Jornal Estado de Minas

Países que participam da Olimpíada do Rio enfrentam turbulências internas


A menos de uma semana do início da Olimpíada Rio'2016, o clima de festa e rivalidade típico dos Jogos divide a atenção dos brasileiros em um contexto de crise econômica, com alta do desemprego e da inflação, e dos desdobramentos do afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e eventual posse do então vice Michel Temer (PT). Os dois protagonizam uma partida política para se manter no poder. Mas não é só o Brasil que vive momentos turbulentos, seja na política ou na economia. Delegações de peso que desembarcam na capital fluminense também deixam um cenário em que os Jogos acabam ficando para escanteio.

A Rússia está em meio a um escândalo envolvendo o governo sobre esquema de doping dos atletas daquela considerada potência do esporte. A França enfrenta o medo e a ameaça do terrorismo, que abala também o presidente François Hollande. O Reino Unido disputa a última Olimpíada como membro da União Europeia. A delegação turca chega ao Rio deixando para trás um país em frangalhos, abalado por atentados, golpe militar e uma política de repressão de seu presidente, Recep Tayyip Erdogan. A crise econômica também bate à porta de nações como Grécia, Venezuela e Cuba.

Frente a conflitos em diversos países, pela primeira vez na história das Olimpíadas os Jogos do Rio'2016 contarão com uma equipe de atletas refugiados.
A equipe será composta por dois nadadores sírios, dois judocas da República Democrática do Congo e seis corredores – um da Etiópia e cinco do Sudão do Sul. Todos eles deixaram seus países por causa de guerras civis e perseguição, encontrando abrigo na Alemanha, Brasil, Bélgica, Luxemburgo e Quênia.

Impeachment

Na semana passada, a presidente afastada Dilma Rousseff, que trabalha para alcançar os 28 votos contrários ao impeachment no Senado necessários para o seu retorno, usou até uma comparação esportiva para falar desse momento. Questionada sobre o que pretende fazer caso seja derrotada, Dilma disse que não trabalha com a hipótese de “se”. “Não tem se. É igual partida de futebol, joga-se até o fim para sair vitoriosa”, disse a petista, que já disse que não vai participar da abertura dos Jogos Olímpicos.

Do outro lado, o presidente em exercício Michel Temer movimenta-se nos bastidores para angariar votos de senadores indecisos em relação ao impeachment. Nos bastidores, aliados de Dilma têm 18 votos confirmados e tentam frear os acordos de Temer, que tem distribuído cargos e participado de encontros com parlamentares com voto ainda indefinido.

 

 

RÚSSIA
Considerada uma das maiores potências do esporte mundial, a Rússia enfrenta escândalo que envolve o governo e reduzirá massivamente sua participação na Olimpíada. A Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou esquema estatal de doping usado por atletas russos.

O relatório aponta que o Ministério do Esporte estava à frente das irregularidades. Logo depois, o vice-ministro dos Esportes, Yury Nagornykh, foi suspenso do cargo. Inicialmente, o Comitê Olímpico Internacional (COI) baniu a Rússia dos Jogos, mas depois repassou a responsabilidade para cada federação esportiva. Atletismo, responsável por 17 medalhas em Londres'2012, não poderá competir.

FRANÇA
Alvo preferencial de atentados terroristas em sequência desde 2015, quando integrantes do Estado Islâmico (EI) dizimaram a redação do jornal Charlie Hebdo, a França vive em estado de alerta e tensão depois de quatro episódios, o último deles o assassinato de um padre na Normandia, na terça-feira. Os ataques têm posto o governo em descrédito. Pesquisa feita logo depois do atentado de Nice, que matou mais de 80 pessoas, mostra que 67% da população não confia no governo para combater o terrorismo. A oposição pressiona cada vez mais o presidente François Hollande, também questionado por sua reforma na legislação trabalhista. Nos Jogos Olímpicos, o país se destaca no ciclismo e esgrima.



ESTADOS UNIDOS

Primeiro lugar na classificação de países nos Jogos de Londres'2012, o país vive um dos seus mais conturbados períodos eleitorais, recheado de polêmicas, sobretudo em torno do candidato republicano, o milionário Donald Trump Júnior.

