Impulsionados por temas polêmicos que tiveram destaque no Congresso Nacional nos últimos anos, deputados das bancadas que ficaram conhecidas pela sigla BBB (da bala, do boi e da Bíblia) por ser formada por militares, ruralistas e evangélicos, querem assumir as prefeituras. Empunhando bandeiras da segurança e da defesa da família, os parlamentares querem pular do Legislativo para o Executivo e não pretendem fugir de controvérsias durante as campanhas. A maior parte dos deputados inicia a campanha na condição de azarão, mas espera que seus posicionamentos ao longo da trajetória parlamentar encontre apoio entre os eleitores.
“O enfoque será implantar uma política de tolerância zero em São Paulo. Meus posicionamentos no Congresso sobre a redução da maioridade penal, contra a descriminalização das drogas e pelo fim do desarmamento encontram apoio no que a população deseja”, explica o deputado Major Olímpio (SD), pré-candidato na capital paulista. Autor de projeto que reduz a maioridade penal para 12 anos em casos de menores que cometeram crimes hediondos, ele avalia que a segurança pública deve prevalecer nas discussões entre os candidatos a prefeitos nas capitais e por isso, é natural que parlamentares da chamada “bancada da bala” sejam chamados a disputar as vagas no Executivo.
“Vamos sempre ser alvo preferido de movimentos de direitos humanos. Tomei muita bordoada desse povo. Mas a maioria da população pensa de forma objetiva, não quer ver o cidadão de bem desarmado e o poder público pegando pesado com os bandidos”, afirma Major Olímpio. O parlamentar foi um dos mais votados em São Paulo, em 2014, com mais de 180 mil votos.
O deputado Delegado Waldir (PR) é outro que saiu dos quartéis, chegou ao Congresso e agora quer assumir um cargo no Executivo. Pré-candidato em Goiânia, ele aposta nas pesquisas com o eleitorado para lançar sua campanha baseada no combate ao crime. Segundo seus levantamentos, 70% do eleitorado goiano apontam a segurança pública como principal demanda para os próximos prefeitos. “A cidade está entre as mais violentas do país, com muitos assaltos e mortes. Ninguém aguenta mais. O governo federal e os estados não deram respostas até agora, por isso as pessoas acreditam que delegados ou coronéis podem atender suas demandas e resolver os problemas”, afirma Waldir.
O parlamentar espera levar para a campanha municipal os “10 mandamentos” que usou na campanha passada e lhe rendeu título de deputado mais votado na história de Goiás, com 274 mil votos. “Fizemos esses mandamentos, que são linhas a serem seguidas no parlamento, em defesa da família, redução da maioridade e mudanças na lei de execução penal”, diz o pré-candidato. Ele, no entanto, avalia que nas eleições municipais, temas polêmicos do Congresso devem ficar em segundo plano, uma vez que as demandas mais urgentes são os problemas locais.
Entre parlamentares que se lançaram como pré-candidatos estão nomes que se envolveram em polêmicas, como o deputado Pastor Marcos Feliciano (PSC), pré-candidato em São Paulo, que ficou nacionalmente conhecido ao defender projetos considerados homofóbicos, como a cura gay e contra a união homoafetiva. Outra liderança da bancada evangélica que terá o nome nas urnas, dessa vez em Fortaleza, é o deputado Pastor Ronaldo Martins (PRB), um dos mais críticos à distribuição de materiais de campanha contra a homofobia nas escolas, o apelidado pelos evangélicos “kit gay”.
No Rio de Janeiro, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC), filho do polêmico deputado Jair Bolsonaro, disputará os votos dos cariocas apresentando como prioridade propostas de defesa da família e na área de segurança pública. “Tenho largo histórico no enfrentamento de temas polêmicos, sendo minhas posições publicamente conhecidas. Não pretendo negociar valores para ser eleito, o que não significa desrespeito às minorias ou a quem pensa diferente”, afirma Bolsonaro.
Campanha em Minas
A segurança pública também será a principal bandeira de campanha de candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte. O deputado Laudívio Carvalho (SD), pré-candidato, relatou na Câmara um projeto que flexibiliza as regras para o porte de armas no Brasil – proposta polêmica que foi aprovada em comissão especial e que aguarda para ser votada em plenário – e avalia que o combate à violência será destaque na campanha de 2016. “Mantenho contato com as pessoas na região metropolitana e as reclamações são sempre sobre segurança. Por isso, é claro que os parlamentares que se empenharam nas discussões sobre segurança terão alta popularidade nas grandes cidades”, avalia Laudívio.
O deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT) considera que o problema da violência nas grandes cidades acaba sendo empurrado para os governadores, mas que cabe aos prefeitos interferir no problema com medidas mais rigorosas. Ele defende mudanças no Código de Posturas da cidade, como a proibição de venda de bebidas após as 22h em bairros da periferia.
“Infelizmente em Minas, tanto na capital quanto no interior, a violência é o tema que mais aflige o cidadão. Cerca de 90% dos prefeitos não atuam em segurança pública porque desconhecem suas próprias competências.
Outros conhecem, mas preferem não atuar para não dividir o problema com o estado”, critica Sargento Rodrigues. Segundo ele, pesquisa realizada pelo PMDB, apontou que 51% dos belo-horizontinos cobram melhorias no policiamento como principal demanda para a prefeitura.