Brasília – Não é apenas a mudança do conceito de interino para efetivo de Michel Temer que será alterado após a conclusão do processo de impeachment do Senado Federal, previsto para o fim deste mês. É praticamente certa – não necessariamente imediata – uma mudança de rostos e estruturas de poder na Esplanada dos Ministérios para marcar o novo momento da gestão do peemedebista. Nomes como os do ministro da Saúde, Ricardo Barros, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, devem ser substituídos. Temer deve efetivar Marx Beltrão no Ministério do Turismo. E uma nova configuração no segundo e terceiro escalões deve acontecer para acalmar os partidos que davam apoio ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
As sucessivas gafes cometidas por Barros já fizeram com que a substituição dele fosse assimilada pelo principal comandante partidário, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O titular da Saúde já falou mal do Sistema Único de Saúde (SUS), propôs a criação de um plano pago para atender a população carente e afirmou que os homens vão menos ao médico porque trabalham mais que as mulheres. Nogueira enfrentou a ira de setores da legenda por ter apoiado um nome que não era, inicialmente, favorável ao impeachment. Concorda agora em promover a troca, mas não abre mão de que a pasta continue na cota do partido.
O PP, inclusive, entrou em uma disputa aberta com o PSC, do líder do governo André Moura (SE), pelo segundo escalão da Caixa Econômica Federal.
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Ausente no encerramento da Olimpíada, Temer manda carta a premier japonêsTemer assumiu Presidência sem ter votos, diz HaddadNa TV, Temer vai citar 'herança' e otimismoNão vou dar esse presente para eles, diz Dilma ao negar renúnciaCoimbra é um dos que aposta que, passado o impeachment, o antigo centrão, que deu apoio a Cunha durante a gestão à frente da Câmara, terá de ser atendido com mais cargos. “É inevitável que essas legendas ganhem mais visibilidade e prestígio para que o governo Temer tenha estabilidade congressual”, explicou o coordenador do Ibmec. A primeira mudança, inclusive, já foi confirmada, com a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A pasta, que foi fundida ao Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Osmar Terra, voltará a ter uma estrutura própria e será administrada pelo Solidariedade, partido presidido pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP).
Essa parceria não será restrita apenas ao centrão, mas às legendas mais tradicionais, na opinião do professor de ciência política do Ibmec/MG Oswaldo Dehon. “Legendas como o PSDB, por exemplo, terão um peso maior na administração, a partir desta segunda fase de gestão”, reforça.
Para Márcio Coimbra, essa parceria poderá ser benéfica para o governo. “O PMDB é um partido que tem corpo, é operacional, vota. Mas não tem cabeça, não formula nada. Já o PSDB tem cabeça, projeto de país, planejamento estratégico. Mas não tem o mínimo poder de articulação”, afirmou o coordenador do MBA. Segundo ele, a principal prova da ausência de capacidade de formulação do PMDB é que o partido “terceirizou” as principais pastas estratégicas da Esplanada: Relações Exteriores está com o PSDB; Fazenda com o PSD; Agricultura com o PR; Educação com o DEM. “As pastas operacionais, como Integração Nacional e Casa Civil, est ão nas mãos do PMDB”, disse Coimbra.
Ambições políticas em segundo plano
O professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Barbosa acredita que a principal virtude que o presidente em exercício, Michel Temer, precisará ter, a partir do momento em que for efetivado, será a coragem.
Por isso, na visão do professor, é fundamental que Temer não seja, de fato, candidato ao Planalto em 2018. “Tem de ter uma postura semelhante a de Itamar Franco em 1994, que abriu mão de ambições pessoais para fazer o que o país precisava naquele momento”, comparou. O professor de ciência política do Ibmec/MG Oswaldo Dehon declarou que, só assim, será possível recolocar a economia nos trilhos.
O coordenador do MBA de Ciência Política Márcio Coimbra acredita que Temer terá condições de pacificar as relações congressuais e até encaminhar algumas medidas econômicas importantes, embora pontuais. “Não vejo Temer e o PMDB com ânsias reformistas, esse não é o perfil deles. As reformas que conseguirem fazer – sejam elas trabalhistas ou da Previdência – têm muito mais a ver com a necessidade de diminuição do tamanho do estado, em ajuste fiscal, do que uma mudança de visão estratégica de país”, explicou.
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, afirma que o governo deve mandar, ainda este ano, a reforma da Previdência para o Congresso. Ele, que foi líder do PMDB durante o governo Fernando Henrique Cardoso, espelha-se no primeiro mandato do tucano que, segundo ele, foi basicamente congressual. “Nós quebramos o monopólio da Petrobras, das telecomunicações, encaminhamos a Reforma da Previdência. Vencer resistências setoriais é mais complicado. Temos noção disso e também sabemos que o Congresso não é apenas um mero carimbador das propostas que acharmos corretas”, completou Geddel.
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