Rio, 31 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente em exercício, Michel Temer, podem disputar o segundo turno da eleição presidencial de 2018 - e Temer vencerá. A previsão, ou premonição, a ver, é do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que na segunda-feira reabre os trabalhos depois de duas semanas de recesso. Se o Michel for confirmado presidente, e o governo chegar a 50% de ótimo e bom, ele é que será o candidato do nosso campo, quer queira, quer não, disse. Nesse caso, há uma forte tendência de ir para o segundo turno e ganhar de Lula.
Maia botou a carroça na frente dos bois em entrevista ao
Estadão
, na segunda-feira da semana passada, na cafeteria de um hotel em São Conrado, bairro valorizado em que também mora, na zona sul do Rio. Ele sabe que Michel - como sempre se refere ao presidente em exercício - já declarou e reiterou que não é candidato à reeleição, sabe que há três emplumados tucanos afiando os bicos e que até o seu DEM, caso a presidência da Câmara o faça brilhar, pode almejar remotissimamente a candidatura presidencial em 2018.
Tudo isso será nada se o Michel estiver muito bem, como eu acredito que pode estar; o caminho natural, então, é que os partidos da base construam entre si o pedido para que ele possa continuar, afirmou o deputado. Eu sei que ele vai brigar comigo por estar dizendo isso, mas, olhando o cenário de hoje, e projetando 2018, o Michel vai ter dificuldade em negar esse pleito por parte dos partidos que compõem a base. É a única candidatura que pode unificar a base do governo. Maia tem dito, reiteradamente, estar convencido de que a presidente Dilma Rousseff não voltará. Mas é óbvio, se eu estiver errado, que não serei hostil a governo algum.
O presidente da Câmara chegou ao hotel de São Conrado no final de uma manhã friorenta, a bordo de um vistoso e robusto utilitário de luxo, um dos veículos à sua disposição.
Agenda
A entrevista era seu terceiro compromisso daquela manhã. De lá, sem almoçar, ele iria para mais um - um encontro com o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles (PP), e depois, às 17 horas, voaria para Brasília, no avião oficial a que também tem direito, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Não vou abusar do avião oficial, disse Maia no banco de couro do utilitário que o transportava. Sempre que for possível, vou usar avião de carreira, afirmou.
O voo com Meirelles foi uma coincidência fortuita, para otimizar o uso do avião. Aproveitaram, claro, para afinar a sintonia dos desafios respectivos, decisivos para ambos, especialmente nas primeiras semanas em que Maia vai testar o seu poder.
Para esta primeira semana, ele acha que dá para garantir a votação do projeto de regulamentação da dívida dos Estados, que é o mais importante no curto prazo. Como concorda com o essencial das principais propostas do Michel - novos impostos à parte, se vierem -, fica mais fácil para acelerar o ritmo. Vamos estabelecer uma agenda e produzir o que for combinado, disse.
Quórum existindo, entrará na roda o pedido de cassação do mandato do ex-presidente e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Maia jogou no time dele - e vice-versa -, mas percebeu, há não muito tempo, a hora de pular da canoa. O erro do Eduardo foi ter tido poder demais e não ter sido capaz de entender que tudo é transitório na vida, disse, já à guisa de vá com Deus.
Disputa
O novo presidente contou, ajeitando incômodos cem quilos na cadeira - já foram 88, lá atrás - que estava pensando seriamente em voltar para a iniciativa privada ao final deste quinto mandato. De repente vem uma oportunidade dessas, um poder que muda completamente a minha trajetória política, pelo menos eu vou trabalhar para isso, disse.
Sua explicação para ter ganho a eleição contra Rodrigo Rosso (PSD-DF) - 285 a 170 - é ter acreditado na tese dos deputados Orlando Silva e Carlos Sampaio, de que eu era o único que podia agregar os votos de parte expressiva da oposição. No domingo que antecedeu a eleição, Maia foi a Aécio Neves, o senador ainda algo presidenciável do PSDB. Ou você decide me apoiar, já, ou o Centrão vai ganhar e 2018 está morto para todo mundo, disse a ele, como contou.
Na terça-feira, véspera da eleição, houve um almoço determinante com Aécio e seus colegas senadores Agripino Maia (DEM) e Fernando Bezerra (PSB). Coube a este, em nome do senador tucano, ligar para o já postulante candidato de seu partido, Júlio Delgado, para dizer que não teria o apoio do PSDB. Maia ficou aliviado. Faltava enfraquecer a estratégia de Rosso - criar um constrangimento para tirar o PT de mim. Mais uma vez o presidente em exercício entrou na história: Falei com o Michel, e ele disse que era muito bom conversar com a esquerda, contou o deputado.
Maia acha que o governo passou a acreditar que ele ganharia a eleição na noite da terça-feira, ao constatar que os senadores procurados para interferir a favor de Rosso, na outra Casa, já estavam simpáticos à candidatura dele. A não ser que o Michel fechasse a questão - mas não foi o caso.
Ficha limpa
Maia não tem processos tramitando contra si - e nunca foi condenado por nada. Mas a Lava Jato descobriu, entre as mensagens do celular de Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS, já condenado na primeira instância, uma mensagem em que ele pergunta ao empresário se a doação de 250 vai entrar. E outra, dois dias depois, em que estica a corda: Se tiver ainda algum limite para doação, não esquece da campanha aqui.