Pesquisa recente mostrou que Trump tem 44% das intenções de voto, contra 39% da democrata Hillary Clinton. O republicano tem arrebanhado eleitorado mais conservador a partir de propostas como a ampliação do poder militar americano e a modernização do arsenal nuclear do país. Também chamou imigrantes mexicanos de “criminosos, traficantes e estupradores”, além de sugerir a proibição da entrada de muçulmanos nos EUA e tecer declarações machistas em torno de suas oponentes. O país também vive tensão racial, com o assassinato de negros.

REINO UNIDO
Há pouco mais de um mês, referendo no Reino Unido decidiu pela saída da nação, formada por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, da União Europeia. A escolha tem trazido importantes repercussões econômicas, políticas e sociais. Fortes em modalidades como atletismo, natação, remo e ciclismo, o Reino Unido já enfrenta previsões de encolhimento de seu Produto Interno Bruto (PIB) e do crescimento da economia. Ainda faltam respostas também sobre como será a saída efetiva do bloco e, enquanto isso, país enfrenta crise política, com a saída do primeiro-ministro David Cameron, no último dia 13. Cameron se opôs ao resultado do plebiscito.


VENEZUELA
 Em estado de “emergência econômica”, a Venezuela, que tem no boxe seu ponto forte para os Jogos do Rio, enfrenta crise que tem provocado a escassez de produtos básicos e desabastecimento em geral. O Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a tratar o país como o de “maior inflação do mundo”. O vizinho tem passado por situações como racionamento de energia, longas filas nas padarias e supermercados e registrado aumento de protestos e saques.

Um dos motivos para o aprofundamento da crise foi a queda do preço do petróleo. A oposição pressiona cada vez mais o presidente Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez.

TURQUIA
No último dia 15, houve tentativa de golpe de Estado na Turquia, com a tomada das ruas de Ancara e Istambul por militares. O presidente Recep Tayyip Erdogan deu resposta rápida. A crise política no país, que tem fortes nomes no boxe, lutas e atletismo, se intensificou em dezembro de 2013. Na época, uma operação contra a corrupção prendeu ministros e pessoas ligadas ao então primeiro-ministro Erdogan. De lá pra cá, ele tem empreendido esforços para se manter no poder, repreendendo manifestantes – já são mais de 13 mil prisões preventivas. Há forte repressão a jornalistas e intelectuais contrários ao governo e há denúncias de torturas e estupro de detidos. O conflito deixou 232 mortos. Antes da tentativa de golpe, em 29 de junho, o país também sofreu com ataque terrorista ao aeroporto de Istambul que matou 44 pessoas.

GRÉCIA
O berço das Olimpíadas atravessa forte crise financeira, entrou em colapso no ano passado e, agora, tenta se recuperar a partir da aprovação pelo Parlamento de uma série de novos impostos e medidas de austeridade que visam ao desbloqueio de empréstimos ao país. Ano passado, o governo deu calote no FMI, o que aumentou a crise.

A Grécia enfrenta turbulência econômica desde 2008 e, nos últimos cinco anos, encolheu 25%. Na esteira da crise, o país sofre com demissões, alta de impostos e redução de salários e pensões, protestos e greves.

CUBA
É a primeira participação do país em Jogos Olímpicos depois da reaproximação com os Estados Unidos, que incluíram a restauração das relações diplomáticas entre os dois países. As Olimpíadas e os Pan-americanos sempre foram usados por atletas para fugir do país e pedir asilo político, na expectativa de prosperarem na carreira em nações capitalistas. Apesar da retomada do contato com norte-americanos, Cuba enfrenta crise na economia, causada, em grande parte, pela derrocada da Venezuela, um de seus principais parceiros econômicos.

ITÁLIA
O país europeu pega carona em problema vivido pela Grécia e começa a sentir abalos nas finanças. As ações dos bancos estão caindo e a principal preocupação recai sobre o terceiro maior banco da Itália, o Monte dei Paschi di Siena. Está em negociação com a União Europeia um plano de recapitalização do setor financeiro, pressionado por cerca de 360 milhões de euros em créditos duvidosos. 

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