dos advogados para não passar dos limites na articulação política e não dar argumentos para a Procuradoria-Geral da República alegar que ele está interferindo nas investigações, o que poderia motivar sua prisão. Tanto que no dia 20 de maio recuou da decisão de voltar a frequentar a Câmara por receio de que a ação fosse interpretada como uma afronta ao afastamento imposto pelo Supremo e, assim, perdesse a liberdade.
ACM DE HOJE Cunha já foi visto aos domingos na Igreja Casa da Bênção, em Taguatinga, no Distrito Federal. No dia 12 de junho, ele participou do culto, leu um versículo da Bíblia e disse se sentir como "Daniel na cova dos leões", mas que acreditava na justiça divina. Segundo o site da igreja, o peemedebista foi aplaudido e pediu orações para ele próprio. "Em todo caso, ninguém, em sã consciência, pode prever o que vai acontecer com o experiente Eduardo Cunha, que têm em mãos a história recente da Câmara dos Deputados. Um fato é certo: Cunha hoje é o ACM (Antônio Carlos Magalhães, político influente no Congresso) de ontem: firme e conhecedor dos graves pecados de seus adversários Dilma que o diga…", diz texto no site da igreja. Em casa, costuma rezar com uma senhora que costumava frequentar seu gabinete.