Jornal Estado de Minas

Aliados de Renan tentam convencer Dilma a renunciar

Brasília – Aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), levaram à presidente afastada Dilma Rousseff (PT) na semana passada um assunto caro à petista: a renúncia antes da votação do impeachment no plenário da Casa. A estratégia negociada nos bastidores do mundo político brasiliense seria posta em prática na ida dela ao Congresso na segunda-feira, 24 horas antes do desfecho do processo. Os termos do acordo chegaram a ser detalhados.

A partir da proposta apresentada a Dilma, ela, durante o discurso no plenário do Senado, anunciaria a renúncia ao cargo de presidente da República. Com o gesto da petista, caciques peemedebistas mais próximos tentariam evitar a soma de 54 votos pelo impeachment na terça-feira, o dia marcado para a votação. Os fiadores da negociação chegaram a considerar que Dilma aceitaria os termos.

Na cabeça dos aliados da presidente, a renúncia seria – ao contrário do que a própria petista considerava –, uma saída honrosa, que na pior das hipóteses garantiria a manutenção dos direitos políticos, caso o processo do impeachment fosse derrubado no plenário. Um dos argumentos era de que, no futuro, Dilma pudesse sair do PT, buscar filiação no PDT e até mesmo voltar a se candidatar em 2018. Interlocutores de Renan chegaram a falar de uma disputa ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

Distância Nos últimos dias, os aliados de Dilma viram os caciques petistas buscarem distância do processo de impeachment e do martírio da presidente afastada. Vide a recusa da Executiva do PT, que, por 14 votos a dois, decidiu enterrar a proposta de Dilma de realizar um plebiscito de novas eleições.
A ação de Rui Falcão, presidente da legenda, selou de maneira deselegante a relação tempestuosa entre os dois.

Originária do PDT, Dilma nunca teve uma convivência pacífica com os petistas. No primeiro ano do mandato, ainda em 2011, a imagem de “faxineira” passou a ser vinculada à da presidente por ela ter tirado do ministério parte da tropa indicada pelo antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Os movimentos irritaram a cúpula do partido, que chegou a considerar que Dilma jogava contra o ex-presidente.

Nos últimos meses, o mais fiel escudeiro de Dilma foi o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. O hoje advogado da presidente afastada foi atacado por petistas ao longo da gestão por supostamente não conseguir segurar a atuação da Polícia Federal contra os integrantes da Esplanada. A crítica, por mais estapafúrdia, foi tão devastadora que Cardozo chegou a colocar o cargo à disposição da presidente.

Ataques Os dois movimentos – a decisão da executiva e a fritura contra Cardozo –, caso combinados no tempo e no espaço, mostram como os petistas trataram Dilma e os principais assessores com certo desprezo e, por que não, em alguns momentos, ódio. No passado, tais ataques chegaram mesmo a influenciar a militância, que só voltou às boas com Cardozo recentemente, quando virou advogado.

Além de Cardozo, Dilma se cercou de pessoas que nunca foram unanimidade dentro do partido, como Aloizio Mercadante e Kátia Abreu. O apoio público à presidente deu-se mais por uma simples tentativa de manutenção dos cargos na Esplanada dos Ministérios do que afinidade política.
A própria Dilma nunca esperou muito mais do PT, até pela forma como comandou o governo ao longo de seis anos.

A tentativa de negociação com Dilma sobre a possibilidade de renúncia foi interrompida com a negativa da presidente para a proposta. A petista teria que fazer um exercício para explicar algo que sempre negou e, além disso, não teria a garantia completa de uma vitória no plenário 24 horas depois da renúncia. Para quem acompanhou as tratativas, a recusa inicial inviabilizou qualquer retomada de um eventual acordo, que levaria tempo para ser maturado por senadores peemedebistas..