Políticos são alvos preferenciais de manifestações em locais públicos

Acirramento da polarização causado pelo impeachment de Dilma Rousseff transformou parlamentares de partidos diversos em alvo de agressões de manifestantes em aeroportos

Maria Clara Prates
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Ninguém tem dúvida de que os parlamentares estão acostumados a voar. Mas isso agora pode ser uma aventura de alto risco de constrangimento, com agressões físicas e verbais. A polarização acirrada entre apoiadores de Dilma Rousseff e oposicionistas, desde que o processo de impeachment  foi tomando corpo no Congresso, fez de políticos alvo da revolta de eleitores comuns ou grupos de manifestantes. Adjetivos como “golpista”, “ladrão”, “fascista”, “safado” integram a recepção que alguns parlamentares têm tido nos aeroportos país afora. Deputados federais estiveram no foco de pelo menos 12 atos de hostilização pelos eleitores insatisfeitos com as suas posições políticas. Não existe distinção de viés ideológico e ninguém escapa, seja governo ou oposição.

Desde junho de 2013, os brasileiros demonstraram sua força ao ocupar ruas e praças para gritar por seus direitos, mostrar insatisfação e reivindicar seriedade de todos os poderes. A lição ficou para o povo, mas os parlamentares – representantes da instituição com maior descrédito –, estão sentindo na pele o preço de contrariar eleitores. E alguns sofrem mais que outros.
O deputado Vitor Valim (PMDB-CE) – rival político do líder do governo petista na Câmara José Guimarães (PT-CE) – sofreu pelo menos dois ataques em apenas 11 dias.

Em 7 de abril, antes da aprovação do impeachment, ele foi recebido com gritos de “golpista” no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, por defensores da hoje presidente afastada. Em um estado com grande número de eleitores do PT, ele ainda teve que ouvir que não representava o povo do Ceará. Valim estava acompanhado de Moses Rodrigues (PMDB-CE) e ambos suportaram calados os gritos de “Não vai ter golpe”, “capacho de Cunha” e fascista”. No dia 18, outro ataque o impediu de tomar um cafezinho no aeroporto de Brasília. Duas mulheres se aproximaram e não o pouparam. “Babaca", "engomadinho", "golpistazinho", "vendido" e “safado" foram os adjetivos atribuídos ao peemedebista.

Mas a vida do seu adversário José Guimarães também não está fácil. Ele foi hostilizado dias antes, também quando desembarcava no aeroporto de Fortaleza. Em 31 de março, um grupo de 10 pessoas atirou notas de dinheiro falsas contra ele. O deputado foi agarrado e, até chegar a seu carro, obrigado a ouvir um coro de eleitores descontentes com a sua defesa do governo petista. “Ladrão” e “Fora PT” foi o refrão entoado na recepção.

Entre os apoiadores de Dilma Rousseff, nem mesmo a estrela do mundo dos ex-BBBs salvou o deputado Jean Wyllys (PSOL) dos dissabores. Em 4 de março, ele escapou por pouco de agressões físicas de manifestantes contrários ao PT que o reconheceram no Aeroporto Internacional Antônio João, em Campo Grande (MS). Revoltado, Wyllys, que foi à cidade participar de uma conferência com apoio da Defensoria Pública, relatou a investida violenta nas redes sociais e cobrou providências. Até mesmo o palhaço Tiririca, agora travestido de parlamentar, em vez de arrancar risadas,  causou revolta.
Em 19 de abril,  foi chamado de “safado”, após votar pelo impeachment de Dilma, também no aeroporto de Fortaleza. Aos manifestantes, ele apenas respondeu: “É a sua opinião.”.

Apenas um dia depois, foi a vez do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) – integrante da comissão do impeachment –, passar por esse tipo de constrangimento. Mas não esteve sozinho na reprovação. Em Brasília, ele foi lembrado de que já foi “cassado duas vezes” e chamado de “corrupto”. No mesmo dia, no Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto, em João Pessoa, um grupo de petistas recebeu o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) com gritos de “golpista”.

E nessa onda de descrédito com os políticos sobrou até mesmo para a advogada e “musa” do impeachment,  Janaina Paschoal, autora do pedido de afastamento de Dilma. Na quarta-feira, no Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília, foi cercada por um grupo que repetiam os bordões: “golpistas, golpistas” e “golpistas, fascistas, não passarão”. Ele era formado por trabalhadores da educação de Mato Grosso do Sul e Ceará. A situação foi contornada com a intervenção de outros passageiros..