Brasília – Na próxima terça-feira, quando completará 60 dias de interinidade à frente do governo federal, o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) estará diante do seu maior desafio político até agora: evitar que a base aliada que o apoia na Câmara rache de vez entre Centrão e Centrinho na disputa pela sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os sinais emitidos até o momento são desanimadores para o Planalto. O primeiro grupo, formado pelas legendas mais próximas ao presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), elegeu o líder do governo na Casa e quer, novamente, fazer valer a própria maioria sobre o Centrinho, composto por PSDB, DEM, PPS e PSB.
Revoltados com a postura do chamado Centrão, a antiga oposição simplesmente abandonou a reunião de líderes na última quinta-feira aos berros, reclamando que os aliados de Cunha querem manobrar para manchar a imagem ética da Câmara. “É claro que existe uma incompatibilidade ideológica. Eles (o Centrão) estavam no governo corrupto da Dilma até o último momento. Ou não estavam? Quem sempre fez a oposição ao PT fomos nós”, protestou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). “Nós queremos o Centrinho ao nosso lado. Mas esperávamos deles uma posição mais decente do que a que estão apresentando. Nós temos 280 votos, eles só têm 100. Em uma democracia, vale a vontade de quem tem mais votos”, devolveu, ríspido, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
Temer evita se envolver na disputa, mas sabe que se deixar a corda solta terá dificuldades em amarrar de novo a base aliada. “Não vamos ser ingênuos de afirmar que não estamos acompanhando com cautela esse processo. Há muitos interesses em jogo, o clima político é pesado e sabemos, perfeitamente, dos riscos posteriores que essa eleição pode nos causar”, confirmou um governista que acompanha de perto a articulação política palaciana.
“Por incrível que pareça, Temer tem se demonstrado mais competente e equilibrado nas escolhas econômicas do que nas decisões políticas”, disse o professor de ciência política do Insper Carlos Melo. O grande problema, na visão de Melo, é que falta ao governo, na Câmara, alguém com uma mínima capacidade articuladora. “Eles tiveram uma derrota importante na semana que passou, ao perder a votação da urgência para trazer o debate da renegociação das dívidas dos estados direto para o plenário”, lembrou o professor do Insper. “No Senado, Jucá (senador Romero Jucá, PMDB-RR) ainda faz bem esse papel. Mas, na Câmara, quem trabalha exclusivamente pelo governo sem pensar nos seus próprios interesses?”, questionou Melo.
PROBLEMAS À VISTA Se é verdade que o governo tem comemorado importantes vitórias entre os deputados, é bom lembrar que os próximos desafios serão ainda mais complicados. A renegociação da dívida dos estados é um projeto de lei, mas a regra que limita os gastos ao teto da inflação do ano anterior é uma emenda constitucional, necessita de 308 votos para ser aprovada. E o governo ainda pretende mandar outras matérias até o fim do ano que exigem quórum qualificado, como as reformas da Previdência e trabalhista. “Essa eleição da Câmara é sim perigosa, porque envolve vários interesses pessoais, partidários, de grupos e um fantasma (Eduardo Cunha) que puxa cobertas à noite com a frase: eu sei a quem você pediu dinheiro na eleição passada”, brincou um líder governista.
No Senado, por exemplo, em que Temer tem uma vida mais tranquila após as várias benesses e afagos concedidos para garantir votos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff, os senadores não gostaram nada dos aumentos sucessivos aprovados na Câmara para diversos setores do funcionalismo. O máximo que foi aceito é o reajuste do Judiciário. Mas o aumento do teto do funcionalismo não passará em hipótese nenhuma, nem outras propostas que reforcem a imagem que o aumento do déficit fiscal foi um cheque especial para permitir o aumento dos gastos. No plano estadual, o governo tem dedicado especial atenção ao Rio, liberando, inclusive, R$ 2,9 bilhões para o estado pagar as contas atrasadas com o funcionalismo.
