Os senadores tomarão hoje uma das decisões mais importantes da história republicana do Brasil ao decidir o destino do mandato de Dilma Rousseff. Depois do longo discurso da presidente afastada no plenário, que durou 46 minutos, e do interrogatório feito por 49 parlamentares ontem, hoje haverá novo embate entre defesa e acusação e, em seguida, a votação final do impeachment, que tende a ser aprovado para encerrar cinco anos e meio de poder de Dilma e 13 anos do seu partido, o PT, que comanda o país desde 2003, em meio às acusações de crime de responsabilidade provocado pelas pedaladas fiscais e impulsionado pelas crises política e econômica, como corrupção na Petrobras, inflação e desaceleração do crescimento.
Leia Mais
Dilma 'desmontou o golpe', diz LindberghPara deputado Silvio Costa (PTdoB), Dilma está sendo torturada pela 2ª vezDilma leva marmita com minissuspiros ao SenadoApós questionarem Dilma, senadores vão às redes sociais para comentar respostasEm defesa no Senado, Dilma volta a falar em golpe e ataca governo Temer Característica de meu governo foi ampliar gastos em educação, diz DilmaDefesa de Dilma já prepara ação no STF“Hoje não há prisão ilegal, não há torturadores, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência, mas continuo aqui olhando de cabeça erguida para meus julgadores.
A presidente afirmou que seu processo começou porque a elite e seus opositores não se confirmaram com a derrota sofrida para ela em 2014. Ela lembrou que o PSDB tentou pedir a recontagem dos votos e impugnou suas contas na Justiça Eleitoral. Depois de sua posse, segundo ela lembrou, dois meses depois começaram as discussões sobre a possibilidade de impeachment.
O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) foi nominalmente citado como instrumento para um golpe. De acordo com ela, o processo só foi aberto por ela ter se recusado a aceitar uma chantagem do peemedebista, que lhe pediu para convencer os petistas a não votarem pela abertura de um processo de cassação contra ele. “Contrariei interesses e por isso pago um preço alto”, disse. Em referência à Operação Lava-Jato, a presidente também afirmou que foi punida por não evitar a sangria de setores da classe política em investigações de corrupção. “Encontraram na pessoa do ex-presidente da Câmara o vértice de sua aliança golpista”, disse.
DITADURA E CÂNCER
Dilma se emocionou por duas vezes ao ler o discurso. Na primeira, ela falou que seu governo deu autoestima aos brasileiros, mostrando que era possível o país realizar a Copa do Mundo, a Olimpíada e a Paralimpíada. Na segunda, ela lembrou que por duas vezes viu a face da morte: a primeira quando foi torturada por horas seguidas e a segunda quando lutou e foi curada de um câncer, em 2010. “Hoje, só temo a morte da democracia. Respeito meus julgadores, não nutro rancor por aqueles que votarão pela minha destituição. Serei eternamente grata aos que votarem a favor”, disse.
Dilma se comparou aos ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek. Segundo ela, sempre que presidentes eleitos contrariavam interesses da elite econômica, foram tramadas conspirações no Brasil e na América Latina, “resultando em golpes de Estado”. De acordo com ela, desta vez, a articulação resultará na eleição indireta de um “governo usurpador”. A petista afirmou que a gestão do seu sucessor “ameaça” os direitos conquistados pelos brasileiros em áreas como a Previdência e os benefícios para o trabalhador.
“Hoje, mais uma vez ao serem feridos nas urnas setores da elite política e econômica, nos vemos diante do risco de ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita, mas agora é a violência moral, usando pretextos da Constituição para dar uma pretensa aparência de legitimidade para um governo que assume sem o amparo das urnas”, afirmou.
A presidente afirmou que apoiadores do seu principal oponente nas urnas, o senador Aécio Neves (PSDB), fizeram de tudo para desestabilizar seu governo. Dilma disse que sua gestão foi prejudicada pelas chamadas pautas-bomba no Parlamento. Segundo ela, o “golpe” que está se desenhando não vai solucionar a crise brasileira, mas sim agravá-la. “Peço que façam justiça a uma presidente honesta que jamais cometeu qualquer ato ilegal.”
.