A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) dá nesta segunda-feira a última cartada na tentativa de convencer pelo menos 28 dos 81 senadores que não cometeu crime de responsabilidade que justifique o seu impeachment.
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Na primeira vez em que ela estará no Congresso desde o seu afastamento, há 110 dias, aliados da petista defendem um discurso duro e forte, justificando que só está respondendo a um processo de afastamento porque não cedeu às pressões para barrar as investigações da Operação Lava-Jato, que desbaratou um esquema de pagamento de propina a políticos de diversos partidos a partir de contratos da Petrobras, maior estatal brasileira.
A orientação do grupo ligado a Dilma e do ex-advogado-geral da União e responsável pela defesa dela, José Eduardo Cardozo, é que a petista não caia em provocações feitas por senadores adversários.
Ainda há dúvida sobre o uso das expressões “golpe” ou “golpista” durante o pronunciamento. Mas Dilma Rousseff recebeu orientações para citar o áudio no qual o senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirma a Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que é preciso mudar o governo para “estancar a sangria” da Lava-Jato e impedir o avanço das investigações.
A petista também deverá apelar para o emocional ao relembrar seu passado de militante de esquerda e a perseguição pela ditadura militar, destacando que mais uma vez está sendo julgada por um crime que não cometeu.
O teor do discurso da presidente afastada foi discutido na semana passada com Lula, que chegou ontem à noite a Brasília e esteve reunido com ela Ainda não se sabe se ele permanecerá no plenário ou em sala separada durante o discurso de Dilma.
QUESTIONAMENTOS
Depois do pronunciamento, representantes da acusação, defesa e senadores poderão fazer perguntas à presidente, mas ela não é obrigada a respondê-los.
Antes de entrar no Senado, Dilma deverá falar para manifestantes contrários ao impeachment que pretendem fazer um ato na Esplanada dos Ministérios. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) está programando atos na Esplanada e no Palácio da Alvorada, residência de Dilma.
No dia 16, Dilma leu uma mensagem aos senadores no qual alegou ser inocente das acusações de ter cometido crime de responsabilidade ao adotar as chamadas “pedaladas fiscais” e editar decretos sem a autorização do Congresso nacional, e defendeu a realização de um plebiscito para ouvir a população brasileira sobre a possibilidade de antecipação da eleição presidencial – marcada para outubro de 2018 – como forma de tentar salvar seu mandato.
Mas a avaliação é que o discurso não alterou a tendência de votos no Senado, que amanhã deve confirmar a cassação do mandato da petista.
A presença da presidente afastada no Senado demandará uma estrutura especial. Além de parte do gabinete do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), estará à disposição da petista a tribuna de honra do plenário, onde poderão ser acomodados seus auxiliares e aliados, entre eles seu principal padrinho político, o ex-presidente Lula.
A lista de pessoas que vão acompanhar Dilma na sessão tem ainda 18 ex-ministros – como Jaques Wagner (Casa Civil) e Aloizio Mercadante (Educação) –, presidentes de partidos – entre eles Rui Falcão (PT) e Carlos Lupi (PDT) – e assessores que a acompanham no Palácio da Alvorada.
PEDALADA FINAL
Vinte quatro horas antes de um dos momentos mais aguardados dos últimos anos da política nacional, a presidente afastada Dilma Rousseff dedicou a manhã de ontem aos exercícios físicos.
O percurso de bicicleta nos arredores do Palácio da Alvorada, no entanto, foi além do habitual.