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Estado de Minas

Votação de impeachment pelo Senado decide hoje os rumos do Brasil

Após cinco anos e meio no Palácio do Planalto e mais de 100 dias afastada, Dilma Rousseff alega inocência perante parlamentares, que definem o futuro do país entre ela e Michel Temer


postado em 30/08/2016 06:00 / atualizado em 30/08/2016 07:34

Os senadores tomarão hoje uma das decisões mais importantes da história republicana do Brasil ao decidir o destino do mandato de Dilma Rousseff. Depois do longo discurso da presidente afastada no plenário, que durou 46 minutos, e do interrogatório feito por 49 parlamentares ontem, hoje haverá novo embate entre defesa e acusação e, em seguida, a votação final do impeachment, que tende a ser aprovado para encerrar cinco anos e meio de poder de Dilma e 13 anos do seu partido, o PT, que comanda o país desde 2003, em meio às acusações de crime de responsabilidade provocado pelas pedaladas fiscais e impulsionado pelas crises política e econômica, como corrupção na Petrobras, inflação e desaceleração do crescimento.

Em sua última oportunidade de defesa no Senado, Dilma voltou a afirmar, como já havia dito em seu último pronunciamento, que o Brasil está prestes a ter um “golpe” consumado e que está sendo julgada pelo “conjunto da obra” de seu governo, porque não cometeu nenhum crime. A petista se emocionou e pediu aos senadores que votem contra o impeachment e pela democracia. Ela lembrou ter sido eleita com 54,5 milhões de votos para cumprir um programa que previa “nenhum direito a menos”. Acompanhada por um grupo de parlamentares do PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do cantor e compositor Chico Buarque, que a assistiram das galerias, Dilma disse ter ido pessoalmente se defender para olhar nos olhos de seus julgadores. Ela comparou o momento à época em foi condenada por um tribunal de exceção durante a ditadura militar. Disse ter ficado de cabeça erguida na ocasião,  quando seus juízes se abaixavam para não ser reconhecidos.

“Hoje não há prisão ilegal, não há torturadores, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência, mas continuo aqui olhando de cabeça erguida para meus julgadores. Sofro de novo o sentimento de injustiça. Receio que a democracia seja condenada comigo”, afirmou. Dilma disse não ter dúvida de que, mais uma vez, todos serão julgados pela história. Ela se dirigiu especialmente aos parlamentares de oposição para afirmar que está sendo aberto um precedente que poderá ser usado contra todos os presidentes no futuro. Segundo ela, tal hipótese é a de condenar um chefe do Executivo sem que ele tenha cometido crime de responsabilidade. “Pensem no terrível precedente que essa decisão pode abrir para outros presidentes, governadores e prefeitos atuais e futuros. Condenar um inocente, esse é o precedente”, argumentou.

A presidente afirmou que seu processo começou porque a elite e seus opositores não se confirmaram com a derrota sofrida para ela em 2014. Ela lembrou que o PSDB tentou pedir a recontagem dos votos e impugnou suas contas na Justiça Eleitoral. Depois de sua posse, segundo ela lembrou, dois meses depois começaram as discussões sobre a possibilidade de impeachment.

O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) foi nominalmente citado como instrumento para um golpe. De acordo com ela, o processo só foi aberto por ela ter se recusado a aceitar uma chantagem do peemedebista, que lhe pediu para convencer os petistas a não votarem pela abertura de um processo de cassação contra ele. “Contrariei interesses e por isso pago um preço alto”, disse. Em referência à Operação Lava-Jato, a presidente também afirmou que foi punida por não evitar a sangria de setores da classe política em investigações de corrupção. “Encontraram na pessoa do ex-presidente da Câmara o vértice de sua aliança golpista”, disse.

DITADURA E CÂNCER

Dilma se emocionou por duas vezes ao ler o discurso. Na primeira, ela falou que seu governo deu autoestima aos brasileiros, mostrando que era possível o país realizar a Copa do Mundo, a Olimpíada e a Paralimpíada. Na segunda, ela lembrou que por duas vezes viu a face da morte: a primeira quando foi torturada por horas seguidas e a segunda quando lutou e foi curada de um câncer, em 2010. “Hoje, só temo a morte da democracia. Respeito meus julgadores, não nutro rancor por aqueles que votarão pela minha destituição. Serei eternamente grata aos que votarem a favor”, disse.

Dilma se comparou aos ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek. Segundo ela, sempre que presidentes eleitos contrariavam interesses da elite econômica, foram tramadas conspirações no Brasil e na América Latina, “resultando em golpes de Estado”. De acordo com ela, desta vez, a articulação resultará na eleição indireta de um “governo usurpador”. A petista afirmou que a gestão do seu sucessor “ameaça” os direitos conquistados pelos brasileiros em áreas como a Previdência e os benefícios para o trabalhador.

“Hoje, mais uma vez ao serem feridos nas urnas setores da elite política e econômica, nos vemos diante do risco de ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita, mas agora é a violência moral, usando pretextos da Constituição para dar uma pretensa aparência de legitimidade para um governo que assume sem o amparo das urnas”, afirmou.

A presidente afirmou que apoiadores do seu principal oponente nas urnas, o senador Aécio Neves (PSDB), fizeram de tudo para desestabilizar seu governo. Dilma disse que sua gestão foi prejudicada pelas chamadas pautas-bomba no Parlamento. Segundo ela, o “golpe” que está se desenhando não vai solucionar a crise brasileira, mas sim agravá-la. “Peço que façam justiça a uma presidente honesta que jamais cometeu qualquer ato ilegal.” 


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