Brasília, 28 - O ex-advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, deixou para a última hora a entrega das alegações finais do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Ele protocolou o documento às 18h30 desta quinta-feira, 28, no Senado Federal e deixou um recado para o relator do processo, Antonio Anastasia (PSDB-MG). "Ele terá muita dificuldade em cumprir a ordem do partido dele", disse em referência à condenação da presidente.
Aliados do governo Temer, e antiga oposição à presidente afastada, os parlamentares do PSDB se posicionam abertamente à favor do impeachment. "Talvez ele cumpra, mas terá muita dificuldade. Porque, realmente, é difícil dizer que existe alguma situação que sustente esse impeachment", disse Cardozo.
O advogado mostrou otimismo com o processo, apesar do "clima adverso" dentro da comissão que analisa o impeachment. "Vai ter um momento que as pessoas vão ter que colocar a mão na cabeça e ver que não é possível condenar a presidente dessa forma. A prova é arrebatadora, é contundente. Não há ato, não há dolo."
O documento tem 536 páginas e sintetiza os argumentos da defesa, passando pelo mérito do processo, com a análise dos decretos e pedaladas fiscais, uma parte dedicada ao argumento do desvio de poder e, por fim, uma seção em que aponta o que chamou de "equívocos da acusação" em suas alegações finais.
Fora isso, a peça também traz duas novidades que não foram discutidas na Comissão do Impeachment: um parecer do Ministério Público Federal (MPF), que aponta que não há crime nas pedaladas; e a sentença de um tribunal internacional presidido pelo jurista Juarez Tavarez, no Rio de Janeiro, que também isentou a presidente de qualquer crime no processo.
O tribunal é independente e funcionou nos moldes no Tribunal Russell II, que na década de 1970, reuniu na Europa juristas de diferentes nacionalidades para julgar crimes das ditaduras da América Latina.
Desvio de poder
O ministro não desistiu da tese do desvio de poder e trouxe para o processo falas da atual líder do governo no Congresso, a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que disse que o impeachment não estava relacionado com as pedaladas. O objetivo é defender que o processo não trata de interesse público, mas de interesses políticos.
Há também trechos dos áudios da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em conversas com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais articuladores do processo de impeachment. Na conversa, Jucá fala em "trocar o governo" para "estancar a Lava Jato".
Voto em separado
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que faz parte da tropa de choque da presidente afastada, disse que o PT vai apresentar um voto em separado ao do relator. "O texto tem um caráter muito político, mas sem abrir mão das questões jurídicas", disse a senadora.
De acordo com Gleisi, o voto será lido na Comissão Especial do Impeachment na próxima terça-feira, 2, logo após a leitura do parecer do relator.
O voto defenderá a inocência da presidente e a inexistência de crime. Além disso, trará uma leitura política do processo, mostrando as atuações de políticos que agiram com interesses próprios para afastar a presidente..