Brasília – Na próxima terça-feira, quando completará 60 dias de interinidade à frente do governo federal, o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) estará diante do seu maior desafio político até agora: evitar que a base aliada que o apoia na Câmara rache de vez entre Centrão e Centrinho na disputa pela sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os sinais emitidos até o momento são desanimadores para o Planalto. O primeiro grupo, formado pelas legendas mais próximas ao presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), elegeu o líder do governo na Casa e quer, novamente, fazer valer a própria maioria sobre o Centrinho, composto por PSDB, DEM, PPS e PSB.
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Para rebater críticas da oposição, Temer envia 'mensagem aberta' a aliadosTemer 'tranquiliza' turistas sobre zika e segurança na OlimpíadaMaranhão pede audiência com Temer e se reúne com presidente em exercícioTemer foi 'pego de surpresa' com renúncia de Cunha, diz André MouraTemer evita se posicionar sobre eleição na Câmara em encontro com líder do DEMTemer recebe líder do PSDB na CâmaraTemer evita se envolver na disputa, mas sabe que se deixar a corda solta terá dificuldades em amarrar de novo a base aliada. “Não vamos ser ingênuos de afirmar que não estamos acompanhando com cautela esse processo. Há muitos interesses em jogo, o clima político é pesado e sabemos, perfeitamente, dos riscos posteriores que essa eleição pode nos causar”, confirmou um governista que acompanha de perto a articulação política palaciana.
“Por incrível que pareça, Temer tem se demonstrado mais competente e equilibrado nas escolhas econômicas do que nas decisões políticas”, disse o professor de ciência política do Insper Carlos Melo. O grande problema, na visão de Melo, é que falta ao governo, na Câmara, alguém com uma mínima capacidade articuladora. “Eles tiveram uma derrota importante na semana que passou, ao perder a votação da urgência para trazer o debate da renegociação das dívidas dos estados direto para o plenário”, lembrou o professor do Insper. “No Senado, Jucá (senador Romero Jucá, PMDB-RR) ainda faz bem esse papel.
PROBLEMAS À VISTA Se é verdade que o governo tem comemorado importantes vitórias entre os deputados, é bom lembrar que os próximos desafios serão ainda mais complicados. A renegociação da dívida dos estados é um projeto de lei, mas a regra que limita os gastos ao teto da inflação do ano anterior é uma emenda constitucional, necessita de 308 votos para ser aprovada. E o governo ainda pretende mandar outras matérias até o fim do ano que exigem quórum qualificado, como as reformas da Previdência e trabalhista. “Essa eleição da Câmara é sim perigosa, porque envolve vários interesses pessoais, partidários, de grupos e um fantasma (Eduardo Cunha) que puxa cobertas à noite com a frase: eu sei a quem você pediu dinheiro na eleição passada”, brincou um líder governista.
No Senado, por exemplo, em que Temer tem uma vida mais tranquila após as várias benesses e afagos concedidos para garantir votos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff, os senadores não gostaram nada dos aumentos sucessivos aprovados na Câmara para diversos setores do funcionalismo. O máximo que foi aceito é o reajuste do Judiciário. Mas o aumento do teto do funcionalismo não passará em hipótese nenhuma, nem outras propostas que reforcem a imagem que o aumento do déficit fiscal foi um cheque especial para permitir o aumento dos gastos. No plano estadual, o governo tem dedicado especial atenção ao Rio, liberando, inclusive, R$ 2,9 bilhões para o estado pagar as contas atrasadas com o funcionalismo.
Balanço
O que Temer fez nos dois meses de interinidade à frente do Planalto
» Mudança na meta de déficit fiscal para R$ 170 bilhões
» Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU)
» Reajustes salariais para 14 categorias de servidores dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e para a Procuradoria-Geral da República (PGR), além de militares, totalizando R$ 50 bilhões em quatro anos
» Liberação de R$ 2,9 bilhões para o Rio de Janeiro, cidade-sede dos Jogos Olímpicos
O que pretende aprovar caso se torne efetivo
» O teto de gastos vinculados à inflação do ano anterior
» As reformas trabalhista e previdenciária
» Novas regras para a exploração do pré-sal.