Jornal Estado de Minas

Risco de descer do pódio

Passada a Olimpíada do Rio, investimentos no esporte deverão sofrer cortes em 2017


Assim como para atletas de alto rendimento os Jogos Olímpicos representam o fim de um ciclo de intensa preparação, o término da Olimpíada do Rio de Janeiro também representa uma mudança brusca nos gastos públicos com esporte. Depois de sete anos em que o orçamento do Ministério do Esporte teve aumentos constantes – período em que o país recebeu também a Copa do Mundo de 2014 –, a perspectiva para o ano que vem é de redução nos gastos da pasta.

Especialistas que acompanham discussões sobre os investimentos para os próximos anos na Comissão do Esporte na Câmara dos Deputados alertam para um cenário de menos dinheiro disponível e o encerramento de programas voltados para atletas de alto rendimento. “Vai haver cortes bruscos. Neste ano, cerca de 70% do orçamento estava direcionado à Olimpíada. Com o fim dos Jogos e sem grandes eventos no horizonte, o valor passará por reajustes significativos”, avaliou o presidente da comissão, deputado César Halum (PRB-TO).

Em 2009, quando o Brasil foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos, o total gasto pelo ministério naquele ano foi de R$ 580 milhões. Seis anos depois, a verba destinada quase quadruplicou, alcançando R$ 1,9 bilhão no ano passado. Neste ano, até o dia 22 de agosto, um dia após o encerramento da Olimpíada do Rio, já foram gastos R$ 973 milhões e a previsão é de que orçamento até dezembro fique próximo do valor gasto em 2015, segundo a pasta do Esporte.

Para 2017, as perspectivas são pouco animadoras. “A redução no montante será um grande desafio para o setor, que terá um choque a partir do próximo ano.

A única opção será racionalizar os recursos públicos destinados ao esporte. Com um cenário de crise econômica e um déficit alto nas contas públicas, talvez o melhor caminho seja canalizar os recursos para o esporte educacional”, avalia Lindberg Cury Júnior, secretário da Comissão do Esporte no Parlamento.

REFORÇO NA BASE No Congresso e no Ministério do Planejamento, o cenário pós-Olimpíada tem sido discutido com preocupação nos últimos meses e ganhou força entre os responsáveis por elaborar o orçamento a proposta de focar os investimentos no esporte de base, ligado às escolas de ensino fundamental e médio. O orçamento deve ser fechado somente no fim do ano, mas alguns programas voltados para atletas de alto rendimento já são dados como encerrados e as federações vão sofrer duros cortes orçamentários.

“Será preciso brigar para manter outros programas, como o Atleta na Escola, que foca nos investimentos de base. Vamos discutir o retorno da obrigatoriedade de educação física como disciplina obrigatória em todas as escolas e também mexer nas verbas provindas da Loteria Mineira. Hoje, uma parte muito pequena vai para o esporte escolar”, diz Halum.

CORTE E INSATISFAÇÃO As más notícias para atletas, técnicos e torcedores que esperam ver o Brasil entre as potências esportivas mundiais começaram bem antes da Rio’2016. Em abril, o Ministério do Esporte interrompeu o lançamento de editais que previam investimentos pós-Olimpíada da ordem de R$ 150 milhões. O corte gerou insatisfação entre federações, que cobraram investimentos regulares para desenvolver as modalidades esportivas.

Além dos cortes de verbas do ministério, as federações já trabalham com o cenário de redução para 2017 dos investimentos de grandes empresas.
Entre 2009 e 2016, empresas como a Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e Correios despejaram grandes montantes para estimular os esportes olímpicos. Algumas empresas esperam manter os patrocínios até o ano que vem, outras têm orçamentos incertos até agora e devem reavaliar os gastos..