Balanço
O que Temer fez nos dois meses de interinidade à frente do Planalto
» Mudança na meta de déficit fiscal para R$ 170 bilhões
» Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU)
» Reajustes salariais para 14 categorias de servidores dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e para a Procuradoria-Geral da República (PGR), além de militares, totalizando R$ 50 bilhões em quatro anos
» Liberação de R$ 2,9 bilhões para o Rio de Janeiro, cidade-sede dos Jogos Olímpicos
O que pretende aprovar caso se torne efetivo
» O teto de gastos vinculados à inflação do ano anterior
» As reformas trabalhista e previdenciária
» Novas regras para a exploração do pré-sal
Revoltados com a postura do chamado Centrão, a antiga oposição simplesmente abandonou a reunião de líderes na última quinta-feira aos berros, reclamando que os aliados de Cunha querem manobrar para manchar a imagem ética da Câmara. “É claro que existe uma incompatibilidade ideológica. Eles (o Centrão) estavam no governo corrupto da Dilma até o último momento. Ou não estavam? Quem sempre fez a oposição ao PT fomos nós”, protestou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). “Nós queremos o Centrinho ao nosso lado. Mas esperávamos deles uma posição mais decente do que a que estão apresentando. Nós temos 280 votos, eles só têm 100. Em uma democracia, vale a vontade de quem tem mais votos”, devolveu, ríspido, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
Temer evita se envolver na disputa, mas sabe que se deixar a corda solta terá dificuldades em amarrar de novo a base aliada. “Não vamos ser ingênuos de afirmar que não estamos acompanhando com cautela esse processo. Há muitos interesses em jogo, o clima político é pesado e sabemos, perfeitamente, dos riscos posteriores que essa eleição pode nos causar”, confirmou um governista que acompanha de perto a articulação política palaciana.
“Por incrível que pareça, Temer tem se demonstrado mais competente e equilibrado nas escolhas econômicas do que nas decisões políticas”, disse o professor de ciência política do Insper Carlos Melo. O grande problema, na visão de Melo, é que falta ao governo, na Câmara, alguém com uma mínima capacidade articuladora. “Eles tiveram uma derrota importante na semana que passou, ao perder a votação da urgência para trazer o debate da renegociação das dívidas dos estados direto para o plenário”, lembrou o professor do Insper. “No Senado, Jucá (senador Romero Jucá, PMDB-RR) ainda faz bem esse papel. Mas, na Câmara, quem trabalha exclusivamente pelo governo sem pensar nos seus próprios interesses?”, questionou Melo.
PROBLEMAS À VISTA Se é verdade que o governo tem comemorado importantes vitórias entre os deputados, é bom lembrar que os próximos desafios serão ainda mais complicados. A renegociação da dívida dos estados é um projeto de lei, mas a regra que limita os gastos ao teto da inflação do ano anterior é uma emenda constitucional, necessita de 308 votos para ser aprovada. E o governo ainda pretende mandar outras matérias até o fim do ano que exigem quórum qualificado, como as reformas da Previdência e trabalhista. “Essa eleição da Câmara é sim perigosa, porque envolve vários interesses pessoais, partidários, de grupos e um fantasma (Eduardo Cunha) que puxa cobertas à noite com a frase: eu sei a quem você pediu dinheiro na eleição passada”, brincou um líder governista.
No Senado, por exemplo, em que Temer tem uma vida mais tranquila após as várias benesses e afagos concedidos para garantir votos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff, os senadores não gostaram nada dos aumentos sucessivos aprovados na Câmara para diversos setores do funcionalismo. O máximo que foi aceito é o reajuste do Judiciário. Mas o aumento do teto do funcionalismo não passará em hipótese nenhuma, nem outras propostas que reforcem a imagem que o aumento do déficit fiscal foi um cheque especial para permitir o aumento dos gastos. No plano estadual, o governo tem dedicado especial atenção ao Rio, liberando, inclusive, R$ 2,9 bilhões para o estado pagar as contas atrasadas com o funcionalismo.
Balanço
O que Temer fez nos dois meses de interinidade à frente do Planalto
» Mudança na meta de déficit fiscal para R$ 170 bilhões
» Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU)
» Reajustes salariais para 14 categorias de servidores dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e para a Procuradoria-Geral da República (PGR), além de militares, totalizando R$ 50 bilhões em quatro anos
» Liberação de R$ 2,9 bilhões para o Rio de Janeiro, cidade-sede dos Jogos Olímpicos
O que pretende aprovar caso se torne efetivo
» O teto de gastos vinculados à inflação do ano anterior
» As reformas trabalhista e previdenciária
» Novas regras para a exploração do pré-sal