Jornal Estado de Minas

Dos 41 vereadores de Belo Horizonte, apenas três não devem tentar a reeleição


Eleição mais curta, com menos dinheiro disponível e sem o tradicional blocão de propaganda política para os candidatos às 41 cadeiras da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Ao que tudo indica, as novas regras eleitorais criaram o cenário perfeito para os parlamentares que vão tentar a reeleição. E eles não são poucos. Na capital, 38 dos atuais titulares dos mandatos vão tentar nas urnas o aval para continuar mais quatro anos no Legislativo. Apenas três decidiram que não vão disputar a reeleição.

Especialistas acreditam que o novo formato da campanha pode favorecer quem já é conhecido. Isso vale para os políticos e para as celebridades. Na avaliação de alguns dos atuais vereadores, a expectativa é de que o índice de renovação no Legislativo de BH, que geralmente fica em torno de 40%, diminua.

“O menor tempo de exposição favorece aqueles que já têm alguma densidade eleitoral, os conhecidos”, afirma o professor de direito eleitoral e coordenador das promotorias eleitorais Edson Resende. Por outro lado, segundo o promotor, os candidatos de partidos menores sem muito acesso a recurso financeiro têm dito que o tempo menor de campanha vai favorecê-los.
“Isso porque eles já não tinham mesmo condições de uma campanha longa por falta de dinheiro. A mudança traria os candidatos com mais recursos para o mesmo patamar”, afirmou.

O professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas de São Paulo Cláudio Couto acredita que as regras que entraram em vigor não favorecem a renovação. “Pelo contrário, porque fica difícil lançar nomes novos. A tendência é o lançamento de nomes mais conhecidos do eleitorado, com uma boa base e de celebridades ou subcelebridades, que já têm como trunfo o fato de aparecer em emissoras de rádio, TV ou igreja”, diz.

Para Cláudio Couto, a competição dos atuais vereadores fica mais fácil em relação aos novatos, mas isso não é uma regra. “Quem já é vereador se beneficiará pelo fato de já ter o cargo e usá-lo a favor de sua candidatura. Agora, quem está queimado também tem mais chance de estar exposto”, diz.

Já o pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, o cientista político Lucas Cunha, discorda. Ele acha que vai haver mais dificuldade para a reeleição por conta da insatisfação geral da população com a política.
“Outro fator é que as novas regras vão favorecer candidatos que usarem outras estratégias que não as da política tradicional”, disse.

Para o professor, mesmo estando em melhores condições de visibilidade, os vereadores candidatos à reeleição não devem ser bem avaliados pelo eleitor por causa da insatisfação geral com a política. “Vejo os eleitores de BH insatisfeitos com os representantes, eles vão exigir mais na hora de votar”, prevê.

 

Insatisfação


Entre os atuais vereadores, somente Alexandre Gomes (PSB), Daniel Nepomuceno (PPS) e Ronaldo Gontijo (PPS) não vão disputar a eleição. Depois de seis mandatos, ou 24 anos, Gontijo disse ter resolvido deixar a Câmara por não estar satisfeito com o modelo político. “Não está mais batendo comigo, esse modelo leva o parlamentar a ficar mais como intermediário, quase um despachante. A gente é procurado por tudo e o lado do debate político, dos projetos de lei que eu gosto, está sendo sufocado”, justifica. Gontijo, porém, pode continuar na política. Ele é cotado para ser candidato a vice-prefeito e não nega a vontade de aceitar. “Executivo é diferente, já fui secretário do Barreiro, não tem muito problema.

Não quero mais é ser vereador.”

Também com seis mandatos, o vereador Alexandre Gomes não concorre. Apoiará seu irmão, Arnot Gomes. “Não estou lançando meu irmão, sou contra e continuo contra essa coisa de lançar parente. Ele tem inserção na sociedade, é um homem de bem e, quando ficou sabendo que eu não ia concorrer, começou trilhar esse caminho, mas nunca me falou. Agora que fez essa colocação, como irmão não tenho como não apoiar”, disse. Alexandre Gomes afirmou que decidiu deixar a vida de vereador para se dedicar mais à medicina. Ele atua na geriatria. “Demorei muito (para parar). Tenho uma profissão maravilhosa, que amo muito, e durante algum tempo ficou em latência. De um tempo para cá tenho ficado mais apaixonado pela medicina do que quando me formei, há muitos anos.”

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