Brasília – A Operação Lava-Jato, desencadeada em março de 2014, vai influenciar diretamente, sobretudo nos grandes colégios eleitorais, as eleições municipais. Há dois anos, durante a corrida presidencial que reelegeu Dilma Rousseff (PT), os efeitos foram bem menores porque os investigadores ainda não tinham chegado diretamente ao chamado núcleo político do esquema. A conclusão é de cientistas políticos. Eles acreditam que, agora, a operação pode levar a um maior índice de votos brancos e nulos e até de abstenções por servir de combustível para potencializar um descrédito histórico na classe política brasileira. Apesar de envolver uma gama variada de partidos políticos, todos são enfáticos em apontar o PT como o maior prejudicado pelos efeitos das investigações.
O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Calmon diz, porém, que é preciso levar em consideração as especificidades de cada disputa eleitoral. “Há uma dúvida, no entanto, em relação a essa influência no voto de cada eleição específica. Os efeitos, por exemplo, podem ser ignorados na disputa no Recife ou em Curitiba porque ambos os candidatos estão igualmente envolvidos, falando de maneira hipotética.”
Calmon acredita que a Lava-Jato será responsável por abrir uma grande oportunidade para grupos que contestam a estrutura política atual no país. “Obviamente, vai existir influência na medida em que boa parte da elite política brasileira está diretamente envolvida em episódios relacionados de alguma maneira à Lava-Jato.
IMAGEM O doutor em ciência política pela UnB Leonardo Barreto avalia que o PT começou a pagar a conta da Lava-Jato antes mesmos das eleições.
Barreto acrescenta que a Lava-Jato já produziu um fato importante para as eleições. “Uma inferência indireta é que os desdobramentos da operação são responsáveis por fazer o Supremo Tribunal Federal (STF) adotar postura contrária ao financiamento privado de campanha. É sem dúvida um filhote da Lava-Jato.
Em 2006, os efeitos do mensalão não foram suficientes para impedir a reeleição do presidente Lula. A avaliação é de que a impressionante força política do petista, na época, e um governo muito bem avaliado reduziram a quase nada os desdobramentos do escândalo de compra de apoio parlamentar. Já os candidatos proporcionais em 2006 citados na Operação Sanguessuga amargaram derrotas políticas.
A investigação do núcleo político da Lava-Jato começou em março de 2015, quando o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, apresentou 28 petições ao STF para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 eram titulares de foro por prerrogativa de função. A expectativa é de que a Lava-Jato tenha maior influência em grandes cidades. “Normalmente, as eleições municipais se concentram em temas locais. Os assuntos nacionais quase não aparecem. É mais provável que apareça com mais força nos grandes colégios”, atesta Barreto.
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