Brasília – O futuro político da presidente afastada Dilma Rousseff será definido a partir do próximo dia 25, em uma sessão que deve se estender pelo fim de semana. O início do julgamento será em uma quinta-feira, com a inquirição das testemunhas. Na segunda-feira, 29, a própria Dilma vai ao Senado se pronunciar e responder a questionamentos, com o direito de permanecer em silêncio. Não há data para o julgamento acabar. Senadores estimam que ele dure sete dias e termine na quarta-feira, 31. Como nas últimas votações, cada parte tentará impor um ritmo diferente à sessão. A defesa tentará prolongar o máximo possível, enquanto a acusação tentará acelerar o processo.
O governo tem pressa para que o presidente interino, Michel Temer, esteja como efetivo na viagem que fará à China, para participar da reunião da cúpula do G20, em 4 e 5 de setembro. Do Palácio do Planalto, a orientação é para fazer a sessão andar rápido. Integrantes do núcleo duro do governo, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, orientaram o senador Romero Jucá (PMDB) a articular formas de encurtar o julgamento. A acusação, em seu papel, retirou uma das três testemunhas que havia arrolado. A defesa, por sua vez, arrolou seis pessoas para serem interrogadas.
A tendência é de que senadores governistas reduzam o tempo de suas falas ou evitem falar. No primeiro dia, que terá início com a oitiva das testemunhas da acusação, cada senador tem três minutos para fazer as perguntas e para a réplica. O mesmo tempo é concedido às testemunhas. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que preside a sessão e o Senado para o processo de impeachment, poderá fazer questionamentos quando quiser. O ministro poderá interromper a sessão e recomeçá-la na sexta, 26, às 9h, e então seguir até terminar as testemunhas.
No dia 29, Dilma, que confirmou a ida ao Congresso, terá meia hora para se pronunciar e depois será questionada. A presidente, afastada desde maio, não é obrigada a responder às perguntas. Dilma havia sido aconselhada a ir. Ontem, apoiadores da petista avaliaram que a presença dela no Senado pode contribuir para reverter posições. “Mostra que ela não tem medo. E tem pontos que ela pode esclarecer melhor do que ninguém”, defendeu o líder do PT, senador Humberto Costa (PE).
FIM DE SEMANA
A definição do cronograma ocorreu ontem pela manhã, em reunião de Lewandowski com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com os líderes. O ministro não queria que a sessão se estendesse ao longo do fim de semana, para evitar questionamentos, porque tradicionalmente não há sessões aos sábados e domingos no STF nem no Senado. No encontro, senadores da base de Dilma insistiram para o julgamento ser interrompido na sexta mesmo e depois retomado, enquanto os parlamentares da base de Temer brigaram pelo contrário.
“Quem acha que isso vai se encerrar na quinta e na sexta, está equivocado. Vamos trabalhar sábado e domingo. Lutamos para que isso não acontecesse, mas a pressão da base governista é impressionante”, afirmou o líder da minoria, senador Lindbergh Farias (PT-RJ). A base de Dilma queria encerrar todos os dias à noite as sessões e retomar segunda. “Eu não creio que eles (governistas) vão conseguir abrir mão de tantas perguntas”, disse Lindbergh.
Na votação da pronúncia, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) falou em nome dos parlamentares do PSDB, mas disse que isso não ocorrerá. “Eu acho que aqueles que quiserem falar deverão se manifestar. Como a outra era uma votação intermediária, a proposta dos senadores era que eu falasse em nome de todos”, disse.