Porto Alegre, 05 - O candidato mais jovem à prefeitura de Porto Alegre nas eleições de 2016 tem 31 anos e uma carreira política recente. Fábio Ostermann se filiou ao PSL em dezembro do ano passado e, em pouco tempo, se tornou presidente do partido no Rio Grande do Sul. Antes disso, foi um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL) em 2014, ao lado do paulista Renan Santos, e participou da organização dos protestos contra a corrupção e contra o governo de Dilma Rousseff.
A candidatura de Ostermann não é isolada. Muitas lideranças surgidas nas manifestações pró-impeachment se lançaram na política de olho no pleito de outubro. Em Porto Alegre, por exemplo, há integrantes do MBL que vão concorrer a vereador pelo PSDB e pelo Partido Novo.
No caso de Ostermann, ele é um "ex-MBL". Formado em Direito e mestre em Ciências Sociais, já foi considerado uma espécie de mentor intelectual do grupo. No seu currículo acadêmico, constam passagens por escolas norte-americanas como a Georgetown University. Depois de organizar manifestações em Porto Alegre e São Paulo, ele se desligou do MBL em novembro de 2015, pouco antes de se unir ao PSL.
"A forma como concebi o MBL foi muito mais para ser uma organização que defendesse os valores liberais, e não uma organização anti-petista ou anti-Dilma. Comecei a ser um voto vencido em relação a ter uma pauta mais progressista e menos reacionária", disse à reportagem.
Embora garanta que saiu de forma tranquila, "sem briga", Ostermann critica o rumo tomado pelo movimento que ajudou a criar. Segundo ele, apesar de sempre ter defendido abertamente o impeachment, o MBL, na sua origem, teve um caráter mais ideológico e programático. "Depois, acabou se rendendo muito mais à 'meme política' do que propriamente a uma política fundamentada em ideias e valores. A organização se voltou para a ditadura dos likes", falou.
Como candidato, Ostermann quer se posicionar como uma alternativa à "velha política" tanto da esquerda quanto da direita. Entre suas bandeiras, está o liberalismo econômico, a reorganização dos espaços públicos, a necessidade de recorrer a privatizações e também a defesa das liberdades individuais.
Em Porto Alegre, o MBL optou por apoiar a candidatura a prefeito do deputado federal Nelson Marchezan Junior, do PSDB. "Fizemos um trabalho forte com ele pelo impeachment no Congresso, de ir atrás de votos de indecisos. Além disso, ele defende uma pauta que consideramos muito importante, que é de moralização do gasto público, de evitar aumento de despesas num momento de crise", disse Renan Santos. A liderança nacional do movimento está estudando quais candidatos vai apoiar em outras capitais. Em São Paulo deverá ser João Dória, também do PSDB.
Além desses apoios informais, o MBL lançará as candidaturas de integrantes do movimento. Em São Paulo, por exemplo, Fernando Holiday concorrerá a uma vaga na Câmara de Vereadores, pelo DEM. Em Porto Alegre, Ramiro Rosário tentará se eleger vereador pelo PSDB e Matheus Sperry, pelo Partido Novo. A lista dos candidatos "puro-sangue" do MBL tem no total 43 nomes de diferentes cidades. São todos aspirantes a vereador, com exceção de um vice-prefeito. Alguns aproveitaram as manifestações pró-impeachment do último domingo para fazer corpo a corpo com os eleitores.
De acordo com Renan Santos, será lançado um site com os nomes, propostas e compromissos de cada candidato do MBL. "Eles farão uma carta em vídeo se comprometendo com os valores e compromissos assumidos com os eleitores. Se eles não cumprirem, seremos os primeiros a cobrar", disse.
Ele acredita que o surgimento de candidaturas com a chancela do MBL é algo natural. "Todos os movimentos sociais de massa no mundo todo redundam em força política que necessariamente tem que ser expressa em representação parlamentar. Isso tem que acontecer", defende.
Fábio Ostermann também vê o processo com naturalidade. "As lideranças políticas do futuro precisam emergir de algum lugar. A vivência em um movimento social é uma vivência política, assim como é a vivência em uma associação de classe ou em uma organização sindical. Acho, sim, que pode servir como preparação para uma atuação político-partidária", avaliou.
Para o gaúcho, no entanto, os movimentos sociais não podem sucumbir aos partidos. Segundo Ostermann, as organizações devem pautar as legendas, e não o contrário. Nesse sentido, ele acredita que o pleito deste ano será um divisor de águas. "Acho que vai servir como aprendizado e amadurecimento. Depois das eleições, os movimentos talvez tenham que se reorganizar, se reagrupar, e a partir daí seguir encontrando novas pautas de acordo com seus valores", disse.